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Saúde
Quinta, 25 de agosto de 2011, 08h54

Encontro de Psicologia debate 'medicalização' na alfabetização


O uso de medicamentos para tratar suposto desvio de atenção de crianças e jovens nas escolas foi o assunto da conferência de ontem (23) do I Encontro Integrado de Psicologia de Mato Grosso, evento realizado pelo Conselho Regional de Psicologia da 18ª Região de Mato Grosso (CRP/18 MT), pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pela Universidade de Cuiabá (Unic) e o pelo Centro Universitário de Várzea Grande (Univag).

Ministrada pela professora doutora da Universidade de São Paulo (USP) e representante do Conselho Federal de Psicologia, Marilene Proença, a palestra “O retorno das explicações organicistas na Educação: medicalização e medicação na escola” tratou sobre como as dificuldades na alfabetização de crianças e adolescentes estão sendo justificadas com apontamentos de distúrbios e transtornos de aprendizagem, servindo de cenário para a adoção da medicalização na educação. “É um processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em questões médicas”, sinalizou.

Marilene Proença alertou para o número crescente da prescrição a crianças e adolescentes de anfetaminas, a exemplo da ritalina, como forma de tratamento para possíveis transtornos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (IDUM), o Brasil é o segundo maior consumidor de ritalina no mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Em 2010, foram dois milhões de caixas do remédio comercializadas, 28 vezes mais do que há 10 anos. “Além desse número alarmante, ainda temos constatado projetos de lei que incentivam o uso de medicamentos com o mesmo princípio ativo”.
Conforme a palestrante, é preciso primeiramente identificar se outros fatores – sociais, culturais, afetivos e até políticos - podem estar comprometendo o aprendizado nas escolas. “Antes de apelar para uma medicação, deve-se considerar, por exemplo, se outras questões podem estar influenciando essa desatenção como, por exemplo, a infraestrutura da escola, a experiência dos professores, material bibliográfico, as dinâmicas em sala e tantos outros”.

Nesse cenário, a palestrante destacou o papel dos psicólogos. “São esses profissionais que contribuem para que haja cautela antes de diagnosticar que a falta de atenção de alunos esteja somente ligada a problemas mais sérios, e assim evita-se que a prescrição de remédios tarja preta cresça vertiginosamente”, analisou. “É preciso lembrar que a medicação pode causar prejuízos irreparáveis a esses jovens”, completou.

Para a presidente do CRP/18 MT, Maria Aparecida de Amorim Fernandes, é preciso pensar a Psicologia como ferramenta fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas de qualidade, especialmente na Educação. “É necessário que haja consciência que a aprendizagem nas escolas está ligada a um contexto e por isso é preciso repensar a Educação dentro e fora das salas de aula”, afirmou. “A Psicologia aparece justamente para contribuir de forma eficaz com a análise dessas questões, antes de atribuir os déficits de atenção dos alunos aos transtornos”, acrescentou.

Aprovação - A jovem Janaina Santos Souza, estudante do 6º semestre de Psicologia da UFMT, destacou que o evento contribuirá com a formação acadêmica e profissional dos discentes. “É muito bacana especialmente porque insere a Psicologia como uma ferramenta para garantir a qualidade das políticas públicas”, disse. “Além disso, é importante porque essas discussões não ocorrem isoladamente e sabemos como os nossos colegas pensam sobre esses assuntos”, complementou. Opinião compartilhada pela também estudante do 6º semestre da Universidade de Cuiabá (Unic), Lucilei Pinheiro Ferreira. “As minhas expectativas estão sendo supridas porque temos temas bastante ricos e abrangentes”, sintetizou.

“A iniciativa permite que todos sejam contemplados com elementos diferentes para reflexão. Esse evento oportuniza uma tomada de consciência de certas ideias e conceitos que, às vezes, adotamos irrefletidamente”, concluiu a coordenadora do Curso de Psicologia da UFMT, campus Cuiabá, Vera Lúcia Blum.




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