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Kleber Lima
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Quinta, 16 de setembro de 2010, 12h03

O aceno à velha política

É curioso como alguns processos políticos se repetem, como um pião girando em torno de seu próprio eixo. O discurso eleitoral de quem está começando é um desses casos. No afã de diferenciar-se dos que já estão estabelecidos, os noviços praguejam quem já está nas lides políticas há mais tempo excomungando-os como se fossem verdadeiros anti-cristos. Se esquecem que ao nivelar tudo por baixo acabam prejudicando-se a si mesmos, ou, em outra hipótese, não têm divergências concretas contra quem criticam. Apenas e tão somente desejam seus lugares.

Alguns candidatos fazem desse clichê o núcleo de seus discursos eleitorais este ano. Vemos candidatos a deputado estadual que certamente nunca foram sequer a uma sessão da Assembléia Legislativa falar bobagens e mais bobagens, partindo sempre do mesmo lugar-comum: que os atuais deputados são velhos, ultrapassados, etc. Não sabem, e talvez nunca venham a saber, que o novo ou o velho em política não se mede pela idade nem pelo tempo que o sujeito atua na área, mas por suas práticas, pelo modelo de representação que adotou, por seus princípios.

Os casos mais graves, contudo, são de outros que já não são tão estreantes assim, mas se utilizam do mesmo expediente de apequenar seus concorrentes para poderem se comparar. É uma tática antiga de quem, por exemplo, costuma não ter virtudes suficientes para justificar-se. Em português caboclo, defendem a tática do “se a sua luz não brilha, ofusque a luz dos outros”.

Já no campo das disputas majoritárias, habitat impróprio para novatos e amadores, a tática é também utilizada, mas não ingenuamente como nos casos anteriores. Dessa vez é puro erro de cálculo, simples equívoco na estratégia, ou crua maldade no enfrentamento dos adversários.

Esta semana uma notícia veiculada na imprensa chamou a atenção para essa tática dos novatos. O candidato ao Senado Pedro Taques, useiro e vezeiro dos ataques ao que chama de “velha política”, encontrou-se com Júlio Campos num arrastão em Várzea Grande. Acenou-lhe efusivamente e sua assessoria apressou-se em divulgar que Júlio teria lhe declarado seu voto pessoal. No mesmo dia, Júlio, também por meio da sua assessoria, desmentiu a informação, e afirmou que apenas retribuiu ao cumprimento por uma questão de educação.

Ao que tudo indica a tese de Pedro Taques não resistiu ao primeiro teste fora das telinhas da TV e das ondas do rádio, na vida real. Ao divulgar o aceno com Júlio Campos, Taques quis valorizá-lo como um ativo para sua campanha. O flerte, contudo, foi ridicularizado pela negativa de Júlio. Moral da história: a velha política pode ser boa, desde que seja a nosso favor.

Candidato a governador de Taques, Mauro Mendes também usa o discurso de ataque à “velha política”. Uma das suas peças de campanha mostra José Riva, Carlos Bezerra e Pedro Henry, entre outros, ao lado de Silval Barbosa, tentando combatê-lo por suas companhias. Não revela, no entanto, que Bezerra, Riva e Henry estavam no seu palanque na eleição de 2008 em Cuiabá, tampouco que foi visitar a esposa de Riva, quando a dona Janete foi presa recentemente, e muito menos que estava muito seduzido para ser o vice de Silval 70 dias atrás. Moral da história: a velha política só não serve quando não está a nosso favor.

Não se pode classificar Pedro Taques e Mauro Mendes de ingênuos. Em seu favor podemos dizer apenas que são neófitos em política. Mas isso não os redime das contradições apontadas acima.

Talvez suas práticas oportunistas e incoerentes os tornem até mais velhos que a “velha política” que tanto combatem da boca pra fora. Se prosperarem em suas carreiras na política, logo terão que tomar uma decisão importante: sair da política após cumprirem seus primeiros mandatos - sob pena de se tornarem eles próprios a “velha política” – ou reformularem radicalmente seus pontos de vista.

Uma coisa parece ser mais evidente: Taques e Mauro, embora desejem entrar na política como anti-políticos dificilmente conseguirão carreiras tão exitosas como as de Bezerra e Júlio.

Kleber Lima é jornalista pós-graduado em marketing com vasta experiência em campanhas eleitorais em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br
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