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Agro
Domingo, 17 de setembro de 2017, 16h07

Expedição Safra-Brasília levanta situação de fruticultores do DF


Especialistas da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), da Emater-DF e da Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento do Distrito Federal (Seagri-DF) se integraram mais uma vez para realizar uma nova etapa da Expedição Safra-Brasília 2017. Coordenado pela Seagri-DF, o trabalho conjunto tem como alvo produtores rurais da região que têm na fruticultura a principal ou uma das principais atividades produtivas. A ideia, como na edição de 2016, relacionada a grãos e culturas irrigadas, é levantar os principais problemas e demandas para política pública, pesquisa e desenvolvimento, e extensão rural. Para isso, a cultura do maracujá, praticada em cerca de 150 propriedades rurais em quase todas as regiões administrativas do DF, está sendo utilizada como estudo de caso.

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As informações são levantadas por extensionistas da Emater-DF que estão visitando as 138 propriedades com mais de 1000 m² de área e aplicando um questionário com 63 perguntas sobre a propriedade rural; o conhecimento em relação à cultura do maracujá; a motivação para produzir a fruta, a motivação social (quem apoia o produtor); a motivação situacional (o que facilita ou dificulta a produção); as práticas, serviços e tecnologias utilizados; e os impactos da produção de maracujá na propriedade, além de dados sociodemográficos.

A estrutura do questionário foi elaborada pelo pesquisador Francisco Rocha, do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias (SPAT) da Embrapa Cerrados, e tem como base o modelo lógico, que leva em conta a organização de processos internos (referentes a qualquer instituição, recursos e atividades) e externos (referentes ao público-alvo, aprendizagem, ação e impacto), inter-relacionados e voltados à solução de problemas. O modelo lógico serve de base para o planejamento, com o estabelecimento de indicadores; para a implementação de ações institucionais com base em um programa ou projeto; bem como para a avaliação de resultados junto ao público-alvo, com a construção e aplicação de questionário, análise de dados e elaboração de relatório de feedback.

O questionário foi validado tecnicamente por especialistas da Embrapa Cerrados, da Emater-DF e da Seagri-DF, e semanticamente por alguns produtores. Os aplicadores estão utilizando tablets e uma planilha eletrônica off-line desenvolvida pelo pesquisador Paulo Fernandes, também do SPAT da Embrapa Cerrados, o que permite o lançamento e a organização dos dados com mais agilidade e sem a necessidade de acesso à internet durante as entrevistas. Os dados coletados darão origem a gráficos, que serão então analisados por especialistas da Embrapa Cerrados, da Emater-DF e da Seagri-DF. Com base nas análises e na interpretação dos dados, serão elaboradas as propostas de intervenção pelas instituições visando atender às demandas e resolver os problemas identificados.

Para o gerente do escritório regional da Emater-DF no Núcleo Rural Pipiripau, Geraldo Magela Gontijo, as expectativas com esta etapa da Expedição Safra-Brasília são as melhores possíveis. “Até pelo formato, bem diferente das etapas anteriores, pois vamos identificar os saberes, a adoção e o impacto das tecnologias, além de levantar as demandas para as instituições. Isso vai definir a situação e deixar claro onde estão as deficiências dos agricultores”, projeta.

Cultura democrática

O pesquisador Fábio Faleiro, da Embrapa Cerrados, explica que a cultura do maracujá no DF é democrática, podendo ser praticada por assentados de reforma agrária e chacareiros até grandes produtores, além de auxiliar os horticultores, pois o maracujazeiro quebra o ciclo de pragas e doenças de hortaliças como o pimentão. “A produção é multifacetada e há casos de sucesso entre os diferentes tipos de produtores. A Expedição Safra-Brasília vai mapear essas histórias e as demandas para pesquisa, extensão e política pública, juntando as três instituições”, afirma.

Faleiro lembra que no DF a produtividade média anual dos pomares de maracujá é de 35 t/ha, enquanto a média nacional não passa de 14 t/ha. Cultivares lançadas pela Embrapa, como a BRS Gigante Amarelo, a BRS Sol do Cerrado e a BRS Rubi do Cerrado podem alcançar produtividades médias de 50 t/ha/ano a 60 t/ha/ano. “Estamos avaliando um sistema que pode ter altíssimo input tecnológico”, explica.
Entre os entrevistados estão agricultores do Núcleo Rural Pipiripau como Pedro Malaquias Soares, do assentamento Oziel Alves III, e Nilson Souza, meeiro em uma chácara. Eles representam duas realidades distintas de produção numa mesma região: enquanto Pedro Malaquias produz o maracujá sistema orgânico a céu aberto, Nilson adota o cultivo protegido com o uso de estufas.

Há três anos, Pedro Malaquias iniciou o plantio de 50 mudas do maracujazeiro silvestre BRS Pérola do Cerrado, desenvolvido pela Embrapa. Atualmente, são 230 pés ocupando 0,25 hectares. Os maracujazeiros são irrigados por gotejamento e, segundo o agricultor, demandam pouca água. Na chácara de 7,5 hectares, dois hectares são destinados a cultivos – também são cultivadas hortaliças e mandioca – e tudo é cuidado pelo agricultor, a esposa e o filho.

Os frutos são comercializados a R$ 6,80 o quilo. “Esse maracujá é rendoso, muito bom de negócio. Sou chegado dele (sic). Tem hora que vou ali conversar com ele e o povo me acha doido”, brinca. A produção semanal de cinco a seis caixas de 22 kg é vendida para o Sindicato de Produtores Orgânicos do DF e para um comprador de Sobradinho (DF).

O maracujá também é um dos 12 itens de uma cesta de hortaliças e frutas que Pedro Malaquias vem entregando há sete meses a uma CSA (sigla para comunidades que sustentam o agricultor) de uma escola de Brasília. Por semana, ele vende 26 cestas a R$ 298 cada uma. “O maracujá salvou a nossa área. A produção pagou as prestações do nosso trator. Se eu disser que ele tem alguma desvantagem, estarei maltratando a mim mesmo”, diz, bem-humorado.

Já na chácara onde Nilson Souza atua como meeiro há 21 anos, o maracujazeiro azedo BRS Gigante Amarelo é cultivado em quatro estufas de 400 m² cada uma. Ele conta que as plantas, que são irrigadas por gotejamento, começaram a produzir há um ano e dois meses, quando estavam com seis meses de vida, e não pararam mais – o ciclo em estufa é de dois anos e meio – com produtividades médias de 75 t/ha/ano e picos de 95 t/ha/ano. “Na entressafra, a quantidade de frutos colhidos é menor, mas a produção não para, o que permite bons preços na entressafra”, observa.

Em duas estufas, o maracujá é cultivado em rotação com o pimentão, o que tem permitido dobrar a produtividade com a hortaliça. Além de quebrar o ciclo de pragas e doenças, o maracujazeiro recicla nutrientes no solo. “É um casamento perfeito. As duas estufas com a rotação produzem de 50 a 60 caixas de pimentão por semana, mesma quantidade que quatro estufas sem o maracujá”, compara, acrescentando que a adubação do pimentão é aproveitada pelo maracujá e as culturas compartilham a estrutura da estufa.

Nilson destaca vantagens da produção de maracujá em estufas, que na propriedade também são usadas para produzir tomate, pepino, berinjela e uva. “Na estufa, o fruto é melhor e a gente gasta menos com manejo. As doenças que ocorrem no cultivo a céu aberto aparecem bem menos ou então mais tarde, e são mais fáceis de controlar. E as plantas ficam protegidas, pois aqui temos problemas com chuvas de granizo, que destroem praticamente metade do pomar”, destaca.

O meeiro conta com apenas um empregado e entrega as duas colheitas semanais a um comprador que busca os frutos em sua propriedade. No período da floração (outubro a novembro), cada colheita nas quatro estufas chega a 60 sacos de 12 kg. “Vendemos o saco a R$ 20, mas já chegamos a vender por R$ 25”, conta o meeiro. Segundo cálculos feitos por ele e o proprietário da chácara, a lucratividade do maracujá nesse sistema de cultivo ao longo de cinco anos e considerando o pagamento da estrutura da estufa é similar à do tomate.

Os primeiros resultados da terceira etapa da Expedição Safra-Brasília serão apresentados em novembro, durante o 8º Encontro Regional de Produtores de Maracujá no Núcleo Rural Pipiripau. 




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