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Pesquisa/Tecnologia
Quarta, 24 de outubro de 2018, 06h05

Desafios globais envolvem acesso à água, alimento e energia


Entre os principais problemas do mundo que ainda não têm solução está a necessidade de maior acesso à água, alimento e energia. A questão é resultado de fatores como crescimento populacional, urbanização, alteração no padrão alimentar e, é claro, das mudanças climáticas.

O problema tem um forte impacto social e ambiental, principalmente porque as três áreas tendem a entrar em conflito. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a agricultura é o maior consumidor dos recursos de água doce do mundo, e mais de um quarto da energia utilizada globalmente é gasta na produção e no fornecimento de alimentos.

Alimentar uma população global que deverá atingir 9 bilhões de pessoas até 2050 exigirá um aumento de 60% na produção de alimentos. Como consequência, haverá maior consumo de água e energia.

É nesse contexto que se insere a Escola São Paulo de Ciência Avançada no Nexo Água, Alimento e Energia, que ocorre até 26 de outubro na Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Escola também conta com o apoio do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe-Unicamp).

“É um tema que tem relevância social, ambiental e econômica para o país. É um novo modo de pensar a ciência, levando em conta os conflitos e aspectos que envolvem essas três dimensões: água, energia e alimento”, disse José Roberto Guimarães, professor titular da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC-Unicamp) e pesquisador responsável pela ESPCA no Nexo Água, Alimento e Energia.

A Escola, apoiada pela Fapesp por meio da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), reúne 80 estudantes, sendo 40 de fora do Brasil, e também tem o intuito de atrair talentos para cursos de pós-graduação e centros de pesquisa no Estado de São Paulo.

O evento visa discutir sistemas complexos, compreendendo impactos sociais, econômicos e ambientais envolvidos nas decisões relativas à inovação tecnológica, gestão e ao desenho de políticas públicas.

“Todas essas mudanças pelas quais estamos passando ultimamente precisam ser articuladas em políticas de planejamento. Foi percebido, no entanto, que se houver um tratamento sistêmico entre essas três áreas é possível reduzir conflitos e conseguir ganho em eficiência. Portanto, a ideia dessa Escola é integrar a pesquisa em água, alimento e energia”, disse Paulo Sergio Franco Barbosa, professor do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos, Energéticos e Ambientais da Unicamp e um dos organizadores da ESPCA no Nexo Água, Alimento e Energia.

Essa nova abordagem em lidar e propor soluções integradas para os três temas é uma tendência de pesquisa. Na Fapesp, programas como o BIOTA e de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) representam esforços para oferecer oportunidades integradas em ciência. Outras agências de fomento, como a National Science Foundation (NSF), nos Estados Unidos, também dispõem de programas nesse mesmo sentido. 

Lado humano

“As discussões sobre as tensões e interdependência de alimento, água e energia têm potencial para uma ciência mais integrativa ao juntar engenharia, agronomia, hidrologia e ciências sociais. No entanto, é importante lembrar que estamos preocupados com o nexo água, alimento e energia porque estamos preocupados com o acesso das pessoas a esses três fatores. É essencial que elas sejam levadas em conta já no primeiro dia dos projetos”, disse Emílio Moran, professor visitante da Unicamp e professor da Michigan State University, durante a palestra.

Moran coordena projeto de pesquisa com apoio da Fapesp, no âmbito da modalidade São Paulo Excellence Chair (SPEC), que examina o impacto social e ambiental da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, próxima à cidade de Altamira, no Pará.

“No caso de Belo Monte, se as pessoas fossem levadas em consideração já no primeiro dia do projeto, talvez nem tivessem construído a hidrelétrica, ou provavelmente dariam mais tempo para que o município pudesse se preparar para os impactos que efetivamente sofreu. Haveria uma avaliação mais cuidadosa do impacto da usina na pesca, seriam construídos mais hospitais, escolas e haveria mais policiais antes de começar a obra”, disse Moran à Agência Fapesp.

Moran critica o fato de ser relativamente comum as pesquisas não levarem em conta o lado humano. “Por isso, meu objetivo nessa Escola São Paulo de Ciência Avançada foi conscientizar o grupo sobre as dimensões humanas. É preciso haver um esforço em integrar a comunidade social ao estudo da tríade água-alimento-energia”, disse.

Um exemplo concreto, segundo Barbosa, de que projetos que envolvam o nexo água, energia e alimento conferem maior eficiência pode ser sentido no Nordeste do Brasil. “O fato de a região ter mudado o perfil regional da matriz elétrica, expandindo as eólicas nos últimos quatro anos, foi muito importante para o enfrentamento da seca e reduzir o estresse hídrico da seca severa e prolongada dos últimos três anos”, disse à Agência Fapesp.

De acordo com o pesquisador, existem iniciativas que podem atuar nas três dimensões (água, energia e alimento). “É o meio que a comunidade científica internacional tem encontrado para pesquisa e também para propor políticas públicas”, disse.

Ainda sobre o exemplo do nexo ocorrido no Nordeste, Barbosa destaca que a expansão em energia eólica poupou cerca de 40% do volume de água disponível nos reservatórios das usinas hidrelétricas do rio São Francisco durante a seca de 2014 e 2015.

“Estima-se que, em 12 meses, foi poupado das hidrelétricas cerca de 40% do volume total de água. Portanto, sem a expansão elétrica, haveria falta de luz, ou prejuízo ainda mais grave aos outros usos de água para a irrigação e abastecimento de água nas cidades”, disse.

Para a estudante Paula Prado Siqueira, mestranda na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e uma das alunas da Escola, participar do evento é uma ótima oportunidade de se integrar com o que está sendo estudado de mais avançado em outras universidades e outros países.

Siqueira desenvolve projeto também no Nordeste. “Estudo o nexo na bacia do rio São Francisco e lá também não tem como fugir de um conflito entre esses três aspectos. Se não houver um nível mínimo nos reservatórios, não tem produção de energia. Se não chover e tiver água, ou se a água estiver sendo usada para irrigação, não tem mais produção de energia”, disse.

Agência Fapesp




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