Khayo Ribeiro/HiperNoticias
A metropolização expressa em ruas largas, escadas rolantes e arranha-céus que, sem a atenção necessária, a cidade é reduzida a um lugar “fora de seu tempo”. A ideia seria menos impactante senão fosse o apontamento de um dos membros da equipe de projetos que participou do processo de modernização de Cuiabá. Ao HiperNotícias, o arquiteto e urbanista Antônio Carvalho compartilhou as expectativas daqueles que pensaram a estrutura física da capital, 45 anos atrás.
Ser membro do grupo que planejou e acompanhou a execução das obras no Centro Político Administrativo (CPA) é apenas um dos feitos de Carvalho, que, antes de entrar na iniciativa privada, trabalhou no projeto da Prefeitura de Cuiabá, na Diretoria de Planejamento.
Alan Cosme |
Com um currículo extenso, as produções do arquiteto paranaense somam mais de 7 mil unidades construídas (dentre casas, prédios e condomínios), sendo a maioria realizada na capital mato-grossense.
“Eu cheguei em Cuiabá e a cidade tinha 90 mil habitantes. Na Miguel Sutil, era tudo uma estrada de terra. Quando fizemos o projeto do CPA, que foi executado por empresas de São Paulo e Rio de Janeiro, os gestores da época chegaram a nos acusar de irresponsáveis: ‘onde vocês estavam com a cabeça de construir o palácio do governo tão longe do centro de Cuiabá?’”, se diverte o profissional da construção ao se lembrar do período.
A cidade do futuro...
Como planejar o futuro de uma cidade? Para Carvalho, o desafio sempre esteve em olhar não para o amanhã, mas para décadas à frente. “Doutor, isso foi feito para uma Cuiabá daqui 30, 40, 50 anos, não para hoje”, respondeu o arquiteto quando questionado por um dos secretários de obras da época.
Em meio a um período de interiorização e abertura de visão sobre a possibilidade de rompimento com o atual Mato Grosso do Sul, o Estado precisava se renovar e mostrar para o Brasil que era autônomo e poderia produzir em larga escala. Assim, diversas iniciativas foram realizadas para chamar investimento externo para Mato Grosso.
“Nós fizemos vários estudos para uma placa de inauguração do Estado. Eram duas cores e uma faixa, representando o final de Mato Grosso com o Pará. Sob a imagem, a legenda: Mato Grosso Estado Solução. Era para marcar que estávamos no Norte, próximo ao Pará”, comenta Carvalho sobre o marketing governamental da época.
As produções do arquiteto elucidam um pouco sobre o momento de transformação pelo qual passava a Capital: “Fiz o projeto do primeiro shopping com escada rolante da capital, o shopping Tabor - que está em funcionamento até hoje. Fiz também, nesse período, o primeiro edifício horizontal de Cuiabá, o condomínio Santorini, ao lado do Sayonara. Depois, planejei o projeto do Clube Monte Líbano, o Jardim das Américas 1 e 2, o Residencial Santa Cruz 1 e 2, Residencial Jardim dos Ipês e o Jardim Imperial 1 e 2 também. Fora da capital, eu arquitetei obras em Tangará, Guiratinga e Juína”.
Um futuro bem planejado
Quando questionado sobre a realidade de Cuiabá nas vésperas de completar seus 300 anos, o profissional foi sucinto em responder que a falta de recurso e interesse político faz com que a cidade ficasse “parada no tempo”.
“Eu falo como arquiteto, a Capital ficou muitos anos parada no tempo, assim como o Estado. Acho que as obras da Copa, apesar de toda a corrupção, trouxeram Cuiabá para o século 21”, aponta Carvalho.
Para ele, a Capital dos 300 anos precisa de um plano diretor sólido, que considere todas as transformações passadas nos últimos anos.
“A cidade é um sistema dinâmico que não para, onde você tem que estar construindo e reparando os erros constantemente. Cuiabá estava parada em um sistema de esgoto de 30/40 anos atrás. Agora que o prefeito voltou a mexer no esgoto. Isso é triste, porque Cuiabá é uma capital que recebe pessoas de todo o Brasil e do mundo”, lamenta o arquiteto.