Sete organizações de mídia que representam mais de 20 mil publishers e profissionais em cerca de 120 países protestaram em conjunto, nesta segunda-feira (11), contra a nova política do Facebook que rotula conteúdo noticioso como apoio político e inclui a produção jornalística no arquivo de propaganda política da rede social. Em carta a Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, o grupo faz críticas e pede mudança na regra.
“Vemos sua política como outro passo em direção ao aprofundamento de uma narrativa falsa e perigosa, que dilui a divisão entre a produção real de notícias da mídia profissional e a propaganda”, diz a carta das empresas de comunicação. “Divulgar nossos produtos, ou assinaturas de nossos produtos, não está separado de nosso jornalismo ou da liberdade de imprensa”.
A carta é assinada pelos líderes das seguintes organizações: American Society of News Editors, European Publishers Council, News Media Alliance, World Association of Newspapers and News Publishers (WAN-IFRA), Digital Content Next, Association of Magazine Media e Society of Professional Journalists. O grupo critica a decisão da rede social de armazenar os artigos que elas pagam, para que sejam exibidos na timeline de mais pessoas ao lado de anúncios eleitorais.
Sob as novas regras, qualquer anúncio que trate de conteúdo político — mesmo notícias sobre candidatos e eleições — será colocado em um arquivo que inclui as identidades de quem está pagando pela publicidade e dados demográficos de quem viu os anúncios, por um período de até sete anos. Este arquivo começou nos Estados Unidos, mas a rede social disse que planeja expandir a abordagem para o resto do mundo.
“A nova política do Facebook pode causar danos irreparáveis ??à indústria de mídia. Estamos propondo coletivamente uma solução viável para todos”, diz David Chavern, presidente e CEO da News Media Alliance, instituição resultante da Newspaper Association of America (NAA) e que reúne mais de 2 mil veículos de imprensa dos Estados Unidos e do Canadá, além do gigante de mídia alemão Axel Springer. Um dos maiores críticos da nova política da maior rede social do mundo, Chavern havia oferecido, no mês passado, uma alternativa que isentaria uma lista de grandes empresas de notícias da nova exigência, mas não conseguiu convencer o Facebook.
Jason Kint, CEO da CEO Digital Content Next, destaca que a medida do Facebook “mina” a iniciativa de publishers e anunciantes premium que investem tempo e recursos todos os dias para criar confiança junto ao público. “O Facebook deve reconhecer o valor do jornalismo criado por empresas de mídia independente e respeitar o papel crítico que o jornalismo desempenha no apoio às sociedades em todo o mundo”, enfatiza Michael Golden, presidente da WAN-IFRA.
Após meses de críticas sobre o uso que os russos fizeram do site para influenciar a eleição presidencial americana de 2016, o Facebook alertou as empresas sobre as novas regras em maio. A notícia da mudança gerou reclamações, fazendo com que a rede social anunciasse que trabalharia com as companhias de comunicação para criar uma política que distinguisse jornalismo de campanhas eleitorais.
“Transparência leva a maior responsabilidade, e isso é algo que nossos parceiros da imprensa têm encorajado, por isso estamos nos movendo nesta direção para toda publicidade que envolva conteúdo político”, defendeu, em e-mail, Campbell Brown, diretora do Facebook para Parcerias Globais de Notícias.
“Estamos trabalhando para tratar anúncios de conteúdo noticioso diferentemente no arquivo, o que resolve a preocupação fundamental dos nossos parceiros de comunicação”, informou Brown. “Uma isenção ou ‘lista limpa’ anularia diretamente os novos níveis de transparência que estamos tentando atingir”.
ANJ