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Sábado, 11 de dezembro de 2010, 15h54
Quatro Décadas

Oscar Niemeyer planejou campus da UFMT, que não foi concretizado


Renê Dióz
Diário de Cuiabá

 

Um detalhe da origem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Maquete do que seria o campos pelas mãos de Niemeyer está guardada na casa do primeiro reitor, Gabriel Novis Neves. (Foto: Geraldo Tavares/DC)

há 40 anos curiosamente mostra o quanto pode ser cara uma obra de arte. Pouca gente sabe, mas antes da fundação em 1970 o já renomado arquiteto Oscar Niemeyer idealizou o campus de Cuiabá. As típicas curvas e o concreto armado do mestre só não foram erguidos no então vazio Coxipó devido ao alto preço de arquitetura tão moderna na época para os cofres públicos, um esquecido pedaço não realizado do sonho de uma universidade mato-grossense.

“Esquece esse negócio. Aqui, ninguém sabe que chegou revolução”, falara, ao telefone, o então governador Pedro Pedrossian para o comunista Niemeyer, temeroso de entrar num projeto federal justamente durante os “anos de chumbo”. O arquiteto estava exilado na Argélia, sentia-se acuado pelos militares, mas acabaria topando.

Do outro lado, no então longínquo e ainda uno Estado de Mato Grosso, Pedrossian e seu governo buscavam concretizar o projeto ambicioso, que deveria seguir o conceito de “campus” defendido por Darcy Ribeiro. Ou seja, um espaço físico onde se reunissem todas as áreas do conhecimento. A única experiência brasileira desse tipo até então era a da Universidade de Brasília (UnB), cujo projeto arquitetônico fora assinado por Niemeyer. Por isso, seu traço foi logo requisitado.

O primeiro reitor da UFMT, o médico Gabriel Novis Neves, conta que Niemeyer sequer pisou em Cuiabá para isso, mas de seu escritório enviou um desenho totalmente de acordo com a ousadia característica de suas formas e da chamada “Escola Carioca” de arquitetura, encabeçada por ele. O ex-reitor guarda até hoje um croqui desse projeto (ver ilustração e matéria). Por sua vez, a UFMT tem arquivadas as plantas que, em breve, servirão para o Departamento de Arquitetura confeccionar uma maquete do que poderia ter sido o campus.

Isso não quer dizer, entretanto, que o campus da forma que é não incorpore arquitetura moderna. Segundo o professor Ricardo Silveira Castor, do Departamento de Arquitetura da UFMT, elementos modernos podem ser vistos em prédios projetados por arquitetos como Oscar Arine e João Carlos Bross. Exemplos são o Museu do Índio, o Restaurante Universitário, a Biblioteca Central, o Teatro e o bloco de cursos como Ciências Econômicas e seus longos corredores.

Mas a ideia por trás do projeto não realizado era de erguer o mínimo de construções possíveis no terreno de 80 hectares (antes, região de chácaras no Coxipó). O mesmo conceito, elegante e favorável à máxima interação entre pessoas das mais diversas áreas do conhecimento, foi aplicado na Universidade Mentouri de Constantine, na Argélia, projetada por Niemeyer no exílio em 1969.

E, segundo Castor, o projeto para Cuiabá era bem o que se podia esperar de Niemeyer: o contraste entre estruturas leves e pesadas, concreto armado e aparente, curvas, pé-direito alto, grandes colunas de concreto, estruturas com perfil em formato de trapézio, outras formas geométricas, a sensação de unidade do conjunto e grandes extensões. “Na época, era inovador”.

PREÇO - O detalhe é que tamanha inovação custava muito caro. Novis relata que o projeto era lindo, tanto que pendura o croqui emoldurado na parede até hoje. Entretanto, além de valorizar a estética em detrimento da funcionalidade, o projeto previa custos elevadíssimos.

Ele não lembra as cifras exatas, mas diz que corria a informação de que, somente para uma dos grandes blocos, os custos extrapolavam o orçamento do próprio Estado. E calcula-se que, ainda hoje, executar um projeto como esse seria caríssimo. A julgar pelo que diz Novis, o reitor pioneiro, seria o preço por uma obra de arte mesmo, sonho salgado demais para o estado pobre que Mato Grosso era então. “Niemeyer não é arquiteto. É escultor”.




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