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Segunda, 03 de julho de 2017, 10h07

Projeto pediátrico em Guiné-Bissau salva vidas com cuidados básicos


Guiné-Bissau tem uma taxa de mortalidade infantil muito elevada e essa foi uma das razões que levou MSF a trabalhar no país. Nos serviços pediátricos do hospital nacional Simão Mendes, sobretudo na Unidade de Cuidados Intensivos de Pediatria (UCIP), a mortalidade estava muito acima do que poderia ser considerado razoável. Assim, em fevereiro de 2016, MSF começou a apoiar vários serviços do hospital.

Neste momento, trabalhamos nas urgências pediátricas e na UCIP. Nas urgências, fazemos a triagem de todas as crianças, fazemos as consultas e temos uma sala de observação para monitorar, durante algumas horas, a criança que necessitar e decidir se ela deve ser internada na pediatria ou se necessita de mais cuidados e deve ser internada na UCIP.

Sendo o hospital de referência de todo o país, chegam aqui crianças por muitos motivos: acidentes de trânsito, pneumonias, apendicites etc. Depois, há doenças que são sazonais, como por exemplo a malária; sabemos que, daqui a poucas semanas, começará a época em que essa doença é mais habitual. Mas a grande maioria das crianças que observamos são recém-nascidos que vêm diretamente das urgências ou da maternidade.

O foco nos recém-nascidos

São consideradas recém-nascidas as crianças entre 0 e 28 dias, sendo esse um momento crítico para uma criança doente e que necessita de cuidados mais específicos. Segundo a OMS, cerca de 45% do total de mortes de crianças com menos de 5 anos no mundo ocorre nesse período.

Neste momento, temos 24 leitos na UCIP: 12 de pediatria e 12 para recém-nascidos. Mas, em agosto, vamos abrir uma seção de neonatologia com 40 leitos, onde poderemos aumentar a qualidade do atendimento aos neonatos. Também haverá um espaço para o método Canguru, onde os bebês prematuros estão em contato com a pele de suas mães ou pais, o que está provado cientificamente que melhora o desenvolvimento do bebê. Também será mais fácil lidar com as complicações mais habituais como a sepse ou as asfixias perinatais.

Além disso, estamos reforçando nossa colaboração com a maternidade. Em muitas ocasiões, os problemas dos recém-nascidos devem-se a complicações durante o parto; por isso, é crucial que tenhamos uma boa comunicação com este serviço. Por um lado, fazemos capacitação para melhorar algumas práticas na maternidade e, por outro, trabalhamos para que as crianças que necessitam desses cuidados sejam rapidamente reencaminhadas.

Construir uma boa base

Desde que começamos a trabalhar na UCIP, a principal tarefa de MSF tem sido construir as bases de cuidados mínimos de qualidade e isso tem feito uma enorme diferença em termos de mortalidade. Estamos garantindo que os padrões mínimos são cumpridos, o que antes não ocorria. Por exemplo, que seja corretamente colocada uma sonda, que seja seguido adequadamente um protocolo ou que seja administrado rigorosamente um tratamento. São coisas básicas que podem salvar muitas vidas, inclusive sem contar com tecnologias ou tratamentos muito especializados.

Assim, com bons serviços de enfermaria e medicina e com ferramentas básicas que nos permitam identificar rapidamente a criança que necessita de tratamento e administrá-lo, podemos fazer a diferença. Além disso, é imprescindível construir essa base onde se garantam os cuidados médicos básicos para depois seguir para tratamentos mais sofisticados ou mais complexos tecnicamente.

Nestes meses em que tenho estado em Bissau, tenho observado uma grande evolução no trabalho diário, tanto no seguimento adequado dos pacientes, como na correta supervisão do pessoal para permitir corrigir erros e fazer uma formação constante.

Formação para suprir a falta de pessoal

Para conseguir melhorar a qualidade dos cuidados que oferecemos, necessitamos, além de medicamentos e material, de mais pessoal e com melhor formação. E isso, em Guiné-Bissau, como em muitos outros contextos onde trabalhamos, é um enorme desafio.

Em Bissau não existe a especialidade de pediatria na universidade, de modo que todos os médicos nacionais que trabalham conosco no hospital são generalistas. Por isso, a formação é um dos eixos principais do nosso trabalho. Atualmente, há três pediatras estrangeiros no projeto para poder capacitar a equipe.

Além disso, pelo hospital também passam estudantes de enfermaria e medicina da universidade, que fazem plantões nas urgências e na UCIP. É algo muito positivo porque terão conhecimentos mínimos de atendimento pediátrico de qualidade quando se licenciarem. Com o tempo, estamos criando todo um conhecimento sobre cuidados pediátricos que vai permanecer no país quando MSF partir.

E essa capacitação começa a dar resultados. Os médicos veem que com uma triagem rápida e administrando os medicamentos corretamente é possível salvar muitas crianças e estão cada vez mais motivados para fazer bem seu trabalho.

Depoimentos da UCIP

Lídia Ca, 19 anos, deu à luz aos seis meses de gravidez. Sua filha nasceu na maternidade do hospital, pesava apenas 900 gramas e teve de ser internada na UCIP. “Aqui tratam-me bem, minha filha está bem cuidada e recebe tratamento gratuito. No começo, não queria ficar no hospital e, mesmo já estando habituada, agora, quero voltar para casa! Disseram-me que um bebê de seis meses não sobrevive, mas os médicos têm feito com que a minha filha sobreviva; agora só estamos à espera que ganhe peso para levá-la para casa”.

Carla recorda bem seu caso. “Lídia e o seu bebé estiveram numa sala de isolamento para evitar infeções porque a menina era muito pequena e seu sistema imunológico ainda não estava desenvolvido. Durante as primeiras semanas, administramos o tratamento médico de acordo com os protocolos e a alimentamos adequadamente através de uma sonda nasogástrica, porque era incapaz de fazê-lo por si própria. Além disso, controlamos os seus sinais vitais rigorosamente já que, devido à sua prematuridade e baixo peso, apresentava riscos de hipotermia. Também era importantíssimo que a Lídia entendesse que o importante era que a sua filha estivesse bem alimentada e quente. Finalmente, em meados de junho, demos por fim a alta; pesava 1700 gramas e na sua primeira visita de controle tinha chegado a um 1,790”.

Virginia Nhassé, 34 anos, levou a sua filha ao hospital porque ficou muito doente. “Ivana tem melhorado bastante porque já consegue se deitar, dormir, sorrir e comer um pouco. Agora está bem. Se você a tivesse visto ao chegar, não acreditaria. Não tinha esperança de que sobrevivesse, mas agora está bem e dou graças a Deus. O meu plano é que fique melhor e possa ir para casa, porque a minha família e o meu marido zangaram-se comigo por decidir trazê-la aqui [e não a um ritual tradicional]. Mas se Ivana voltar a precisar de tratamento, vou tratá-la sem dúvida”.

“Ivana chegou à UCIP em situação muito crítica, com o sistema imunológico muito debilitado, apresentando uma sepse somada à sua patologia crônica de base e agravada por malnutrição grave. Requereu tratamento intensivo, bem como tratamento nutricional e oxigenoterapia. São doentes de difícil tratamento porque são muito sensíveis e temos de ser muito rigorosos no controle mas, pouco a pouco, tem melhorado muito”, explica Carla. 




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