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Segunda, 26 de novembro de 2018, 10h13

Ex-executivo assume culpa por ataques e Zuckerberg diz que não sai do comando da empresa


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O ex-chefe de comunicação do Facebook, Elliot Schrage, assumiu a culpa pela contratação da empresa de marketing político Definers Public Affairs para atacar críticos e concorrentes da rede social do bilionário Mark Zuckerberg. Mesmo que a afirmação seja verdadeira e alivie a pressão em relação à chefe de operações da empresa Sheryl Sandberg, centro do escândalo envolvendo a Definers, revelado pelo The New York Times, e ao próprio Zuckerberg, trata-se de mais um sinal de má administração, que tanto temor tem causado aos investidores do Facebook, além de observadores – preocupados com os impactos sociais e políticos que representam os problemas na mídia interativa – e de seus mais de 2 bilhões de usuários.

Em meio ao mea-culpa de Schrage, Zuckerberg deu uma entrevista à CNN na noite de terça-feira (20) na qual deixou claro que deixar a presidência do conselho da empresa “não é o plano”, mesmo agora após a repercussão do novo escândalo. A possibilidade de saída foi proposta por acionistas no mês passado. Ele também disse que manterá Sandberg no cargo, apesar de a reportagem pelo The New York Times indicar a executiva como responsável pela maioria das decisões controversas, como, por exemplo, ignorar a investigação interna a respeito da influência russa nas eleições americanas de 2016. “Ela tem sido uma parceira importante para mim nos últimos dez anos. Estou muito orgulhoso do trabalho que temos feito juntos, e espero que trabalhemos juntos nas décadas que virão”, disse Zuckerberg

Apesar dos comentários, são crescentes os pedidos de investidores para que o Facebook indique um presidente independente. Jonas Kron, vice-presidente sênior da Trillium Asset Management, investidor norte-americano que possui pesada participação na rede social, disse que Zuckerberg terá de renunciar ao seu papel de presidente.

"O Facebook está se comportando como se fosse um floco de neve especial", disse. "Não é. É uma empresa, e as empresas precisam ter uma separação de presidente e CEO”. O controle de Zuckerberg é "um exercício para esconder que há um problema, em vez de admitir que existe um problema e estabelecer um roteiro para resolvê-lo", disse a investidora Natasha Lamb, sócia e gerente da Arjuna Capital.

Zuckerberg é dono de 60% da empresa e atua como presidente do Conselho de Administração além de seu papel como CEO. "A posição dominante de Zuckerberg não tem ajudado a administrar a empresa nos últimos anos. As ações caíram mais de US$ 100 bilhões duas vezes este ano, e você pode vinculá-las diretamente a esses problemas de plataforma", enfatizou Natasha.

O posicionamento de Schrage foi feito em um memorando interno, obtido pelo site TechCrunch. Diz parte do memorando: "A responsabilidade por essas decisões é da liderança do time de comunicações. Esse sou eu. O Mark e a Sheryl confiaram em mim para lidar com isso sem controvérsia. Eu sabia e aprovei a contratação da Definers e de empresas similares. Eu deveria ter ficado sabendo da decisão deles de expandir suas ações".

O Facebook rompeu com a Definers Public Affairs um dia após a reportagem do jornal, no dia 15. Em uma conferência com jornalistas também no dia 15, o presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg criticou o trabalho da Definers descrito na reportagem, e disse que ele e a chefe de operações da empresa Sandberg não sabiam sobre as funções da empresa de marketing político. "Soube sobre esse relacionamento quando li este artigo do The New York Times”. O The New York Times, entretanto, ressaltou que a chefe de operações supervisionou os esforços do Facebook para afastar os críticos e os reguladores.

Omissão de informações sobre interferência russa e alertas minimizados

Após reportagem do jornal norte-americano The New York Times, publicada na semana passada, mostrar que o Facebook sabia bem mais do que admitiu e evitou agir diante de escândalos como a interferência russa na eleição presidencial norte-americana, bem como a apropriação de dados de usuários pela empresa Cambridge Analytica, cresceu no Congresso dos Estados Unidos a ímpeto favorável à regulamentação às empresas de tecnologia, em especial a rede social de Zuckerberg. O deputado democrata David Cicilline, cotado para ser o próximo presidente do comitê antitruste da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, disse nesta quarta-feira (14) que a autorregulamentação do Facebook não é confiável e que o legislativo precisa tomar medidas contra a empresa.

Por meio de uma publicação em seu perfil no Twitter, segundo informou o jornal O Estado de S.Paulo, o parlamentar comentou a reportagem do jornal The New York Times, publicada no Brasil na sexta-feira (16) pela Folha de S.Paulo, sobre os esforços da maior rede social do mundo em lidar com uma série de crises. “A reportagem deixa claro que os executivos do Facebook sempre colocarão seus lucros massivos à frente dos interesses de seus usuários. Já passou da hora de agirmos”, criticou.

O senador democrata Richard Blumenthal, por sua vez, disse que a história publicada pelo The New York Times, é um "lembrete arrepiante” de que a grande tecnologia não é mais confiável. "Ontem, ficamos sabendo que quando Mark Zuckerberg disse ao povo americano que a interferência da Rússia era uma 'ideia muito louca', ele sabia que isso era totalmente falso", disse Blumenthal. “Em vez de assumir a responsabilidade por uma profunda quebra de confiança, os executivos do Facebook procuraram por meses reter informações significativas e desviar as críticas. Pior, em sua evasão, o Facebook contratou operadores políticos tóxicos que tentaram enganar o público e desacreditar os críticos da empresa”.

Ben Sasse, um republicano do Comitê Judiciário do Senado que interrogou Zuckerberg durante sua visita ao Capitólio alertou: “Em vez de transformar isso em outro debate preguiçoso sobre a esquerda, a direita e as eleições de 2016, o Vale do Silício e Washington devem trabalhar para combater a ameaça real de que as operações de informação despejam gasolina em quase todas as guerras culturais que dividem o povo americano. O Facebook precisa parar de tratar isso como uma crise de relações públicas e Washington precisa parar de tratar isso como uma oportunidade partidária – essa é uma ameaça real à segurança nacional".

O The New York Times disse que Zuckerberg e a diretora de operações da empresa, Sheryl Sandberg, ignoraram sinais de alerta de que a rede social poderia ser "usada para interferir em eleições, transmitir propaganda viral e inspirar campanhas letais de ódio ao redor do mundo". E quando os sinais de alerta se tornaram evidentes, eles "procuraram escondê-los” da opinião pública.

"Agora sabemos que, uma vez que eles sabiam a verdade, os executivos do Facebook fizeram tudo o que podiam para escondê-la do público usando um manual de reprimir a oposição e propagar teorias da conspiração", disse Cicilline. O parlamentar deve assumir a posição de presidente do comitê antitruste da Câmara em janeiro de 2019. Em sua publicação, o democrata anunciou que o Congresso vai promulgar novas leis para “restaurar os direitos dos americanos" a partir do ano que vem. O Facebook não quis comentar as declarações.

O papel de editor que Zuckerberg não quis assumir

Em 2016, a jornalista Emily Bell, da conceituada Columbia Journalism Review, previu o que vinha pela frente para o Facebook, uma vez que a rede social insistia em um modelo de negócio totalmente voltado ao lucro, a qualquer custo, e apontou um caminho que, se fosse seguido, talvez as notícias atuais sobre a maior rede social do mundo tivessem outro viés.

“A boa notícia para Zuckerberg é que, ao contrário da maioria das pessoas, ele pode tornar o mundo um lugar melhor quase que imediatamente, assumindo mais responsabilidade pelas políticas de publicação do Facebook. Reconhecendo que o Facebook pode e deve desempenhar um papel mais ativo na edição – sim, edição – de sua própria plataforma e na contratação de pessoas para fazê-lo, Zuckerberg promoverá o bem comum e abordará um problema crescente de como as pessoas percebem o Facebook”.

Mark Zuckerberg escolheu um rumo bem diferente do que o sugerido por Emily. Em dezembro de 2016, o fundador e CEO do Facebook chegou a ridicularizar publicamente a informação – a tal “ideia muito louca” – de que notícias falsas na rede social ajudaram a eleger Trump.

Adie, negue e desvie

Depois disse, o Facebook entrou em uma espiral de escândalos, contradições e práticas pouco éticas. Em meio a uma série de tentativas de respostas aceitáveis. Zuckerberg disse há um ano que a empresa colocaria os usuários da rede social antes do lucro e dobrou o tamanho da equipe que trabalha com foco em questões de segurança. Os gastos também aumentaram no desenvolvimento de ferramentas automatizadas para identificar propaganda e material que viola as políticas de postagem da empresa. Outras iniciativas trouxeram maior transparência sobre os administradores de páginas e compradores de anúncios no Facebook. Alguns críticos, incluindo legisladores, especialistas e usuários, porém, argumentam que os sistemas e processos reforçados do Facebook são propensos a erros e que apenas as leis resultarão em melhor desempenho.

A reportagem do The New York Times, entretanto, expõe a verdade. O trabalho jornalístico consumiu tempo e esforço de investigação de cinco repórteres, que ouviram os testemunhos de mais de 50 pessoas, muitos deles concedidos com a condição do anonimato. Sob o título "Adie, negue e desvie: como a direção do Facebook lidou com a crise”, o texto afirma que, em 2016, no período que antecedeu a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, um funcionário do Facebook especializado em ciberguerra russa identificou atividades suspeitas e comunicou o chefe de segurança da rede social, Alex Stamos.

Hackers russos estavam invadindo contas de integrantes do Partido Democrata, o que levou ao roubo e vazamento de milhares de e-mails de líderes do partido. Também estariam por trás da divulgação de notícias falsas na plataforma. Stamos iniciou uma investigação e informou superiores, relatou o jornal Zero Hora, mas o Facebook não fez qualquer alerta sobre a ação russa durante a campanha.

O The New York Times afirma que Stamos, alarmado diante do que parecia ser um desconhecimento do chefe a respeito das descobertas de sua equipe, procurou Zuckerberg e a executiva operacional da empresa, Sheryl Sandberg. Na ocasião, Sheryl teria se voltado contra Stamos, dizendo que, ao investigar a atividade russa sem aprovação, ele havia deixado a empresa "exposta legalmente".

“Você nos atirou para os leões!”

Em setembro de 2017, mais de um ano depois de engenheiros do Facebook terem descoberto atividades suspeitas ligadas à Rússia no site, um dos primeiros indícios da campanha travada pelo Kremlin para perturbar a eleição americana de 2016. Investigadores federais e do Congresso estavam identificando evidências que apontariam para o envolvimento da empresa.

Mas não foi o desastre que se aproximava no Facebook que deixara irada Sheryl Sandberg, apurou o The New York Times. Foi o Stamos, que havia informado aos membros do conselho de direção da companhia que o Facebook ainda não havia contido a infestação russa, levando Sandberg e seu chefe bilionário um “humilhante” interrogatório pelo conselho de direção. Sandberg parecia encarar essa admissão como uma traição.

“Você nos atirou para os leões!”, ela gritou a Stamos, segundo pessoas presentes na ocasião. O confronto naquele dia iria desencadear um acerto de contas – para Zuckerberg, para Sandberg e para a empresa que eles ergueram juntos, diz o jornal norte-americano.

Apesar disso, afirma a reportagem, Zuckerberg e Sandberg resolveram expandir a investigação sobre fake news. Em janeiro de 2017, o grupo criado para fazer o trabalho já havia percebido que Stamos mal havia arranhado a superfície da interferência russa e propôs divulgar um comunicado público sobre o assunto. "Decididos a crescer, o par (Zuckerberg e Sandberg) ignorou os sinais de alerta e depois procurou escondê-los da vista do público", afirma o The New York Times. "Em momentos críticos dos últimos três anos, eles estavam distraídos por projetos pessoais e passaram decisões políticas e de segurança para os subordinados."

Zuckerberg e Sandberg não aceitaram falar com os repórteres do The New York Times. Stamos deixou a empresa. Em nota, o Facebook afirmou: "Este foi um momento difícil para o Facebook, e toda a nossa equipe de gerenciamento se concentrou em resolver os problemas que enfrentamos. Embora estes sejam problemas difíceis, estamos trabalhando duro para garantir que as pessoas achem nossos produtos úteis e que protegemos nossa comunidade de maus agentes".

Ação para desmoralizar os críticos

Mas os escândalos continuaram, quase que semanalmente. Ao mesmo tempo, a rede social tem até hoje dificuldade de cumprir com as promessas que faz para resolver seus problemas. O mais recente, afora assumido pelo ex-comandante das comunicações do Facebook, é a denúncia, parte da matéria produzida pelo The New York Times, segundo a qual a empresa e seus executivos espalharam informações incorretas para desacreditar seus críticos.

O serviço sujo, que reforça o comportamento do Facebook narrado pelo The New York Times, coube à empresa Definers, consultoria de relações públicas sediada em Washington, acusada de tentar manchar os oponentes e concorrentes da empresa. A consultoria também tentou desviar críticas à rede social pressionando jornalistas a investigarem rivais como o Google.

Resistente, mas em queda contínua de credibilidade

Apesar dos escândalos e de resultados abaixo da expectativa dos investidores, o Facebook permanece em sólida liderança, ao lado do Google, no meio digital. Ali Mogharabi, analista da empresa de pesquisa de investimentos Morningstar, diz que, a menos que a rede social sofra uma séria queda no número de usuários, a empresa continuará sendo uma fábrica de dinheiro.

"Enquanto os usuários permanecerem a bordo, os anunciantes alocarão seu orçamento de publicidade para o Facebook", disse. “Na minha opinião, o que os investidores devem focar é: 'isso impacta os usuários? Os usuários estão realmente saindo do Facebook ou do Instagram?’ Esse não é o caso."

Ainda assim, a confiança do público no Facebook foi corroída após sua série de escândalos. Entre os norte-americanos, 57% dos adultos dizem que as plataformas de mídia social prejudicam a democracia, de acordo com uma pesquisa recente da Axios e da SurveyMonkey. Em novembro do ano passado, apenas 43% acreditavam que empresas como o Facebook prejudicavam a democracia, enquanto uma pequena maioria acreditava que elas ajudavam.

ANJ




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