O Ministério Público do Estado de Mato Grosso, por meio da 13ª Promotoria de Justiça Criminal, denunciou os policiais militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim e Werney Cavalcante Jovino, por homicídio triplamente qualificado praticado contra o 2º TEN PM Carlos Henrique Paschiotto Scheifer, em maio de 2017.
Gcom-MT/Mayke Toscano |
As primeiras informações eram de que o Tenente Scheifer havia sido morto por bandidos, em Matupá... |
Na época do fato a informação era de que o tenente Scheifer havia sido alvejado por tiro no abdome durante confronto com suspeitos de assalto a bancos. "Scheifer estava em operação de buscas na zona rural de Matupá, área próxima ao local em que, na manhã deste sábado (13.05), policiais militares de unidades da região e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) já haviam capturado quatro homens suspeitos de integrarem a mesma quadrilha" - diz trecho da reportagem publicada pelo PlantãoNews há época, que destacava ainda que "as prisões levaram à apreensão de armas, entre as quais dois fuzis 556 e munições" e que "os quatro presos são suspeitos de terem trocado tiros com uma guarnição da PM na manhã de sexta-feira (12.05), no distrito de União do Norte, município de Peixoto de Azevedo".
Segundo o Ministério Público, a motivação do crime, foi evitar que a vítima adotasse medidas contra os denunciados que pudessem resultar em responsabilização e, até mesmo eventual perda da farda, por desvio de conduta em uma operação que culminou na morte de um dos suspeitos de roubo na modalidade “novo cangaço”.
... o que dois meses após a PM informou o tiro ter saído da arma de outro policial. |
Consta na denúncia, que o TEN PM Carlos Henrique Paschiotto Scheifer foi atingido por um disparo frontal efetuado pelo próprio colega de farda na região abdominal em um local que havia sido no dia anterior palco de confronto entre policiais e suspeitos de roubo.
Origem do conflito: Segundo o Ministério Público, os fatos começaram com a perseguição da viatura da polícia, cuja equipe estava sob o comando da vítima, a dois automóveis, sendo um veículo Nissan Frontier e o outro um automóvel Mitsubishi L-200 Triton com indivíduos suspeitos da prática de crimes de roubo. Na ocasião, um dos veículos acabou tomando rumo ignorado e o outro perdeu o controle na estrada, quando quatro de seus ocupantes já desceram efetuando vários disparos contras os policiais.
A tentativa de prender os assaltantes que, inicialmente, parecia ter sido frustrada acabou obtendo êxito no dia seguinte com apoio de outros militares que atuavam em cidades próximas. Um dos veículos foi localizado em um posto de combustível na cidade de Matupá e o condutor, identificado como Agnailton Souza dos Santos, foi preso.
Consta na denúncia, que a partir das informações obtidas no interrogatório do acusado, a equipe de agentes liderada por Scheifer efetuou cerco policial a um imóvel localizado em um bairro na cidade de Matupá, para prender outros suspeitos. Durante a ocorrência, um deles, que “supostamente” portava arma de fogo, teria tentado evadir-se do local e foi atingido por um disparo de fuzil efetuado pelo CB PM Lucélio Gomes Jacinto, vindo a óbito.
“Conforme restou apurado nos presentes autos, a lavratura do supracitado boletim de ocorrência foi objeto de divergências e até mesmo de desentendimento entre a vítima, TEN Scheifer, e o denunciado CB PM Lucélio Gomes Jacinto, pois, há fundadas suspeitas que fora inserida, no referido BO, declaração falsa, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, no que diz respeito às circunstâncias da morte do indivíduo Marconi Souza Santos”, descreveu o promotor de Justiça Allan Sidney do Ó Souza.
Foto: Lenine Martins/Sesp-MT |
Segundo ele, testemunhas relaram durante inquérito policial que presenciaram o desentendimento entre a equipe e o TEN Scheifer. Em um determinado momento, os denunciados teriam se reunido às portas fechadas para conversarem sobre o ocorrido.
MORTE DE SCHEIFER: No mesmo dia, durante diligência realizada no local do primeiro confronto com os ocupantes dos veículos, o TEN Scheifer foi atingido por disparo de arma de fogo na região abdominal.
Inicialmente, conforme o Ministério Público, os colegas de farda sustentaram que a vítima havia sido atingida por disparo efetuado por suspeito não identificado, que estaria em meio à mata, do outro lado da rodovia. Após a realização do laudo pericial ficou comprovado que o projétil alojado no corpo do tenente partiu de um fuzil portado pelo Cabo PM Lucélio Gomes Jacinto.
“Somente após a balística descortinar que o disparo que atingira mortalmente o TEN Scheifer ter saído da arma de fogo portada pelo denunciado CB PM Jacinto, que então mudando a versão de outrora, ele alegou ter se equivocado da pessoa do TEN Scheifer com a do suspeito”, afirmou o promotor de Justiça.
Segundo ele, nenhuma das versões apresentadas pelo autor dos disparo foi plausível. “A vítima foi atacada frontalmente (o denunciado afirmara que ela estava de costas) e, em posição de descanso (quando não há perigo pela frente), embora o acusado assevere que o ofendido se apresentava em posição de tiro “vietnamita” (uma forma de posição de ataque”)”, sustentou.
O tenente Scheifer tinha 27 anos. Ingressou na Polícia Militar em 2011, aprovado no vestibular para o Curso de Formação de Oficiais (CFO) da PM-MT. Em janeiro de 2016, casou-se com Tássia Paschoiotto, em Cuiabá. Por dois anos Scheifer serviu a sociedade mato-grossense, combatendo a violência por meio do Grupo Especial de Fronteira (Gefron). Por último, integrou o Bope, unidade especializada na qual ingressou após fazer o Curso de Operações Especiais (Coesp) na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. Foi morto por colegas de farda que temiam que ele os denunciasse na Corregedoria da PM. |
Em nota enviada ao PlantãoNews a Polícia Militar de Mato Grosso informou:
Caso Scheifer
"Em razão da denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual (MPMT) em desfavor de três policiais militares por conta da morte do Tenente PM Carlos Henrique Scheifer, ocorrida em maio de 2017, a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso vem a público esclarecer que:
- Todo o material utilizado pelo MPMT para o oferecimento da denúncia tem por base investigação realizada pela Corregedoria da Polícia Militar, procedimento este iniciado logo após o fato;
- Foi o trabalho da Corregedoria da PMMT que identificou contradições nos depoimentos dos policiais que estavam na cena do crime. Além disso, a atuação da PMMT concluiu que o projétil que atingiu o oficial havia partido da arma usada por um destes policiais;
- Os trabalhos realizados pela Corregedoria da PMMT concluíram pelos indícios de autoria e materialidade do crime e foram remetidos, como prevê a legislação, ao Poder Judiciário que, por sua vez, encaminhou o procedimento ao MPMT para análise e eventual oferecimento de denúncia, o que ocorreu.
- Desde a conclusão do inquérito o caso passou a tramitar única e exclusivamente no âmbito do Poder Judiciário que poderá aceitar a denúncia, realizar a instrução processual e, ao final, definir pela condenação ou absolvição dos denunciados".