Cuiabá | MT 25/04/2024
João Negrão
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Segunda, 25 de abril de 2016, 11h05

Maggi, Fagundes, Medeiros e Bezerra

Para mim, que vivi oito dos mais importantes anos da minha vida em Rondonópolis, onde tive a minha primogênita, iniciei minha carreira e construí amizades que guardo com grande apreço, saber que quatro dos nove congressistas de Mato Grosso que estão atualmente à frente de um golpe contra a democracia brasileira foram eleitos por lá, me causa uma tristeza profunda.

Os senadores José Medeiros (PSD), Blairo Maggi e Wellington Fagundes (PR) e o deputado federal Carlos Bezerra (PMDB) passam a figurar agora como traidores do povo e golpistas. Entrarão para a História assim: os quatro cavaleiros do apocalipse da democracia. Nem vou falar dos outros cinco deputados que sobram nesta quase unanimidade da indecência da política mato-grossense. Salvam-se Valtenir Pereira e Ságuas Moraes.

Adilton Sachetti (que também foi eleito por Rondonópolis, mas merece por enquanto uma análise mais apurada), Fábio Garcia, José Augusto ‘Tampinha’ Curvo (no lugar de Ezequiel Fonseca), Victorio Gali e Nilson Leitão dispensam comentários mais aprofundados. Além de pertencerem ao baixo clero (grupo de parlamentares inexpressivos e dado a atitudes nada republicanas), alguns do quinteto podem alegar fidelidade partidária, já que – afora Leitão, tucano com DNA golpista – os demais pertencem a legendas traidoras, senão com o governo, ao menos com sua base. Ademais, os cinco são prepostos do que há de mais atrasado na política de Mato Grosso.

Medeiros, Maggi e Fagundes também poderiam ser incluídos neste grupo de reacionários. Os três senadores são igualmente representantes da elite, muito embora o jovem senador-patrulheiro rodoviário, deslumbrado que só ele mesmo, trai não apenas a democracia, como também sua origem de classe. Ao invés de investir seu mandato (ganho de mão beijada, é bom que se diga) à causa das classes sociais mais necessitadas, Medeiros preferiu ser o terceiro representante do agronegócio mato-grossense no Senado e papagaio de pirata da nata ultradireitista.

O policial rodoviário federal renega até a sua profissão. Envergonha-se de sua origem profissional e social. Seus ídolos são gente do naipe de Ronaldo Caiado, Aécio Neves e Jair Bolsonaro. É de Aécio que ele recebe e executa ordens sem pestanejar. Medeiros virou uma piada pronta no Senado da República. Seu discurso, sempre alinhado à ultradireita, é tão pedante quanto previsível. Derrubar Dilma virou seu mantra. Mas não se envergonha ao participar de entrega de casas do Minha Casa, Minha Vida, um dos programas sociais que costumar combater, ao defender a meritocracia.

Quanto a Maggi e Fagundes, são dois casos clássicos de traição, já que ambos sempre se beneficiaram politicamente pelo governo. É lícito agregar que Blairo vem de desde o final do primeiro mandato de Dilma sendo crítico da presidente, demonstrado seu descontentamento e, na prática, rompido com o governo. Wellington, no entanto, após se declarar contra o impeachment reiterada vezes, capitulou poucas semanas atrás, traindo sua palavra e seu eleitorado.

Sim, é bom lembrar ao Wellington Fagundes que quem garantiu sua eleição de senador não foi a elite mato-grossense e muito menos a cuiabania, que faz muito barulho, mas não tem personalidade política, sendo uma elite volúvel, acostumada a se agregar aos poderosos de plantão. A elite, Wellington Fagundes, votou em 2014 nos candidatos da ultradireita, tendo o tucano Rogério Salles como seu maior representante, que, aliás, quase o derrotou na reta final do pleito, quando o agronegócio jogou todo peso contra você, contando inclusive com a traição de Blairo Maggi, que fechou um acordo ainda inexplicável (para a opinião pública) com o então candidato ao governo, Pedro Taques. A História se encarregará de trazer à tona todos esses episódios.

Eis que chegamos a Carlos Bezerra, o maior e o pior de todos os traidores. Quando o PMDB rompeu com Dilma e Michel Temer já estava escancarado liderando o golpe, o partido começou a perder cargos. Rapidamente Bezerra lançou-se a ampliar seu espaço no governo, indicando (e sendo atendido) nomes para ocupar segundo e terceiro escalões em ministérios importantes, como o da Saúde. Ele colocou no governo aliados dos quais falaremos em outra oportunidade.

Pois bem, Bezerra, em um curtíssimo espaço de tempo traiu a decisão do PMDB e depois traiu o governo. Ele alegou em seu voto a favor do impeachment que estava acompanhando a decisão partidária. Balela. Bem antes disso, no final do ano passado, quando a Fundação Ulisses Guimarães realizou seu congresso aqui em Brasília para que o PMDB ensaiasse o rompimento e lançou o documento “Uma Ponte para o Futuro”, Bezerra havia se rebelado. Não apenas pertencia, como liderava, junto com Roberto Requião e outros, ao grupo contrário à saída do governo e ao documento.

A mim Bezerra pontuou que o “Uma Ponte para o Futuro” se configurava como uma carta de compromissos de Michel Temer com o grande empresariado nacional retrógrado, os financistas e as multinacionais. “Este documento visa retroceder o Brasil aos tempos do Império. É entreguista e antinacional”, falou. Bezerra deixou bem claro que havia uma capitulação do PMDB, sob o comando de Temer, e que o partido estava enveredando por um caminho perigoso, que colocaria em risco a democracia brasileira e a soberania nacional.

Naquele congresso Carlos Bezerra hipotecou um documento elaborado pela seção de Mato Grosso da Fundação Ulisses Guimarães. Ele e seus aliados estavam lá presentes e tentaram provocar um debate e o documento desmascarava as intenções de Temer, Moreira Franco (o principal mentor), Romero Jucá e os demais entreguistas. Coerente com sua história, Bezerra foi uma voz importante contra o “Uma Ponte para o Futuro”, que se revelava na verdade “Uma Ponte para o Passado”.

A seguir trechos do documento da seção mato-grossense da Fundação Ulisses Guimarães que contrapõe o documento “Uma Ponte para o Futuro”, apresentado pela FUG nacional:

“O texto ora apresentado para o debate de questões centrais que vivemos, não contém, na sua essência, uma aliança [todos os grifos são do original], nem propõe políticas que tenham como referência o nosso conceito de soberania do povo brasileiro.
A sua principal preocupação é com o dito ‘mercado’ que junto com política de juros altos e especulação financeira, promotora de fortunas individuais, se desenvolve com enormes custos sociais. Com o resultado no aumentado das diferenças sociais, do desemprego, da recessão, levando milhares de brasileiros à desesperança e ao abismo.
O texto propõe, em algumas das suas ditas soluções, rasgar a constituição cidadã que na figura de Ulysses Guimarães representou o desejo, os anseios e a esperança de todo um povo.
O documento afirma “... é necessário em primeiro lugar acabar com vinculações constitucionais estabelecidas,...” com especial destaque nos gastos com Saúde e Educação...”. O que evidencia claramente a visão prioritária das soluções propostas. Uma visão em que nos momentos de crise quem paga a conta é o povo, os mais desfavorecidos – sempre por conta dos ajustes, o sacrifício vai para aqueles que mais trabalham por este país. Não se levanta uma palavra na taxação das grandes fortunas, diminuição das taxas de juros e combate a sonegação fiscal.
Radicaliza ainda mais, quando propõem que na relação entre desiguais, o Acordo Coletivo dos Trabalhadores se sobreponha a lei – lei esta que garante as conquistas das lutas da classe trabalhadora.
No texto, o papel do estado como instrumento de crescimento e desenvolvimento é sempre tido como um entrave. O documento propõe principalmente que o nosso partido faça aliança com o mercado e não com os cidadãos.

Ao longo das sete páginas do texto da FUG de Mato Grosso há severas críticas a Michel Temer e à conduta do PMDB e da FUG nacional. Numa delas por conta da referência e emblema do presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, desprezando como referência o próprio Temer. Em outra, o desprezo pelo papel do PMDB dentro da história política nacional. Numa terceira, o descarte envergonhado do protagonismo peemedebista na elaboração e execução do programa de governo que elegeu Dilma-Temer e que se estava rompendo. Incoerência bruta.

Desta forma, é triste observar que Bezerra completa sua traição traindo a si mesmo, a sua história e se desmoralizando perante seu eleitorado. Pelo mesmo caminho, nesta ordem, caminharam Wellington Fagundes e Blairo Maggi. Quanto ao quarto cavaleiro do apocalipse, José Medeiros, daremos o desconto por exercer, sem nenhum constrangimento, o papel de bobo da corte.

João Negrão é jornalista em Cuiabá. E-mail: jotanegrao@gmail.com
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