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Segunda, 01 de janeiro de 2018, 13h46

Rohingya: emergência da difteria está colocando refugiados em situação mais difícil


Foto: Mohammad Ghannam
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A difteria, uma doença há muito esquecida na maior parte do mundo graças a taxas crescentes de vacinação, agora está ressurgindo em Bangladesh, onde mais de 655 mil Rohingyas se refugiaram desde 25 de agosto, depois do aumento da violência em Mianmar. Até 21 de dezembro, Médicos Sem Fronteiras (MSF) recebeu mais de 2.000 casos suspeitos em suas unidades de saúde na região de Cox´s Bazar, e o número continua a aumentar a cada dia. A maioria dos pacientes tem entre 5 e 14 anos.

"Fiquei muito surpreso quando recebi a primeira chamada do médico da clínica dizendo que tinha um caso suspeito de difteria. ‘Difteria’, perguntei, ‘você tem certeza?’ Ao trabalhar em um acampamento de refugiados, você mantém os olhos abertos para doenças infecciosas evitáveis com vacina, como o tétano, o sarampo, a pólio, mas a difteria não estava no meu radar", diz Crystal VanLeeuwen, coordenador médico de emergência de MSF para Bangladesh.

A difteria é uma infecção bacteriana contagiosa que muitas vezes causa o acúmulo de uma membrana aderente branco-acinzentada na garganta ou no nariz. A infecção é conhecida por causar obstrução das vias aéreas e danos ao coração e ao sistema nervoso. A taxa de fatalidade aumenta sem a antitoxina da difteria (ATD). Com a escassez global da ATD e a quantidade limitada que chegou a Bangladesh há pouco mais de uma semana, existe a possibilidade de uma emergência de saúde pública, ameaçando uma população que fugiu de uma ameaça, a violência, e está agora confrontada com outra: o surto da doença.

Se um paciente não receber a ATD no início da progressão da doença, a toxina continua circulando no corpo. Isso pode causar danos aos sistemas nervoso, cardíaco e renal semanas após o período de recuperação inicial. "O primeiro caso suspeito que identificamos foi o de uma mulher com cerca de 30 anos de idade. Ela chegou ao nosso centro de saúde no início de novembro e a tratamos com antibióticos. Ela saiu da clínica, mas retornou mais de cinco semanas depois. Tinha dormência nos braços, mal podia ficar de pé ou andar e tinha dificuldade de engolir. Nessa fase, é tarde demais para dar a ela a ATD. "

Hoje, existem menos de 5.000 frascos de ATD globalmente. "Não há medicação suficiente para tratar todas as pessoas que precisam e somos forçados a tomar decisões extremamente difíceis", diz VanLeeuwen. "Existe aqui uma questão de ética e de equidade."

O surgimento e a disseminação da difteria mostram o quão vulneráveis são os refugiados Rohingya. A maioria deles não é vacinada contra qualquer doença, pois têm acesso muito limitado a cuidados de saúde de rotina, incluindo vacinas, em Mianmar. A difteria é transmitida por secreções nasais e se espalha facilmente nos assentamentos de refugiados, onde as pessoas vivem em condições de superlotação, em abrigos contíguos. Às vezes, famílias com até dez pessoas vivem em um espaço muito pequeno.

MSF respondeu à disseminação rápida da difteria convertendo em centros de tratamento uma de suas enfermarias de cuidados materno-infantis no acampamento improvisado de Balukhali e uma enfermaria que estava pronta para ser aberta perto de Moynarghona. Além disso, MSF criou um centro de tratamento em Rubber Garden, onde anteriormente funcionava um centro de trânsito para recém-chegados. A capacidade total de leitos aumentará para 415 camas até 25 de dezembro.

Para evitar a propagação da doença, as equipes de MSF também estão fazendo rastreamento e tratamento de pessoas que podem ter entrado em contato com a difteria na comunidade. Assim que um caso é identificado, uma equipe visita a família, dá antibióticos e procura na área outros casos para encaminhamento e tratamento.

Para conter a propagação de doenças evitáveis, a medida mais importante é garantir a cobertura da vacinação no menor tempo possível. O Ministério da Saúde e Bem-Estar da Família de Bangladesh, com o apoio de outros atores, acabou de começar uma campanha de vacinação em massa, que MSF está apoiando com a criação de postos fixos em nossos centros de saúde. Mas os desafios permanecem. Uma pessoa não vacinada ganha imunidade após um mínimo de duas vacinas, administradas com quatro semanas de intervalo. Essa é uma população que conhece pouco ou nada sobre o benefício das vacinas, e que há menos de um mês participou de uma campanha de vacinação contra o sarampo. Muitos não entendem por que precisam de outra vacina. A comunicação com a população é fundamental para assegurar uma boa cobertura da vacinação.

MSF também está tentando garantir que todos os refugiados recém-chegados sejam vacinados antes de serem transferidos para os acampamentos, mas, dado o tempo necessário para completar a imunização, e, na ausência de um lugar onde eles possam ser temporariamente abrigados, isso é outro grande desafio.

Como uma organização médico-humanitária, também enfrentamos um dilema. "Mesmo antes da difteria, havia falta de leitos para internação. Agora, tivemos que converter parte dos leitos que havia em áreas exclusivas para o tratamento e isolamento de pacientes com difteria. As mulheres e crianças que anteriormente podiam ter acesso à enfermaria não têm mais essa opção. Isso também está criando uma pressão sobre o espaço e o pessoal disponível em unidades de internação que antes tinham uso geral e agora atendem os pacientes com difteria. As equipes têm se adaptado à mudança da situação, mas todos enfrentamos novos desafios a cada dia", acrescenta Crystal VanLeeuwen.

Pavlo Kolovos, coordenador geral de MSF em Bangladesh, diz que "esses casos de difteria se juntam a um surto de sarampo em curso e às enormes necessidades de saúde em geral dessas milhares de pessoas. Elas já são vulneráveis, chegando com quase nenhuma cobertura de vacinação. Agora vivem em um acampamento extremamente denso, com más condições de água e higiene. Até que esses problemas sejam resolvidos, continuaremos a enfrentar novos surtos de doenças e não apenas de difteria."




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