Mariama Saran Sow, guineense de 25 anos e refugiada. Foto: ACNUR/Jean-Marc Ferré |
Para Mohammed Badran, um sírio de 24 anos que encontrou segurança na Holanda, ser um refugiado não é uma identidade, mas uma experiência que pode ser usada para unir comunidades. O jovem participou de um encontro recente na sede da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), em Genebra. O organismo lidera os diálogos e negociações de um novo pacto global para o acolhimento de refugiados.
“Quando somos apenas percebidos como beneficiários vulneráveis ??de assistência, a oportunidade de ter uma voz nas decisões que nos afetam é tirada de nós”, disse Mohammed durante o evento. “Precisamos repensar o que significa ser um refugiado e incluir essa visão no pacto.”
Com a ajuda de outros sírios, o jovem fundou a ONG Voluntários Sírios na Holanda, que já tem mais de 600 integrantes trabalhando para aproximar os refugiados das comunidades locais. Para Mohammed, refugiados não devem ser incluídos apenas nas consultas sobre o pacto, mas também no planejamento, monitoramento e avaliação.
“Para ser bem-sucedido, o pacto global deve ser dos refugiados.”
Mohammed também faz parte do Conselho Jovem Global, criado pelo ACNUR. Os membros da entidade passaram meses realizando consultas com jovens refugiados e de países anfitriões, líderes comunitários e autoridades do governo. O objetivo era recolher impressões e avaliações sobre as versões iniciais do pacto global.
O ACNUR está agora na metade dos diálogos formais, que terminam em julho e visam assegurar que o documento seja adotado por consenso. A expectativa da comunidade internacional é de que o novo acordo seja adotado pela Assembleia Geral da ONU ao final deste ano.
Superação e acolhimento
Ameaçada pela mutilação genital feminina e forçada a se casar, Mariama Saran Sow fugiu da Guiné com apenas 17 anos de idade. Na Alemanha, começou a reconstruir sua vida, mas precisou enfrentar os traumas do passado.
“Sofri muita violência em casa, mas sinto que ainda falta apoio psicossocial aos refugiados que passaram por experiências traumáticas”, explicou durante a reunião em Genebra.
“Quando chegam, as crianças precisam participar de atividades para esquecer suas preocupações. As mulheres também precisam de espaços seguros para falar sobre os abusos que possam ter sofrido. Quando chegamos, muitas vezes não falamos a língua do país que nos acolhe. Precisamos de mulheres intérpretes com quem possamos conversar.”
Outros participantes enfatizaram a necessidade de trabalhar em colaboração estreita com as comunidades de acolhimento.
“As comunidades anfitriãs e as autoridades locais são as primeiras a ajudar os refugiados”, lembrou Simon Marot Touloung. Em 2000, ele foi forçado a fugir do Sudão do Sul como menor desacompanhado.
Com uma bolsa de estudos do ACNUR, o jovem concluiu a universidade. O sul-sudanês fundou a African Youth Action Network (Rede de Ação da Juventude Africana, em tradução livre para o português), uma organização liderada por refugiados que apoia iniciativas de convivência em Kampala, em Uganda, e também no país de origem de Simon.
“Em Uganda, as comunidades locais concordaram em dar partes de suas terras aos refugiados do Sudão do Sul, como uma forma de agradecer pela ajuda que o Sudão do Sul deu aos ugandenses na década de 1970.”
Para Denis Adhoch, um queniano de 30 anos, as comunidades anfitriãs devem ser reconhecidas por sua generosidade e devem receber apoio adicional.
“Refugiados urbanos vivem em assentamentos informais ao lado de moradores locais que também lutam para sobreviver”, ressaltou. “Quando os refugiados recebem serviços dos quais os habitantes também não podem se beneficiar, a percepção de que os refugiados recebem tratamento preferencial e um sentimento de ressentimento podem crescer.”
Também presente no encontro, o alto-comissário adjunto de Proteção do ACNUR, Volker Türk, disse que a instituição “valoriza muito a contribuição de jovens refugiados”. “Precisamos analisar como garantir que as vozes dos jovens de comunidades de refugiados e anfitriãs sejam traduzidas em políticas globais”, enfatizou.
O dirigente moderou o evento ao lado da colombiana Laura Elizabeth Valencia Restrepo, de 21 anos, e também integrante do Conselho Jovem Global.
Forçada a fugir para o Equador em 2007, a jovem sabe como os refugiados serão vitais para o sucesso do pacto sobre deslocamento forçado. “Somos parte da solução e temos a competência para fazer parte disso”, afirmou.