. |
As notícias falsas propagadas nas redes sociais se multiplicaram na última semana da campanha antes do primeiro turno das eleições. Desde sábado (29/09), a equipe do Fato ou Fake, serviço de checagem do Grupo Globo, por exemplo, desmentiu 11 mensagens de grande repercussão, entre textos, vídeos e fotos. Só no Facebook, relata o jornal O Globo, 35 publicações foram compartilhadas quase 400 mil vezes, atingindo milhões de eleitores. O WhatsApp é o mais usado para enviar notícias sobre política e eleições. De acordo com o Datafolha, 66% dos brasileiros têm conta no serviço, que não permite medir o alcance das fake news.
O Núcleo de Dados de O Globo, informou o jornal, analisou 18 páginas que compartilharam mentiras desde o fim de semana. As publicações mais recentes têm, em média, nove vezes mais interações e compartilhamentos do que postagens feitas pelas mesmas páginas nas primeiras semanas de setembro. Em média, cada publicação com conteúdo falso foi compartilhada 13,7 mil vezes. No início do mês, essa média era de 1,4 mil.
As milhares de interações – a soma de reações, comentários e compartilhamentos – ajudam a amplificar o alcance de uma postagem no Facebook. Uma das publicações que viralizou nos últimos dias, da página Planeta Brasil, por exemplo, traz um vídeo dizendo que a foto da manifestação contra o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) no Largo da Batata, em São Paulo, no sábado, era antiga e foi tirada durante o carnaval de 2017. Apesar de ser falso, o vídeo teve mais de 1,5 milhão de visualizações e 83 mil compartilhamentos.
Professor de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP)e um dos coordenadores do Monitor do Debate Político do Meio Digital, projeto que faz o acompanhamento do que é publicado nas redes sociais, Pablo Ortellado explicou ao O Globo que momentos de aumento da temperatura política são mais propícios para a circulação de desinformação. O especialista alertou para o risco que esse tipo de conteúdo pode gerar. “Esses boatos têm um dano terrível para a democracia, pois está sendo forjado um juízo político e há pessoas tomando decisões em cima de informações falsas, o que deturpa muito o jogo político”. Para o cientista político Rafael Sampaio, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mensagens falsas que circulam nas redes servem para reforçar o voto de quem já se decidiu ou ainda para aumentar a rejeição a certo candidato.
“Geralmente a “fake news” não é positiva, é negativa, para aumentar a rejeição. O perigo disso é que uma pessoa que não era tão radical no começo da eleição vai sendo contaminada e ficando mais radical. O efeito real é sobre aquelas pessoas que até poderiam mudar de candidato, mas que acabam cristalizando o voto”, afirmo Sampaio ao jornal O Globo.
Perigo no WhatsApp
No WhatsApp, aplicativo de mensagens do Facebook, os materiais falsos se propagam com ainda mais velocidade e, infelizmente, de forma eficiente, pois são impossíveis de serem rastreados uma vez que as conversas são criptografadas. Ao mesmo tempo, relata O Globo, é fácil encaminhar mensagens recebidas.
O coordenador do projeto Eleições sem Fake, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabricio Benevenuto confirma a sensação de que há muitos conteúdos falsos no WhatsApp. Seu grupo monitora as fotos, vídeos, áudios, textos e links mais compartilhados em cerca de 200 grupos abertos no aplicativo – que podem ser acessados por links de convites oferecidos em páginas na internet.
Na última terça-feira (2), a ferramenta identificou que o texto mais compartilhado foi uma mensagem falsa que diz que o voto é anulado se o eleitor escolher apenas presidente e votar em branco para os outros cargos. A mensagem falsa foi compartilhada em 23 grupos monitorados pelo projeto da UFMG. “É uma ferramenta que entrou com um peso muito grande na eleição, mas não conseguimos saber quem são os criadores do conteúdo e rastrear a origem”, afirma Fabricio Benevenuto ao O Globo.
ANJ