Cuiabá | MT 28/03/2024
Eduardo Mahon
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Quarta, 10 de julho de 2019, 13h30

Erva daninha

Essa minha sucessão de equívocos me dá certeza que não tenho o menor tirocínio político. É expressivo o rol das minhas decepções com o sufrágio e a vitória. Regionalmente, o caso é ainda pior. Na conta, vou computar um megaempresário que se aproveitou de um surto financeiro para fazer um bom governo, mas legou uma quadrilha organizada para nos assaltar. Após, um empedernido justiceiro que caiu na esparrela de formar para si mesmo um comitê de áulicos pimpolhos high tec que aplaudiam todas as flatulências verbais do reinol procurador. Entre os dois governos aparentemente diversos, não se sabe qual deles sofreu mais baixas de secretários presos. E agora? O que temos de novo é a dupla de empresários que prometeram uma revolução administrativa na máquina pública.

Se alguém já viu a tal revolução, por favor, avise.

Otaviano Pivetta é considerado um dos homens de maior iniciativa do Estado de Mato Grosso. Ainda forte, rico, experiente. Numa palavra, é da corriola dos produtores e outros milionários que enriqueceu com enorme esforço nessa atribulada marcha para o sertão mato-grossense. Na campanha, bateu no peito e puxou para si a responsabilidade de revolucionar a educação pública, usando o padrão Lucas do Rio Verde como receita de bolo. Noticiava-se, também, que o competente empresário iria gerir a infraestrutura, lançar projetos de parceria público-privada, dialogar com a alta cúpula do agronegócio, propor uma repactuação na forma de transitar com a produção agrícola. Chegou mesmo a confirmar, no dia 10 de dezembro de 2018, que iria coordenar essas duas áreas, mesmo longe da titularidade da pasta. Passados seis meses de governo, temos alguma licitação à vista para pintar de asfalto os 23 mil quilômetros que temos da boa e velha poeira nativa? Alguma parceria concreta firmada?

Mauro Mendes encarna outra imagem de sucesso. Bem avaliado em Cuiabá, não se deixou levar pelo canto da sereia e resolveu se afastar da vida pública por dois anos. Ganhou fôlego e venceu as eleições, derrotando o então governador que amargou fragorosa humilhação. Pedro Taques conseguiu perder para “brancos e nulos”, um recorde de impopularidade. Ao contrário do ex-procurador, o gestor atual é um homem da iniciativa privada: objetivo, duro, decidido. E daí? Daí que, além de não ser simpático, não tem dinheiro para tocar as promessas que fez. No dia 18 de fevereiro, Mendes foi atacado pela varejeira do lulismo grandiloquente e prometeu: “O agronegócio terá o maior retorno em infraestrutura na história de Mato Grosso. Ano passado, o agro recolheu R$ 900 milhões para o Fethab e menos de 20% desses valores foram enviados para a Sinfra, para a manutenção de estradas e melhoria da logística. Com a nova lei, este ano serão 40%, depois 50%, até chegar a 60%, nos próximos anos, dos recursos do fundo diretamente para a Sinfra”. O que foi realizado até agora? Temos projetos concretos e criativos para o nosso desenvolvimento com tanta grana tungada do bolso dos maganos?

Na campanha, Mauro Mendes prometeu um amplo programa de valorização da leitura. A menos que seja um programa de leitura em braile, porque não vi até hoje qualquer ação concreta no sentido de se cumprir a Lei 5.573/90, que disciplina o ensino de história, geografia e literatura mato-grossense em sala de aula, omissão passada orgulhosamente de Dante a Blairo, de Blairo a Silval, de Silval a Taques, de Taques a Mauro. Assegurou, ainda, que iria cumprir compromissos com os profissionais da educação, inclusive pagando o reajuste anual, iria equipar escolas com suporte tecnológico, incrementar o transporte público escolar, fortalecer o ensino de jovens e adultos, enfim, prometeu mundos e fundos. Prometer, todos prometem. Comprometer-se é que são elas. Se não fosse a Universidade do Estado de Mato Grosso e a Universidade Federal de Mato Grosso, os estudantes das instituições públicas não saberiam soletrar o próprio nome. A educação e a cultura, esta última em estado ruinoso e paralítico, não têm qualquer horizonte que garanta um futuro de inovação científica, de geração sustentável de renda.

Resumo da ópera: com empresário, com mafioso, com justiceiro, estamos condenados à vida bovina, essa pasmaceira de sempre que se rejubila de vez em quando, em verso e prosa. Nosso garimpo esgotou-se desde o século XVIII, não adianta cavoucar ainda mais a terra, meus camaradas. A riqueza está no potencial de nossa gente, uma incrível mescla de brasileiros e estrangeiros que se amalgamam numa extraordinária hibridação. Contudo, é justamente aí que batem cabeça os governantes – tratam o povo como erva daninha. A praga talvez não sejamos nós e sim eles.

Eduardo Mahon é advogado em Mato Grosso, ex-presidente da Academia Mato-grossense de Letras e, obvio, escritor.
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