Adrian Laidley foi forçado a fugir da Jamaica por causa da discriminação e violência contra a comunidade LGBTI |
Adrian Laidley, de 23 anos, cresceu temendo por sua vida. Como homem gay na Jamaica, ele teve que esconder sua sexualidade para se proteger de ataques violentos. Hoje ele é reconhecido como refugiado na Holanda, onde encontrou segurança e liberdade pessoal em seu novo lar, um projeto habitacional revolucionário para refugiados e jovens holandeses.
“Eu vivia com medo de ser espancado – e até mesmo ser morto, então, tive que me esconder”, disse Adrian, que foi forçado a fugir de Kingston, capital da Jamaica, em 2015. “A cada dia eu me sentia menos seguro no ambiente em que vivia”.
Violência, discriminação e até mesmo criminalização fazem parte da realidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas trans e intersex (LGBTI) na Jamaica. Com medo de ser expulso por sua família, Adrian ocultou sua orientação sexual pelo tempo que pôde. Mas sabia que não poderia se esconder para sempre.
“Se você vem de uma comunidade onde ser gay não é aceito, em algum momento você é forçado a sair dela e, geralmente, acaba nas ruas”, afirmou Adrian. “Eu temia isso. E essa situação poderia acontecer comigo a qualquer momento”.
Adrian buscou secretamente o apoio de uma ONG que trabalha com jovens LGBTI e se inscreveu em um programa que ajuda pessoas em situação de risco a saírem do país. No início de 2015, Adrian entrou para uma lista de espera de pessoas que buscam encontrar segurança na Europa.
“Eu decidi sair por conta própria, não podia falar sobre isso com ninguém”, disse. “Eu estava extremamente ansioso, pronto para partir a qualquer momento. Vivia no meu limite, e não podia fazer planos para o futuro.”
Enquanto esperava pela oportunidade de partir, Adrian se preparava para sua nova vida estudando holandês e aprendendo sobre a história e a cultura da Holanda. Ele sabia que seria mais frio e que a comida e as praias seriam diferentes. Ele tinha apenas uma vaga ideia de como seria livre para viver e amar como quisesse.
“Eu sabia que poderia recomeçar minha vida e escolher meu próprio caminho”, contou. “Mas eu não sabia o que isso significaria. Foi uma experiência totalmente nova para mim”.
Por fim, recebeu o esperado telefonema. Com apenas cinco dias para se preparar, Adrian disse à família e aos amigos que havia ganhado uma bolsa de estudos na Holanda. Em poucos dias, o jovem estava sentado diante de autoridades de imigração no aeroporto de Amsterdã. Após explicar o motivo de sua chegada, os guardas responderam que ele não precisava mais se preocupar, e que ali estaria seguro.
“Eles me disseram ‘está tudo bem, agora que você finalmente está aqui, você pode ser quem você é'”, lembrou. “Eu me senti livre e sabia que não tinha que me esconder mais, que não precisava ter medo de ser perseguido”.
Apenas algumas semanas depois, um conhecido revelou a sexualidade de Adrian para sua família e amigos na Jamaica. Seus dois irmãos e a maioria de seus amigos o renegaram, enquanto sua mãe e irmã o advertiram para nunca mais voltar para casa.
“Senti-me completamente rejeitado”, disse Adrian. “Eu não tinha amigos, não conhecia ninguém aqui. Me senti desamparado neste grande lugar vazio sem ninguém. Mas tive sorte de já estar aqui. Se eu ainda estivesse na Jamaica, provavelmente estaria morto”.
Adrian recebeu refúgio e se mudou de um alojamento para um apartamento compartilhado em Amsterdã. A sorte bateu à sua porta quando ganhou um apartamento no Startblok, um novo projeto habitacional administrado pelo município de Amsterdã nos arredores da cidade.
A ideia era inovadora: nove blocos de contêineres organizados em cima de um antigo campo esportivo foram transformados em moradias populares para 565 moradores; metade refugiados e metade jovens holandeses.
Adrian mudou-se quando o projeto foi inaugurado no verão de 2016. Seu novo apartamento ficava em um corredor com outros 26 – um número igual de holandeses e de refugiados de países como Síria e Afeganistão. De repente, Adrian descobriu que não estava mais sozinho.
“Antes eu estava apenas convivendo com outros refugiados – eu não conhecia meus vizinhos”, disse Adrian. “Foi uma grande diferença morar aqui, onde todos se tornam amigos”.
Aproveitando a vida social repleta de eventos, aulas e encontros realizados pelos moradores de Startblok, Adrian logo formou um grupo de amigos de todas as partes do mundo.
“Adrian e eu percebemos imediatamente que tínhamos o mesmo senso de humor sarcástico”, disse a residente holandesa Amber Borra, que se mudou para um apartamento em Startblok para fugir das acomodações superlotadas de estudantes. Ela ficou surpresa ao encontrar uma atmosfera tão descontraída. “Você encontra pessoas tão facilmente aqui”, afirma Amber, de 26 anos.
“Eu fiquei interessada em morar com os recém-chegados depois de tudo o que vi nos noticiários”, concluiu Amber.
Desde que se conheceram, há dezoito meses, Amber ajudou Adrian a aprender holandês e a se adaptar à sua nova vida na Holanda. Contudo, para Adrian, morar em Startblok é mais do que se integrar a uma nova cultura, encontrar amigos e estabelecer conexões. É a chance de finalmente viver abertamente, livre do medo.
“Aprendi que as pessoas aqui na Holanda são abertas e esperam abertura de você”, contou. “Foi ótimo saber disso. Todo mundo é mente aberta e amigável. Nós nos entendemos e compreendemos as diferentes razões pelas quais estamos aqui”.
Atualmente, Adrian estuda e trabalha meio período, guiando visitas para grupos de pessoas de todas as partes do mundo. Ele não tem planos de se mudar.
“Eu não quero perder todos os amigos que tenho aqui”, disse ele que, em alguns anos, planeja se candidatar à cidadania holandesa. “Estou acostumado a esta vida agora, ver refugiados e holandeses convivendo todos os dias, apenas como pessoas normais. É um alívio estar aqui. Eu busco aproveitar ao máximo”.