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Agro
Sexta, 15 de junho de 2018, 10h53

Mãe e filha fazem da agricultura familiar oportunidade de ascensão


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Às cinco horas da manhã dona Geralda Martins de Oliveira, 68 anos, já está de pé. Enquanto ela põe a água no fogo para fazer o café cultivado no sítio dela, que fica em Nova Xavantina, a filha mais velha, Valdivina Martins de Oliveira, 50 anos, prepara o restante da mesa, repleta de produtos cultivados na propriedade. Leite, manteiga, mel em favo, suco de frutas, bolo de polvilho e baru assado. Tudo produzido pelas duas, que juntas fazem todas as atividades, das mais leves, como dar comida para as galinhas, às mais pesadas, como construir cercas.

 

Elas estão entre os pequenos produtores rurais que fazem parte do programa “Nosso Leite” e, recentemente, foram beneficiadas com um resfriador pelo governo do Estado. Antes do equipamento, elas faziam a ordenha, colocavam o leite em latões e, após amarrar o recipiente na traseira de uma Honda Biz, enfrentavam a estrada de chão por 30 minutos para deixar no ponto de entrega.

Hoje, o produto vai para o resfriador e a cada dois dias, o laticínio vai ao local recolher, sem nenhum prejuízo a qualidade. “Eu e a Divina precisávamos nos equilibrar para o latão de 50 litros não cair. Nos dias de chuva, enfrentávamos água e lama. A moto deslizava na pista que parecia estar com sabão. Mas, com o resfriador, ganhamos tempo e não corremos o risco de perder o leite na estrada”.

 

Mãe e filha possuem na área 12 vacas e conseguem tirar 7 litros de cada uma delas, mas a expetativa é expandir. Elas aprenderam na parte teórica do programa sobre o controle de produção e, após analisarem as tabelas, perceberam que precisam mudar o rebanho para animais mais produtivos. “Temos amor pelos bichos, né. Elas todas têm nome. É malhada, baleia e mimosa. Mas, hoje entendemos que algumas estão velhas ou não são da espécie adequada e vamos trocar”.

 

  

Muitas mudanças já foram aplicadas na propriedade em menos de seis meses de curso. Entre elas a ordenha mecanizada e também a aplicação de boas práticas sanitárias para garantir a qualidade do leite. “Atualmente, dividimos o resfriador com o vizinho, mas estamos trabalhando para ter o nosso próprio porque o laticínio irá pagar uma porcentagem maior pela qualidade do produto, então não podemos perder a oportunidade misturando com o que vem de outra propriedade”.

 

Outra decisão tomada após receber a assistência técnica é montar piquetes para realizar o rodízio de pastagem. Elas já montaram o espaço de forma experimental, mas estão à espera do projeto para começar a execução da estrutura definitiva. “Nós usamos o trator que o governo deu para a comunidade. Os produtores estipularam uma taxa para o uso e o dono da terra tem que pagar também o óleo diesel. Mesmo assim, fica bem barato”.

 

Na comunidade Banco da Terra, existem cerca de 50 produtores e eles estabeleceram algumas regras para o uso do equipamento. Um delas é a cobrança de um valor, que é depositado em uma conta bancária e serve para fazer a manutenção do maquinário, bem como o conserto quando necessário.

Diversidade da produção - No mercado da cidade, as duas compram apenas arroz e sal. O restante dos produtos é colhido no quintal. Em roças pequenas, o feijão, a horta e as frutas estão garantidos. Existe ainda uma plantação de gueroba, dois pés de café e um farto bananal.

 

Com relação à mistura do dia a dia, também não há aperto. O galinheiro vai de “vento em popa” e no tanque, mais de mil peixes estão em fase de crescimento. “Eu fui ao médico e ele disse que eu preciso comer mais peixe. Mas comprar é difícil, então resolvemos produzir”.

Pela manhã, enquanto Valdivina vai ao campo buscar as vacas para ordenha, Geralda alimenta os animais e rega as plantas. Todo trabalho e cronometrado e por volta das 10 horas da manhã, tudo está concluído e é hora de trabalhar em outras frentes, como o roçado, a capina e a construção de cercas.

 

Por volta do meio dia, há uma parada para o almoço e um tempo livre, reservado para ‘madorna’. As atividades voltam a todo vapor no final da tarde, quando elas vão para mata em busca de sementes, que são vendidas para um projeto de reflorestamento, e ainda para as pesquisas em torno da apicultura, uma atividade que começa a ser desenvolvida.

 

Há cinco anos, as duas nem imaginavam que teriam um sítio. Geralda conta que foi para a cidade porque o marido estava doente e os filhos precisavam estudar. “Foi um período difícil e hoje eu percebo que tanto eu como o meu marido não gostávamos. Ele começou a fumar muito e devido a problemas de saúde, morreu. Para mim restou uma casa e depois de receber a herança do meu pai, que não era muito, saí em busca de um sítio”.

Além de querer voltar para área rural, Geralda tinha o sonho de trazer a filha para morar consigo. “Minha filha trabalhava em duas casas de família. Era muito difícil e às vezes ela nem recebia. Eu sempre pensei, vou conseguir uma terra e tirar minha filha desta vida de doméstica”.

 

Geralda descobriu que o sítio estava à venda por meio de um vendedor de melancias que estava na cidade. Ele informou a direção da área, orientação suficiente para ela contratar um mototáxi e ir atrás da área. “Quando chegamos aqui tinha só esta casinha e mais nada. Mas, eu fiquei apaixonada. Bem pertinho do rio e com área de pasto. Era meu sonho”.

A princípio, Valdivina não tinha como deixar o serviço e conciliava os dois trabalhos, como doméstica e com a terra. A alforria dela veio com as vacas. “Juntei um dinheiro e disse para ela, vamos comprar algumas vacas e o dinheiro vai ser suficiente para ficarmos só no sítio. E assim, foi feito”.

 

Aos poucos, elas foram comercializando produtos e investindo na terra. As tecnologias também foram aparecendo após os cursos feitos por Valdivina e atualmente, além da ordenha mecânica, elas instalaram placas fotovoltaicas e se preparam para o novo passo, a irrigação dos pastos.

Uma das convicções de Geralda é que nunca irá sair da terra. “Tudo que eu deixar para os meus filhos, é bem feito. Eles sempre trabalharam como gente grande. Desde crianças, acordavam cedo comigo para triturar mandioca para fazer a farinha até a hora de ir para escola. Quando voltavam na hora do almoço, comiam e, em seguida, voltavam para o serviço novamente. Eles merecem”.

 

Dados do governo – O governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar e Assuntos Fundiários (Seaf), já entregou 524 resfriadores de leite para pequenos produtores rurais, sendo que em Nova Xavantina foram 14 unidades.




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