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G1
Em delação premiada, o ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa acusou o também ex-governador Blairo Maggi de participar de um esquema de corrupção no estado. O Jornal Nacional obteve, com exclusividade, o conteúdo da delação. Atualmente, Blairo Maggi é o ministro da Agricultura do governo Michel Temer.
As revelações feitas pelo ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa, do PMDB, foram homologadas pelo Supremo Tribunal Federal na quarta-feira (9). A delação atinge o atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que nesta sexta-feira (11) cumpriu agenda com o presidente Michel Temer no Mato Grosso. Eles estiveram em uma fazenda em Lucas do Rio Verde para o lançamento da colheita de algodão do estado.
Silval Barbosa contou à Procuradoria-Geral da República como funcionava um esquema de corrupção no governo de Mato Grosso.
Silval foi vice-governador no segundo mandato de Blairo Maggi – de 2007 a 2010. No primeiro mandato, Blairo Maggi estava no PPS e, no segundo, no PR. Hoje está no Partido Progressista. Em 2010, Silval assumiu o governo, quando Blairo Maggi se descompatibilizou para concorrer ao Senado e foi reeleito.
Na delação, Silval revelou pagamento ao ex-secretário de Fazenda de Mato Grosso Eder Morais para que ele mudasse um depoimento a fim de inocentar Blairo Maggi.
Aos procuradores, Silval disse que, primeiro, Eder denunciou ao Ministério Público que Blairo e ele, Silval, sabiam de compra de vagas do Tribunal de Contas do Estado e que Eder queria assumir uma delas.
Na delação, Silval disse que, depois deste depoimento, Eder procurou Silval e Blairo, e pediu R$ 12 milhões para voltar atrás no que havia dito e que Blairo e Silval aceitaram pagar, só que um valor menor: R$ 6 milhões, R$ 3 milhões de Blairo; R$ 3 milhões de Silval.
O delator diz que a parte de Blairo foi entregue a Eder por Gustavo Capilé, ligado ao ministro; e que Blairo confirmou a Silval que o pagamento foi feito em dinheiro vivo, entre 2014 e 2015;
Silval confessou que sua parte também foi entregue. Seu chefe de gabinete na época, Silvio Cesar Correa Araújo, levou uma parcela em dinheiro à casa de Eder e o restante foi pago mediante a quitação de uma dívida de Eder, de R$ 800 mil.
Eder, de fato, mudou de versão. No primeiro depoimento, em 24 de março de 2014, ele havia dito que em 2009 falou com Silval e Blairo que queria comprar uma vaga no Tribunal de Contas do estado, como mostra o depoimento dele reproduzido pela Procuradoria-Geral da República: “Muito embora não tivessem falado sobre os valores, nas palavras do próprio Eder de Moraes Dias: ‘todos naquele ambiente sabiam que as vagas seriam negociadas em valores consideráveis’”.
Já em janeiro de 2015, depois dos pagamentos relatados na delação, Eder deu uma entrevista à TV Centro América, afiliada da Rede Globo em Mato Grosso, e disse que havia mentido no depoimento anterior.
“Eu estava extremamente tomado pela emoção, de não ter sido atendido em uma escolha para então ocupar uma vaga no Tribunal de Contas do estado de Mato Grosso, qualificado que eu era para essa função e que, politicamente, praticamente me nomearam e depois me tiraram essa vaga. Então todo esse contexto fez com que eu ali colocasse algumas palavras que eu depois me retratei sobre todas elas”, disse na época.
A Procuradoria-Geral da República também registrou que Eder retratou-se do seu depoimento neste ponto.
Esta mudança de versão, que Silval Barbosa diz ter sido comprada por R$ 6 milhões, foi um dos motivos que levaram o Ministério Público a pedir o arquivamento do caso que investigava a participação de Blairo Maggi. E, em maio de 2016, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, arquivou o inquérito. Ou seja: a delação revela uma versão mentirosa, paga com propina. E essa mentira acabou tendo impacto nos rumos das investigações. Agora, as revelações podem levar a novos inquéritos ou até mesmo a reabertura desse caso.
O ministro Blairo Maggi é investigado na Lava Jato por suposto recebimento de R$ 12 milhões na sua campanha à reeleição em 2006, de acordo com delatores da Odebrecht. O governo Temer tem dez ministros investigados no Supremo.
Na delação, Silval também cita R$ 4 milhões ao deputado federal Carlos Bezerra, do PMDB de Mato Grosso, para que apoiasse uma candidatura à Prefeitura de Cuiabá; e fala de pagamento de propina ao senador Wellington Fagundes, do PR de Mato Grosso. Sem citar valores, Silval afirma ter autorizado repassar parte dos pagamentos de construtoras de um programa de pavimentação para o senador e que também houve quitação ilegal de dívidas de campanha dele.
A assessoria do ministro Blairo Maggi afirmou que nunca houve ação da parte dele ou autorizada por ele para agir de forma ilícita dentro do governo ou para obstruir a Justiça, que jamais vai aceitar qualquer ação para que haja mudanças de versões em depoimentos de investigados, que não houve pagamentos feitos ou autorizados por ele ao então secretário Eder Moraes para acobertar qualquer ato, que Silval Barbosa mentiu ao afirmar que fez tais pagamentos em dinheiro a Eder Moraes, e que vai usar todos os meios legais para se defender.
O que dizem os citados
A defesa do ex-governador Silval Barbosa não quis comentar e a de Eder Morais não retornou o contato do JN.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de Gustavo Capilé.
A defesa de Silvio Cezar afirmou que ele tinha uma relação muito próxima a Silval Barbosa e que apenas cumpria ordens.
O deputado Carlos Bezerra disse que o pagamento citado pelo ex-governador não tem nenhum fundamento, que ele faz parte do diretório estadual do PMDB e que quem trata de campanhas a prefeituras é o diretório municipal.
O senador Wellington Fagundes disse que todas as doações recebidas para campanha constam em prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral.