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Agro
Quinta, 20 de outubro de 2011, 23h26

Revista Exame destaca o impacto dos custos na soja de MT


A Revista Exame desta semana destaca que o custo Brasil está se transformando em uma “praga” no campo, reduzindo a competitividade do agronegócio do país. Algumas culturas, como é o caso da soja, tinha em 2003 um cus­to médio de produção 45% menor do que o dos ameri­canos. Oito anos depois, a vantagem trocou de lado: agora o cus­to americano é que é 38% inferior. O presidente da Aprosoja, Glauber Silveira, e o produtor de Rondonópolis, Ricardo Tomczyk foram entrevistados pela Exame. Confira a matéria na íntegra:

O paranaense Ricardo Tomczyk, de 35 anos, é um dos 5 000 produtores de soja de Mato Grosso. Todo ano, após a colhei­ta da safra, ele depara com um proble­ma logístico para escoar a produção. Os grãos produzidos por Tomczyk percor­rem 1200 quilômetros de sua fazenda em Rondonópolis, no sudeste do estado, até chegar ao porto de Santos. No traje­to pelas rodovias rumo ao litoral, o pre­ço da soja aumenta em média 25%. Nos Estados Unidos, o principal competidor do Brasil no mercado de soja, a mesma carga viaja em média 150 quilômetros para ser embarcada. Não bastasse a distância mais curta, o meio usado é a fer­rovia. O resultado é um custo de trans­porte irrisório, comparado ao brasileiro­&rdquoNossa infraestrutura de transporte precisa ser mudada antes que se torne impossível competir com outros países&rdquo, diz Tomczyk.

A desvantagem lo­gística é apenas uma das adversidades que encarecem a produção de produto­res como Tomczyk. Responsável por 15% do abastecimento mundial de soja, o campo brasileiro está sob o ataque de uma praga que vem corroendo sua com­petitividade: o custo Brasil É a mesma que em outros setores, em especial a indústria, chega ao ponto de destruir a viabilidade dos negócios. A vantagem que o país tinha sobre seus maiores con­correntes globais já foi perdida em al­gumas culturas. Soja , açúcar, carne e celulose deixaram de ser produtos em que o Brasil é um campeão imbatível. A perda da competitividade vem se acumulando ao longo dos anos.

O cus­to médio de produção da soja brasilei­ra era 45% menor do que o da ameri­cana em 2003. Oito anos depois, a vantagem trocou de lado: agora o cus­to americano é que é 38% inferior. No caso da celulose, já há praticamente um empate entre o custo para produzir no Brasil e o custo nos Estados Unidos. O suco de laranja perdeu metade da margem que tinha em relação aos pro­dutores da Flórida. Definitivamente, o Brasil se tornou um pais caro&rdquo, afirma André Nassar, diretor-geral do lcone, um centro mantido por empresas do agronegócio para estudos sobre o co­mércio exterior. Para continuar a ga­nhar mercados, precisamos ser mais competitivos em custos gerais. Trans­porte, impostos e mão de obra são os itens que mais sobrecarregam o pro­dutor brasileiro. Mais recentemente, a valorização do real se somou a esses fatores. A moeda mais forte tem im­pacto sobre o preço de fertilizantes e defensivos, em grande parte importados. Até agora, a alta do preço das com­modities no mercado internacional evitou um desastre, compensando o aumento dos gastos dos produtores. Mas isso pode mudar. Se a China de­sacelerar seu crescimento devido à crise internacional e reduzir a deman­da por commodities, os preços podem cair, diz Mauricio Muruci, analista da consultoria Safras & Mercados.

No setor de cana-de-açúcar, a eleva­ção do custo de produção achatou a margem de lucro dos produtores nos últimos três anos. De 2005 a 2010, os custos para colher 1 tonelada de cana aumentaram 44% em dólares. Isso ge­rou problemas em série. Com rentabi­lidade menor, os plantadores deixaram de investir na renovação das mudas. Em consequência, a produtividade das lavouras diminuiu. O resultado foi o en­carecimento do produto final que é exportado &ndash o açúcar. Neste ano, o açú­car indiano apresentou um custo de produção 33% inferior ao brasileiro.

L?íder der mundial, com mais de 95% do volu­me de açúcar produzido voltado para o mercado interno, a Índia tem aprovei­tado a alta dos preços para exportar seu excedente. Os indianos compensam seu baixo índice de mecanização com in­vestimento constante na renovação da lavoura. O canavial, renovado com fre­quência, atinge produtividade de 100 toneladas por hectare. Os canaviais bra­sileiros, em sua maior parte envelheci­dos, produzem, em média, 69 toneladas por hectare. A redução da rentabilida­de e a falta de recursos para investir apertaram o cinto do produtor brasileiro, diz Celso Franco, fazendeiro de cana de Sud Mennucci, cidade do noro­este de São Paulo, e presidente da União dos Produtores de Bioenergia, Há uma espécie de depressão nesse setor no Brasil atualmente.

Depois de viver um boom de projetos há cinco anos, os in­vestimentos em usinas e canaviais esfriaram mais recentemente também devido a problemas no preço do etanol. Na última safra de cana, a produção bra­sileira caiu quase 6%. Franco calcula que serão necessários investimentos de 10 bilhões de reais para ocupar 2 mi­lhões de hectares com novas mudas e revigorar o setor canavieiro. Por ora, não há sinal de retomada dos projetos. Vantagem anulada No mercado externo, a queda da com­petitividade já causa recuo.

Recente­mente, o Brasil perdeu uma posição que havia conquistado em 2003: a liderança na exportação mundial de carne bovina. Com preço inferior e agressividade co­mercial, os americanos assumiram a ponta em julho deste ano. Abriram mer­cados que ficaram fechados por anos para eles devido a um surto de doença da vaca louca. O Brasil ainda não con­segue convencer mercados como o do Japão de que tem um sistema sanitário seguro. E o custo de produção aqui não ajuda subiu 60% acima da inflação des­de o início do real. Com isso, o ganho líquido, que era de 40% por arroba de boi na década de 70, caiu para 17% nes­te ano.

A escalada dos fatores que com­põem o custo Brasil aumentou a velo­cidade de queda nos últimos anos. O custo está chegando perto do preço&rdquo, diz Maurício Nogueira, da consultoria Bigma. Nesse quadro, vantagens natu­rais são quase anuladas. As florestas plantadas para a produção de celulose aqui, graças ao clima, crescem mais de­pressa do que nos países concorrentes. O solo permite o plantio de 80% mais árvores numa mesma área. Mas os cus­tos crescentes de logística e a carga de impostos vêm tirando a vantagem bra­sileira sobre o produto similar america­no.

O custo de produção da celulose no Brasil já foi 29% menor do que nos Es­tados Unidos. Em três anos, os americanos praticamente igualaram o jogo. Uma vantagem que o produtor brasilei­ro mantém é o baixo preço da terra Mas é uma condição com os dias contados. A valorização da terra da terra é um processo sem volta, diz Glauber Silveira, presi­dente da Associação dos Produtores de soja Mesmo em condição de igualdade crescente, o agronegócio brasileiro tem tudo para continuar a ser competitivo desde que a praga do custo Brasil se­ja atacada com rapidez. 




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