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Quinta, 19 de julho de 2018, 11h34

Da esquerda à direita, imprensa cobra do Facebook uma definição sobre o que considera jornalismo


Uma enfática reclamação feita por jornalistas de veículos de comunicação, na semana passada, à diretora de parcerias com a mídia do Facebook, Campbell Brown, expôs uma dificuldade diária da rede social, que parece não parar de crescer: identificar, sem assumir sua condição de publisher, o que é e o que não é notícia, ao mesmo tempo em que atende bilhões de usuários com diferentes crenças políticas. Esse dilema também foi a pauta central de depoimentos de executivos do Facebook, Twitter e YouTube, nesta terça-feira (17) no Congresso dos Estados Unidos.

Diante de questionamentos, Campbell Brown preferiu enfatizar a suposta neutralidade do Facebook. Também destacou o esforço da rede social em trabalhar ao lado de organizações de verificação de fato no combate às notícias falsas. No entanto, ela não respondeu a perguntas pontuais, o que revela a dificuldade da rede social em se posicionar a favor do jornalismo de qualidade, relatou o site Recode.

Ben Smith, do BuzzFeed, por exemplo, pressionou a diretora de parcerias com a mídia do Facebook a explicar como o gigante de mídia social define o jornalismo e quem o pratica. O foco de sua ira, informou o Recode, foi a presença de seis publicações conservadoras em uma reunião bianual que Brown realizou na última quinta-feira (12), em Nova York. Uma das publicações cuja presença foi criticada pelo jornalista é o Daily Caller, um popular e controverso blog fundado pelo apresentador da Fox News, Tucker Carlson, e pelo atual editor Neil Patel.

As críticas de Smith foram repetidas pela principal editora do Huffington Post, Lydia Polgreen. Fontes disseram que ela e a editora da Vox Media, Melissa Bell, argumentaram com Brown sobre a necessidade de o Facebook ser mais claro em definir o que considera ser uma organização de notícias legítima.

Na prática, a rede social tem se mostrado incapaz de fazer isso, para não prejudicar seus negócios. No ano passado, o Facebook considerou a página oficial das as blogueiras pró-Trump Diamond and Silk como “insegura para a comunidade”. Logo depois, a iniciativa foi considerada um erro pela empresa.

Na semana passada, o Facebook foi amplamente atacado pela mídia por defender o InfoWars, o site de extrema direita dirigido por Alex Jones, que propaga teorias conspiratórias e desinformações. Quando perguntado o motivo pelo qual a página tinha permissão para operar no Facebook apesar dos esforços para conter notícias falsas, a empresa alegou se tratar de “liberdade de expressão”.

O caso do InfoWars é emblemático. O Facebook não considera a publicação uma organização de notícias, e é por isso que o site não foi convidado para a conversa com Campbell Brown, na semana passada. O mais confuso para os usuários, no entanto, é que o InfoWars se identifica no Facebook como um "site de notícias e mídia".

O Facebook, conta o Recode, enfrenta contratempos quase semanais, muitos dos quais foram feitos por ele mesmo. "Os engenheiros que administram esse lugar estão completamente despreparados para lidar com o que criaram", disse um executivo da mídia. Uma grande parte do problema é que há muitas nuances, às vezes desconcertantes, e definitivamente conflitantes na abordagem do Facebook. A empresa não quer ajudar a espalhar desinformação, mas também não decide o que é verdadeiro ou o que é falso, diz o Recode.

A pressão maior vem dos conservadores. O jornalista especialista em tecnologia Mathew Ingram, da Universidade Columbia, diz que a grita dos republicanos contra a suposta censura do Facebook vem desde 2016. No entanto, não há indício algum disso, até pelo contrário. Ingram lembra que os conservadores reclamaram ao Facebook de alguns comentários dos editores humanos contratados pela rede social para monitorar conteúdo. De imediato, a rede social respondeu demitindo quase todos os profissionais.

Embate político

Na terça-feira, boa parte do tempo de depoimento dos executivos do Facebook, Google e Twitter foi gasto para responder as acusações de republicanos. Os gigantes da tecnologia, no entendimento deles, censuram notícias e opiniões conservadoras. O deputado Lamar Smith, por exemplo, chegou a acusar o Google de censurar a palavra "Jesus" em alguns resultados de pesquisa.

A linha adotada pelos republicanos provocou os democratas, e a audiência se tornou uma batalha política. Jamie B. Raskin disse que os republicanos estão promovendo uma "narrativa imaginária" de censura. Ted Place, mais tarde, chamou a audiência de “idiota". Muitos democratas aproveitaram para perguntar sobre os esforços da Rússia para espalhar desinformação online. Isso ofereceu a eles uma oportunidade para atacar o presidente Donald Trump. Ao mesmo tempo, os democratas tentaram pressionar o Facebook por não proibir o InfoWars.

Em resposta, as empresas de tecnologia seguiram o mesmo caminho escolhido por Campbell Brown diante dos jornalistas: enfatizaram suas neutralidades. "Nosso sucesso como empresa depende de tornar o Twitter um espaço seguro para a liberdade de expressão", disse Nick Pickles, assessor que testemunhou em nome do Twitter. Nesse caso, houve consenso entre democratas e republicano: frustração.

Dados nas mãos dos russos

Em meio a esse debate, o Escritório do Comissariado da Informação (ICO, na sigla em inglês), órgão regulador de proteção de dados do Reino Unido, anunciou nesta quarta-feira (18) que os dados de 87 milhões de usuários que foram coletados pela Cambridge Analytica podem ter sido acessados pelo governo da Rússia. A informação faz parte da investigação do que teve início em março deste ano, informou a CNN, segundo relato do jornal O Estado de S.Paulo.

O ICO anunciou que encontrou evidências de que as informações foram acessadas pela Rússia e outros países. As investigações estão focadas agora em saber a quais dados os russos tiveram acesso. “Nós queremos saber se eles poderiam pegar alguns desses dados e usá-los para qualquer coisa que quisessem fazer”.

O órgão disse ainda que pode ter sido possível que os russos tenham usado as informações coletadas pela Cambridge Analytica para direcionar os anúncios publicados nos Estados Unidos durante a eleição presidencial de 2016. Aleksandr Kogan, criador o aplicativo This is Your Digital Life (Essa é a sua vida digital, na tradução livre do inglês) usado para coletar os dados no Facebook e vender para a Cambridge Analytica, negou que tenha repassado as informações aos russos. “Porém, eu não sei o que poderia ter acontecido com os dados depois que entreguei à Cambridge Analytica”, disse o pesquisador à CNN.

ANJ




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