Imagine uma sala de aula cheia de crianças que compartilham a coincidência de viverem juntas a primeira infância. Nesta classe, muitos desses pequeninos têm a facilidade de interagirem entre si – por mais que algumas lágrimas corram pelo rosto da menina que foi mordida pela coleguinha enquanto brincavam de amarelinha. Agora, visualize como seria o convívio nesta sala para um garoto que vive dentro espectro autista e possui dificuldades de sociabilidade.
Em consonância com o Mês Mundial da Conscientização do Autismo (celebrado no dia 2 de abril), a psicopedagoga e diretora do Educandário Jardim das Goiabeiras, Ivete Ferreira, explica que – independente do grau de autismo – toda criança pode desenvolver habilidades de interação. Neste viés, ela alerta para a importância do papel desempenhado pela escola, bem como pela desmistificação do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
"Como qualquer outra, a criança autista se torna mais sociável quando está na escola e em contato com outras crianças. Também é neste ambiente que ela amplia o desenvolvimento de diversas habilidades. A evolução é gradual – e no tempo de cada um –, mas ela acontece. Inclusive, precisamos desmistificar cada vez mais os assuntos relacionados ao transtorno do espectro autista – um assunto que era pouco discutido até então", explica.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) existem cerca de 70 milhões de autistas no mundo – sendo mais comum em meninos do que meninas. No Brasil, não há estatísticas oficiais, mas se estima que 2 milhões de pessoas estejam no espectro autista.
PARA ALÉM DO APRENDIZADO – Diagnosticado com deficiência auditiva e distúrbio comportamental dentro do espectro autista, Ian Ferraz, de apenas cinco anos, sentiu dificuldades para se adaptar à escola. Quem relembra a trajetória é sua mãe, Márcia Amélia Ferraz.
"Existiu um obstáculo no sentido dele estar com outras crianças. De início, ele foi agressivo com as professoras. Só que todas elas eram muito bem preparadas – munidas de carinho, cuidado e atenção. Apesar da difícil ambientação, Ian aprendeu a conviver com outras crianças e, acima de tudo, a interagir com todas elas. Hoje, ele fica radiante ao chegar na escola. Os colegas dele também ficam igualmente felizes com a chegada dele", enfatiza com os olhos marejados.
Segundo a psicopedagoga, a agressividade é um dos sinais mais comuns durante o período da adaptação, pois representa uma mudança na rotina na vida da criança – que tem na repetição um "mapa" para conhecer o mundo. Para tornar essa transição mais suave, o ambiente escolar deve estar preparado. Da mesma forma, Ivete recomenda que os pais se tranquilizem e evitem superprotegerem os filhos autistas justamente por temerem reações traumáticas na escola.
"A interação social é tudo de bom para todas as crianças – sejam elas, autistas ou não. Este zelo, por vezes excessivo, dos pais acontece justamente na hora de deixá-los sozinhos na escola. Ou seja, no momento em que acontece a socialização, que é importantíssima para a criança autista. Aliás, o respeito e, sobretudo, a conscientização das pessoas em relação ao distúrbio torna mais fácil a convivência entre crianças", pondera.
RESPEITO À INDIVIDUALIDADE – No caso do pequeno Ian, o colégio permitiu que o garoto – diante da dificuldade de ficar dentro da sala de aula – tivesse livre acesso para transitar por todo o ambiente escolar. O pequeno andava por corredores, parquinho e jardim. Para a mãe do garoto, este foi um dos pontos mais significativos na ambientação do filho.
"Ele se sentiu seguro ali. Foi imprescindível que a escola tivesse esse cuidado. Afinal, todas as crianças são diferentes. No entanto, é difícil encontrar uma escola que trate e respeite essas muitas singularidades de forma individual e igualitária. Como mãe de um aluno que vive sob o espectro autista, acredito que é essencial um ensino afetuoso, respeitoso e humano", reforça Márcia.
A psicopedagoga destaca que, para se atingir o êxito no trabalho com crianças autistas, as instituições de ensino precisam estar preparadas, com uma equipe pedagógica atenta e capacitada, para atender às necessidades dos alunos.
"Neste sentido, a pedagogia afetiva – a qual o Educandário Jardim das Goiabeiras preconiza – auxilia muito no desenvolvimento de alunos especiais, pois trabalha a educação por meio do carinho e do amor ao próximo. Isto, tendo como base também o lúdico e a utilização de recursos que venham a estimular o aluno. É como se a escola fosse uma extensão da família, o que é essencial para o desenvolvimento das crianças autistas. Torna-se um ambiente seguro e de confiança para eles", reflete.
EDUCANDÁRIO – Por meio do Sistema Maxi de Ensino e da Pedagogia Afetiva, o Educandário Jardim das Goiabeiras – voltado para crianças com idades entre 4 meses e 5 anos – apresenta em sua estrutura espaços como berçário completo; salas climatizadas; kid play; mini parque aquático; campinho de futebol; pista de educação de trânsito; casa de boneca; refeitório; sala multifuncional (para balé, argila, artes e música); sala para filmes/descanso e fazendinha (criação de pequenos animais, horta sustentável, educação ambiental e parque de areia).