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Sábado, 02 de março de 2019, 14h37

Jornalismo perde credibilidade quando despreza fatos históricos, diz especialista da RJI


A credibilidade é uma das principais chaves na busca das empresas jornalísticas por monetização, e por isso os publishers estão em busca de práticas que fortaleçam a confiança da audiência em suas marcas. Uma delas, defende o historiador da mídia norte-americana Earnest Perry, pouco observada por alguns veículos, é a contextualização histórica dos fatos relatados na produção noticiosa.

“Os jornalistas tendem a gastar muito do seu tempo disponível para lidar com o ‘onde estamos agora’ e ‘para onde vamos’, em vez de ‘como chegamos aqui’, diz o acadêmico, em entrevista ao site do Reynolds Journalism Institute (RJI), da escola de jornalismo da Universidade do Missouri. Esse distanciamento, afirma, desgasta a credibilidade jornalística.

Um dos equívocos cometidos de forma recorrente, segundo Perry, é a classificação de “histórico” para uma série de acontecimentos sem levar em consideração antecedentes, muitos deles descritos nos livros e presente no conhecimento adquirido pelos historiadores. “Descrever algo que acabou de acontecer como ‘histórico’ é uma falácia”, sustenta.

Cada reportagem, afirma Perry, tem uma história que vai além das últimas 48 horas. “Quase qualquer notícia econômica tem uma história. Esta não é a primeira guerra comercial em que os Estados Unidos estiveram. Nem toda decisão da Suprema Corte norte-americana é ‘marco’”.

O historiador dá como exemplo a insistência de algumas redações em tratar a perigosa retórica do presidente norte-americano Donald Trump contra a imprensa, além de outras características do republicano, como se fosse algo jamais visto nos Estados Unidos, ainda que seja extremamente nocivo para o país e outras regiões do planetas. “Nós vimos isso”, enfatiza.

Aconteceu, conforme Perry, como o presidente John Adams [1797-1801], que pressionou pela redução da liberdade de imprensa durante sua administração. Abraham Lincoln [1861-1865] e Woodrow Wilson [1913-1921] fizeram o mesmo durante a Guerra Civil e Primeira Guerra Mundial. O historiador afirma ainda que o presidente Franklin D. Roosevelt e J. Edgar Hoover recorreram à prática durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto Richard Nixon insistiu nos ataques à imprensa no início de sua administração e, particularmente, durante o caso Watergate.

Outro exemplo dado por Perry é a cobertura sobre a supremacia branca. “Não é nova. Mais uma vez, remonta à fundação da República. Somos um país que legalizou a escravidão, travou uma guerra civil para acabar com ela e, depois, estabeleceu leis que legalizaram a segregação racial. Mas muitos dos jornalistas de hoje cobrem todos esses casos de supremacia branca como se nunca tivéssemos visto isso antes”.

Perry afirma que os jornalistas que buscam estabelecer uma rotina de fontes históricas, nos livros, artigos ou no diálogo com historiadores, se conectam melhor ao que está ocorrendo e podem oferecer ao seu público narrativa contextualizada autêntica e mais completa. “Os jornalistas gostam de se ouvir falar, mas precisam ouvir mais. Ouça o que as pessoas estão dizendo e por que elas estão dizendo isso”, recomenda.

ABr




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