Foto: Anderson Acendino |
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A atuação, conquistas e dificuldades da Vigilância em Saúde dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) foram debatidas nesta terça-feira (07.11) durante o 1º Encontro Estadual da área, realizado desde segunda-feira (06) no Hotel Fazenda Mato Grosso, em Cuiabá. O encontro termina na tarde desta quarta-feira (08).
O palestrante Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, falou sobre “O Lugar da Vigilância em Saúde no SUS” e ressaltou que aquilo que foi construído até hoje pela saúde pública no campo das vigilâncias, não se deve deixar penalizar pela falta de recursos, tanto do ponto de vista de sua estrutura como das pessoas que acompanham o processo. Médico da Fiocruz, Henriques foi um dos palestrantes de fora do Estado que participou da 1ª Conferência Estadual de Vigilância em Saúde, que é preparatória da Conferência Nacional que será realizada em Brasília entre os dias 28 de novembro e 1º dezembro.
“Se usa um modelo da vigilância que deve ser visto como um conjunto de atividades que compõe um todo junto com a área de atenção a saúde. Embora às vezes seja necessário fazer a divisão das organizações para efeito de administração, da relação institucional, essas ações são extremamente interdependentes, e que também se relacionam a outros setores”, pontuou Henriques, graduado pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Administração Hospitalar e Serviços de Saúde e Mestre em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da USP.
Como exemplo, o médico citou as áreas de saneamento básico e de saúde no meio ambiente. “Ambas ou não são da saúde ou estão quase que totalmente fora da área de saúde, mas dependem diretamente do que nós chamamos de proteção e promoção da saúde”, explicou, mostrando as relações externas da vigilância, mas que são essenciais na manutenção da saúde como um todo.
“Existem diversos campos em que é necessário aprofundar a atuação da vigilância em saúde, como no caso dos agrotóxicos. Tanto no que eles têm de significado para os alimentos, para os consumidores de alimentos que contêm resíduos de agrotóxicos, como para os trabalhadores, que estão expostos intensamente, na condição da aplicação, ou do trabalho nas lavouras, e moradores podem ser contaminados, ou são, pela aplicação desses produtos”, frisou Henriques. Ele lembrou que o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos e Mato Grosso é um Estado que se destaca muito no país com relação a isso, em razão da sua extensão agrícola.
Por fim, citou a importância da atuação das equipes de saúde da família que trabalham junto com a comunidade, seja fazendo a notificação de doenças, orientando as pessoas na identificação dos riscos à saúde, alertando sobre os riscos ambientais, vistoriando os estabelecimentos que comercializam alimentos, ou estabelecimentos de saúde, que possuem uma série de cuidados e controles que devem ser seguidos e as vezes não são reconhecidos. “Nesse sentido é importante enxergar este ponto do sistema de saúde, que isso é a atenção básica à saúde”, finalizou Henriques.
Mesa Redonda
Já durante a mesa redonda “Responsabilidade do Estado e dos Governos com a Vigilância em Saúde”, o médico Júlio Strubing Muller Neto, doutor em Saúde Pública, procurou mostrar, dentro de um contexto nacional, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), as conquistas obtidas nos últimos 25 anos, e como a vigilância em saúde contribuiu decisivamente para isso. “Casos de doenças como sarampo, que praticamente eliminamos, a poliomielite, a paralisia infantil, o caso da malária em Mato Grosso, que não eliminamos, mas conseguimos controlar. Então nós temos que valorizar todas essas questões, mas entender que também que o SUS ainda apresenta grandes problemas, e na minha opinião, ligada ainda ao modelo de atenção que nós temos”, exemplificou.
Júlio aproveitou para fazer sugestões sobre esse modelo do SUS, sob seu ponto de vista. “A assistência médico-hospitalar incorpora, de forma fragmentada, as ações da vigilância em saúde. Então, sugeri para a conferencia, no sentido de que esse modelo seja o modelo do SUS, e que seja efetivamente implantado, para que possamos ter melhores resultados, no caso do Mato Grosso, e talvez do Brasil”.
Os especialistas também opinaram sobre a primeira edição da conferência realizada em Cuiabá, com cerca de 700 pessoas reunidas na terça-feira, entre elas cerca de 500 delegados. “É um numero muito significativo, e mostra a importância que as pessoas estão dando, não somente os profissionais de saúde, mas também os representantes da sociedade civil e membros de conselhos municipais de saúde. E isso é um sinal de força, de vitalidade, vamos dizer assim, da questão da luta da saúde publica aqui no Estado”, classificou Júlio. “Estou impressionado com a magnitude do evento, e com a empolgação e mobilização das pessoas”, finalizou Cláudio.