O artigo abaixo foi publicado originalmente em 20 de julho de 2009, contudo o tema pouco mudou e atendendo a pedidos, é 'republicado'.
A Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso, que até o mês passado vinha apresentando boletins com apreensões das mais diversas formas, incluindo calcinhas, roupas, apetrechos de pescas, mas também relatando atendimento a ocorrências de acidentes nas estradas, pelo visto volta ao seu foco principal de atividade.
O boletim distribuído hoje contabiliza que ocorreram 36 acidentes nas BRs de Mato Grosso. Cinqüenta e sete veículos e cento e três pessoas se envolveram nos acidentes. Dezesseis pessoas ficaram feridas e uma pessoa morreu.
Participaram das atividades 117 Policiais Rodoviários Federais no plantão do fim de semana nos 17 postos de fiscalização que a PRF tem em Mato Grosso. Ao todo, foram fiscalizados 1.039 veículos, 19 veículos foram apreendidos, 08 carteiras de motorista foram recolhidas, 17 pessoas foram detidas, 01 apreensão de madeira, 01 apreensão de mercadoria, 06 apreensões de pescado e 01 apreensão de animal silvestre foram efetuadas, 14 usuários das rodovias receberam auxílio das viaturas em ronda e 322 multas de trânsito foram emitidas.
A conduta da PRF em apreender produtos de crime contra o fisco estadual (falta de nota fiscal, por exemplo) certamente impede a instituição a exercitar o que tem por dever principal, que é zelar pelas vidas nas estradas. É comum se ouvir de patrulheiros a deficiência de recursos humanos ao longo das rodovias principalmente na região Sul, no trecho entre Cuiabá/Rondonópolis/Alto Araguaia.
É rotina na região os acidentes envolvendo bi-trens carregados de soja ou milho. Entre dezembro de 2008 até junho passado, ao menos dez pessoas morreram envolvendo tais tipos de transporte. Para quem trafega na região a culpa é relacionada ao consumo de bebidas alcoólicas, excesso de trabalho e até falta de maior experiência por parte dos motoristas - quase sempre jovens.
Recentemente um acidente na Serra da Petrovina um motorista, logo após ter tombado o caminhão que dirigia, foi levado pelo empregador para "pegar" outro veículo que deveria seguir viagem. Ou seja, sequer saiu do susto.
Em dezembro (2008), um acidente na Serra do Lajeadinho, em Alto Garças, onde duas crianças morreram quando um bi-trem tombou na descida e colheu de frente um caminhão que transportava uma mudança com 8 pessoas (mãe, seis filhos e o motorista) pode ter tido como fator principal o fato do motorista ter consumido bebida álcoolica em um bar localizado ao lado da empresa Cargil, no começo da serra.
Até hoje, ao que se sabe, o acidente não foi investigado. A família, que estaria de mudança para Rondônia, foi levada de volta para o interior de São Paulo.
O excesso de velocidade, o alto fluxo de caminhões carregados e o abuso de outros trafegando vazios não são fiscalizados pela PRF. O tráfego em fila dupla, e até tripla, nas subidas das serras São Vicente e Petrovina é constante, forçando o tráfego a baixar a 20 km/hora, quando muito 40km/h. Depois, na descida, o alopramento a mais de 110km/h. É só perguntar aos motoristas de ônibus, grandes vítimas de tais atos.
O que deve se levar em conta é que o papel fundamental da Polícia Rodoviária Federal deve ser zelar, cuidar, dos milhares de motoristas que trafegam pelas estradas federais em Mato Grosso. Portanto, apreender produtos sonegados, beneficiando o fisco estadual, ou federal, deve ser o papel de quem efetivamente é habilitado para tal. E o Estado tem estrutura para instalar postos volantes de fiscalização, como também já tem seus postos fiscais nas divisas do Estados. E, o detalhe, é que quem faz os outros serviços (como da Sefaz ou da Sema) por sua vez, não vai zelar pelas vidas nas estradas.
Quanto aos crimes ambientais, apreensão de pescados e animais há também quem ganha para isso - servidores da Sema, do Ibama e das prefeituras.
Contudo invariavelmente salvar um bichinho, como um tatu galinha que estava sendo transportado por um motorista próximo a Barra do Garças, no final de semana, merece a justa homenagem a tão importante instituição.
No fundo, o que se pretende defender, aqui, é a qualidade no desempenho do trabalho dos gloriosos policiais rodoviários. Cada apreensão que fazem por sonegação, demandam um longo tempo para registrar os BO's nas delegacias de polícia civil. Focados no que foram treinados e noemados para tal, os policiais rodoviários federais (os eternamente patrulheiros!) poderão melhorar a parcela de colaboração que dão às milhares depessoas que trafegam pelas rodovias.
Alberto Romeu Pereira é jornalista em Mato Grosso. E-mail romeu@plantaonews.com.br