Fico imaginando que praticamente todo jornalista tem uma mania: antes de sair do local de trabalho à noite, - hoje do computador, às vezes não necessariamente na redação -, dar a última olhadinha nas manchetes dos sites. É algo que meio sintomático, como não levar furo, não ficar sem saber da última e exercitar aquilo que vem do sangue, da veia mesmo: adrenalina por fatos. Antes eram nos rádios ou nas máquinas de telex, do fax...
E nessa "rotina" abri o site Hipernotícias quando me deparei com a manchete da morte do jornalista João Marinho Filho. Olhei a data. Certifiquei-me se não estava enganado. Era ele mesmo e a notícia era verdadeira.
Somos de uma época onde exercitar jornalismo era algo muito complexo, pois burilávamos com as condições impostas, que eram (dos mais "recentes" 25 anos) ainda o uso do clichê - o que em Mato Grosso convivi no Jornal do Dia e no Diário de Cuiabá. Somos de um período que nada conseguia impedir que o texto fosse bem construído, as informações consistentes e os resultados nos davam o maior prazer em ter conseguido vencer etapas. Máquina de escrever, um gravador enorme e laudas (quem se lembra?) que ainda guardo até hoje como relíquia para mostrar aos filhos (que conviveram com isso) e certamente aos meus futuros netos.
Faço esse breve comentário pessoal pois imagino que partilho de um seleto grupo de jornalistas que viveram uma época de história na qual o companheiro João Marinho teve um papel importante para a classe. Ele foi, nos idos dos anos 80 presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso e, ao que me recordo, ainda na Galeria GG, na rua Barão de Melgaço, no Centro de Cuiabá, conduzia a instituição que perdura na história.
Marinho teve seu papel importante, numa época em que os cursos de formação de jornalismo concentravam-se no Sul e Sudeste do país, e ele por aqui conduziu sua parte permitindo que a classe se mantivesse “existente”.
Antes de Marinho o Sindicato da categoria contou com nomes que honram a nossa classe, como José Eduardo do Espírito Santo (que também morreu de forma súbita), Pedro Rocha Jucá, Edipson Morbeck, Rubens de Mendonça e Paulo Zaviask, Ronaldo de Arruda Castro. Depois Regina Deliberai, Selma Alves, Dora Lemes, Araisa Ferreira, Alecy Alves, Santíssima (dentre outras !) – estas que marcaram história pela conquista da regulamentação profissional e que empunharam a bandeira com a Regina. Os mais recentes e atuais.
O conjunto da história é muito complexo pois além de ser um sindicato o é ainda de jornalistas, onde raramente conseguem resolver suas questões pessoais para resolverem questões dos outros, da sociedade e da história. Por isso, é justo que o nome de João Marinho embrenhe-se ainda mais nessa teia.
O último contato que tive com o Marinho foi no Choppão, há pouco tempo – talvez 50 dias, quando eu estava com minha esposa Márcia e ele com familiares. Falamos rapidamente de vida interiorana. De se quietar. De viver e deixar as coisas para a gurizada que está ai conquistando seu espaço e que igualmente convivendo com uma transformação - mas que à velocidade da luz. Só não imaginava que pretendia ir tão rápido.
A realidade é que estamos nos indo. E o que nos resta almejar é que, o que de bem aqui fizemos (e é por isso que a história precisa ser sempre contada), nos permita contemplar esses feitos mais adiante. Há de se esperar de uma prosa nova com o amigo João Marinho! Que siga em paz companheiro!