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Variedades
Quarta, 03 de maio de 2017, 13h44

Obras da 32ª Bienal de SP chegam a Cuiabá e exposição começa a ser montada


A 32ª Bienal de São Paulo – "Itinerâncias: Cuiabá", começa a ganhar forma com a montagem das obras no Palácio da Instrução, centro da Capital. As peças chegaram na última segunda-feira (01.05) e, aos poucos, vão ocupando as salas do piso superior do prédio histórico e centenário que, mais uma vez, abre as portas para uma das principais mostras de arte contemporânea do mundo. A 32 ª Bienal de SP acontece de 16 de maio até 09 de julho e, além da exposição, conta com uma programação variada que inclui performances, apresentações, conversas com artistas e curadores, visitas guiadas e agendamento escolar.

“Todas as exposições itinerantes que a Bienal realiza contam com a presença de uma equipe composta por produtor e museólogo que acompanham, desde a chegada das obras, o desembalar das peças até a instalação. A equipe entrega a exposição montada e acompanha todos os processos para manter o padrão Bienal”, explicou a produtora Valéria Dias.

Essa edição da Bienal em Cuiabá renova a parceria institucional entre a Fundação Bienal de São Paulo e a Secretaria de Estado de Cultura (SEC). Em 2015, por ocasião das itinerâncias da 31ª Bienal, o Palácio da Instrução foi revitalizado para sediar a mostra, que apresentou 17 projetos artísticos, 8 encontros com educadores da rede pública de ensino de Cuiabá e Várzea Grande e reuniu um total de 8.900 visitantes.

Intitulada "Incerteza Viva (Live Uncertainty)", a exposição se propõe a traçar pensamentos cosmológicos, inteligência ambiental e coletiva assim como ecologias naturais e sistêmicas.

A mostra foi concebida em torno das obras de 81 artistas e coletivos sob curadoria de Jochen Volz e dos cocuradores Gabi Ngcobo (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars Bang Larsen (Dinamarca) e Sofía Olascoaga (México).

A 32ª edição da Bienal, que recebeu 900 mil visitantes em 2016, terá recortes exibidos em cidades no Brasil e no exterior em 2017. Seleções de obras viajam às cidades de Campinas/SP, Belo Horizonte/MG, São José dos Campos/SP, Cuiabá/MT, São José do Rio Preto/SP, Ribeirão Preto/SP, Garanhuns/PE, Palmas/TO, Santos/SP, Itajaí/SC e Fortaleza/CE. Itinerâncias internacionais já estão confirmadas na Colômbia e em Portugal.

Programação pública

Uma programação pública inspirada nas atividades que acompanharam a 32ª Bienal em São Paulo foi formulada levando performances, apresentações e conversas com artistas e curadores para o público de Cuiabá. Nos dias 16, 17, 30 e 31 de maio; 1, 2 e 30 de junho, a grade de programação conta com palestra da curadora Júlia Rebouças, a militante indígena Naine Terena e a professora Ludmila Brandão; apresentações públicas dos artistas Ana Mazzei e Dalton Paula e uma semana de ativações das Conversas para Adiar o Fim do Mundo, do artista Bené Fonteles.

16 de maio, 19h - 21h

Palestra Incerteza Viva, com Julia Reboupas, Naine Terena e Ludmila Brandão

Centro Cultural da UFMT - 200 vagas

A partir da experiência nos Dias de Estudo, sobretudo o encontro realizado em Cuiabá, serão discutidos os percursos curatoriais e artísticos que levaram as participantes à 32ª Bienal. Júlia Rebouças é cocuradora da 32ª Bienal de São Paulo, Naine Terena é militante indígena e pesquisadora bolsista no Laboratório de Imagem e Educação da Unemat, e Ludmila Brandão é professora do programa de pós-graduação Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT.

17 de maio, 19h - 21h

Pesquisa e processo criativo, com Ana Mazzei

Palácio da Instrução (Auditório) - 40 vagas

Ana Mazzei vai apresentar sua produção, pesquisa e modos de atuação, criando um contexto para discutir a obra Espetáculo (2016), que integra a 32ª Bienal.

30 de maio, 19h - 21h

Ocataperaterreiro, com Bené Fonteles

UFMT (Centro Cultural) - 200 vagas

31 de maio - 19h - 21h

Arte aqui é mato: Poéticas e querelas da arte em Mato Grosso
UFMT (Centro Cultural) - 200 vagas

Encontro com o artista Gervane de Paula e a crítica de arte Aline Figueiredo, mediação de Bené Fonteles.

1 de junho - 19h - 21h

Narrativas pela fluência das águas: artistas e viajantes em Mato Grosso
UFMT (Centro Cultural) - 200 vagas

Encontro com a historiadora Maria de Fátima Gomes Costa e o historiador Serafim Bertoloto, mediação de Bené Fonteles.

2 de junho - 19h - 21h

Ser e não ser - a terra devastada: questões indígenas e ambientais em Mato Grosso
UFMT (Auditório Museu Rondon) - 100 vagas

Encontro com a indígena e comunicóloga Naine Terena e outras lideranças indígenas do Estado, o historiador e indigenista Elias Bigio, e o ambientalista Sérgio Guimarães, mediação de Bené Fonteles.

30 de junho - 19h - 21h

Pesquisa e processo criativo com Dalton Paula

Palácio da Instrução (Auditório) - 40 vagas

Dalton Paula apresenta sua produção, pesquisa e modos de atuação, criando um contexto para discutir a série Rota do Tabaco (2016), que integra a 32ª Bienal.

Artistas e obras

Ana Mazzei 1980, São Paulo, Brasil. Vive em São Paulo. Em suas obras, Ana Mazzei parte da literatura e do teatro para materializar diversas situações de observação e de encenação na forma de instalações, esculturas, desenhos, fotografias e performances. Ao utilizar o imaginário de narrativas épicas ou mitológicas, suas instalações sugerem uma performance na qual não fica claro se o público observa ou se é observado. Os objetos e as esculturas de Mazzei são entendidos em relação ao corpo e questionam noções de orientação, posicionamento e organização que dirigem a maneira como nos relacionamos com o espaço. A artista evoca imagens recorrentes da história da pintura, muitas delas metáforas bíblicas, mas também simbolismos políticos e especulações científicas e filosóficas sobre o universo. Ao estudar a “posição de êxtase”, por exemplo, tão presente na história da arte ocidental, faz convergirem o gestual do sagrado e os sintomas atrelados aos primeiros estudos da psiquiatria, quando essa posição era associada a quadros de histeria. Com a obra Espetáculo (2016), Mazzei propõe um novo território de atuação, em que objetos são colocados em uma situação ambígua: como protagonistas de um teatro sem ação ou plateia de uma ativação que ocorre no corpo do visitante. Suas formas remetem a objetos de estudos astrológicos, ou à aparelhagem de uma ciência diferente da que conhecemos.

Bárbara Wagner, 1980, Brasília, Brasíl. Vive em Recife (PE) O brega é música, dança, cena cultural e economia criativa na periferia do Recife. Em duas linhagens, funk e romântico, constitui uma cadeia de MCs, DJs, bailarinos, produtores, empresários e público. Seus hits – eróticos, irônicos, lamuriosos e, em alguns casos, ainda machistas – extrapolam os limites socioeconômicos dos bairros e participam da paisagem sonora de uma cidade convulsiva em suas diferenças. A artista Ba´rbara Wagner, em parceria com Benjamin de Burca, desconstro´i esse feno^meno no filme Esta´s vendo coisas (2016) e o analisa tornando visi´veis as singularidades, as erra^ncias e tambe´m algumas relac¸o~es entre seus agentes. A boate Planeta Show abrigou o experimento de um retrato coletivo e filmado, que, nessa condic¸a~o, desafia o cara´ter preciso da fotografia. O resultado na~o deixa de ser documental, mas e´ parcialmente ofuscado pela luz artificial de estu´dio, camarim, palco e tela, com personagens que encenam a si mesmos.

Carolina Caycedo, 1978, Londre, Reino Unido. Vive em La Jagua, Colômbia e Los Angeles (EUA). Carolina Caycedo volta sua pra´tica para a discussa~o de contextos impactados por grandes obras infraestruturais de cara´ter desenvolvimentista. Em sua pesquisa recente, analisa os danos ambientais e sociais atrelados a` construc¸a~o de barragens e ao controle dos cursos naturais da a´gua. Por meio do envolvimento com grupos e comunidades afetadas por essas transformac¸o~es, a artista investiga ideias de fluxo, assimilac¸a~o, resiste^ncia, representac¸a~o, controle, natureza e cultura. A Gente Rio–Be Dammed [A Gente Rio–Barrado seja] (2016) e´ um projeto que compreende pesquisas em arquivos, estudos de campo e atividades com comunidades ribeirinhas abaladas pela privatizac¸a~o das a´guas. A Gente Rio (2016), pesquisa produzida para a 32ª Bienal, trata da vida implicada nesses rios e em suas margens. A obra e´ composta por distintos elementos, como montagens de fotografias de sate´lite das usinas hidrele´tricas de Itaipu e de Belo Monte e do antes e depois do rompimento da represa de Bento Rodrigues (Mariana, MG); um vi´deo feito por Caycedo nessas regio~es; tarrafas coletadas durante seus estudos de campo inseridas nos va~os entre os andares do Pavilha~o da Bienal; e desenhos que contam as narrativas dos rios Yuma (Colo^mbia), Yaqui (Me´xico), Elwha (EUA), Watu, conhecido como Rio Doce e Iguac¸u (Brasil) como entidades vivas dotadas de histo´rias pro´prias.

Charlotte Johannesson, 1943, Malmö, Suécia. Vive em Skanör, Suécia. Instrui´da em tecelagem, Charlotte Johannesson comec¸ou a fazer tapec¸arias como arte nos anos 1970. Seus trabalhos satirizavam a poli´tica tradicional e muitas vezes consistiam em comenta´rios feministas e engajados sobre acontecimentos globais. Como reac¸a~o ao golpe militar do general Augusto Pinochet em 1973, por exemplo, ela produziu Chile Echoes in My Skull [O Chile ecoa no meu cra^nio] (1973/2016), no qual se po~e na posic¸a~o de testemunha atormentada e tece uma imagem de sangue derramando de veias abertas da Ame´rica Latina. Em 1978, Johannesson trocou seu tear por um Apple II Plus, a primeira gerac¸a~o de computadores pessoais. Aprendendo a programar sozinha, ela adotou as mesmas medidas que usava no tear para o computador (239 pixels na horizontal e 191 pixels na vertical). Financiada pelo Departamento Nacional Sueco de Tecnologia e Desenvolvimento, ela fundou o Digital Theatre [teatro digital] com seu parceiro Sture Johannesson, em Malmo¨, na Sue´cia. Enquanto existiu, entre 1981 e 1985, o Digital Theatre foi uma tecno-utopia em miniatura e o primeiro laborato´rio de arte digital da Escandina´via. Charlotte Johannesson se dispo^s a criar “micro-performances”: gra´ficos digitais em tela e impressos, e experimentos com computadores em tempo real.

Dalto Paula 1982, Brasília, Brasil. Vive em Goiânia (GO). Na obra de Dalton Paula, objetos sa~o destitui´dos de suas func¸o~es originais para se tornarem suporte da pintura. Primeiro as enciclope´dias, antigas detentoras de um conhecimento universalista, tiveram suas capas sobrepostas por representac¸o~es de sujeitos e saberes comumente omitidos em seu conteu´do, como negros e indi´genas. Agora esse procedimento se repete sobre um conjunto de alguidares, pratos cera^micos que recebem a comida e tambe´m as oferendas em rituais de religio~es afro-brasileiras. Com a pintura em seu interior, esses objetos confrontam os discursos hegemo^nicos da arte e da poli´tica, buscam novos personagens e reencenam passagens de nossa histo´ria. Piracanjuba, em Goia´s, Cachoeira, no Reco^ncavo Baiano, e Havana, em Cuba, sa~o cidades produtoras de tabaco. Essa atividade econo^mica remonta ao passado colonial e a` migrac¸a~o de africanos escravizados nas Ame´ricas. Paula viajou aos tre^s pontos dessa Rota do tabaco (2016) para pesquisar como essa heranc¸a se apresenta hoje. Encontrou desde a precariedade dos meios de trabalho nas fa´bricas de cigarrilhas ate´ o uso dos charutos como i´cone da revoluc¸a~o comunista. No vasto imagina´rio retratado, o fumo e´ um contexto omitido que revela o contraste entre corpos negros e roupas brancas, entre a invisibilidade da cultura afro-brasileira e os legados de cura – medicinal e espiritual – extrai´dos do tabaco.

Ebony G. Patterson, 1981, Kingston, Jamaica. Vive em Kingston e Lexington, Kentucky (EUA). A artista parte de refere^ncias da pintura para compor cenas e retratos que se relacionam com a cultura popular e o forte contexto de viole^ncia carateri´stico de diversas comunidades em Kingston, Jamaica. Transitando por te´cnicas variadas, a artista tem a fotografia como primeira etapa na elaborac¸a~o de suas composic¸o~es. Transforma as imagens em tapetes que, por meio de colagens, recebem camadas de tecidos e ornamentos. Os paine´is de grande dimensa~o que dai´ derivam exploram o excesso de material, brilho e cor como forma de lanc¸ar luz sobre a necessidade de distinc¸a~o por meio de bens de consumo e opule^ncia, comportamento intimamente ligado a procedimentos de opressa~o social. A despeito da superfi´cie colorida, as cenas retratam, de modo quase mime´tico, corpos estendidos no cha~o, assim como momentos casuais de convive^ncia na rua. O conjunto de paine´is apresentado na 32ª Bienal e´ uma tentativa de trac¸ar paralelos entre os contextos socioculturais do Brasil e da Jamaica. Reagindo aos altos i´ndices de assassinato de crianc¸as e jovens negros nos dois pai´ses, Patterson retrata uma infa^ncia que e´ pote^ncia de criac¸a~o e transformac¸a~o, e que, ao mesmo tempo, padece diante de sistemas excludentes e violentos.

Felipe Mujica, 1974, Santiago, Chile. Vive em Nova York (EUA). Os projetos de Felipe Mujica se organizam a partir de duas formas principais de atuação: de um lado, sua pesquisa visual, que envolve a criação de instalações de painéis de tecido móveis e interativos; de outro, a organização colaborativa de exposições, publicações e gestão de espaços culturais. Permeia essa atuação a investigação sobre o passado recente da arte latino-americana, com interesse específico por experiências que aproximam educação e arte moderna. Aspecto fundamental de seu método de trabalho é a abertura da obra ao diálogo com outros artistas, com o público e com comunidades. No projeto Las universidades desconocidas [As universidades desconhecidas] (2016), Mujica trabalha em parceria tanto com os artistas brasileiros Alex Cassimiro e Valentina Soares, como com o grupo Bordadeiras do Jardim Conceição, formado por cerca de quarenta moradoras desse bairro na cidade de Osasco. A partir de desenhos realizados pelo artista, os grupos de colaboradores criaram e confeccionaram as cortinas que compõem a instalação. Produzidas com os mesmos materiais e técnicas distintas, as peças costuram saberes pessoais formados por diferentes repertórios e experiências, unidos agora como lados complementares de uma mesma realidade: o trabalho criativo coletivo.

Francis Alÿs, 1959, Antuérpia, Bélgica. Vive na Cidade do México, México. A obra de Francis Aly¨s baseia-se em ac¸o~es propostas ou praticadas pelo artista, que se desdobram em vi´deos, fotografias, desenhos e pinturas. Frequentemente evocando uma sensac¸a~o de absurdo ou insensatez, seus trabalhos pesquisam criticamente situac¸o~es poli´ticas, sociais e econo^micas na vida contempora^nea. A instalac¸a~o concebida para a 32ª Bienal consiste em pinturas de paisagem e um filme de desenhos animados, todos Untitled [Sem ti´tulo] (2016). Esses elementos esta~o instalados em paredes de espelhos, que revelam o verso dos desenhos e pinturas, fixados com alguma inclinac¸a~o. As imagens refletidas do pu´blico e do espaço expositivo tornam-se tambe´m parte integrante do projeto, o que nos convida a questionar qual e´ a nossa relac¸a~o – e do ambiente institucional e urbano em que estamos inseridos – com as diferentes situac¸o~es e noc¸o~es de cata´strofe discutidas por Aly¨s.

Gilvan Samico, 1928, Recife (PE). - 2013, Recife. O artista apresenta em suas gravuras mitos e cosmologias repletos de simbologias. Suas composições têm a simetria e a verticalidade como valores que organizam narrativas sobre a natureza – sendo homens e mulheres parte desse ambiente – e instâncias sagradas que se relacionam com a vida terrena. Iniciou sua prática artística como autodidata no Recife, mas depois estudou sob tutela de Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi. A impressão de suas gravuras era feita de forma minuciosa e manual. A produção de cada peça presente na 32ª Bienal levou um ano de trabalho do artista, entre 1975 e 2013. Influenciado pela arte popular nordestina, Samico tem como referência a literatura de cordel e o Movimento Armorial, sendo o encontro com o escritor Ariano Suassuna um importante ponto de inflexão em sua trajetória. Partindo de narrativas locais, Samico traça uma história visual que engloba cosmologias sobre a formação do mundo e o estudo de livros como a trilogia Memoria del Fuego, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, publicada entre 1982 e 1986. Assim, os títulos das obras funcionam como chaves de leitura que, junto às imagens, revelam camadas que pertencem e povoam o imaginário de tantas culturas.

Günes Terkok, 1981, Ankara, Turquia. Vive em Istambul, Turquia. Gu¨nes¸ Terkol desafia os imagina´rios relacionados ao feminino a partir de histo´rias pessoais ou coletivas compartilhadas por mulheres em oficinas que organiza para sua pesquisa e processo de trabalho. O bordado, pra´tica culturalmente atribui´da ao ambiente dome´stico e ao labor da mulher, ganha camadas pu´blicas e poli´ticas em sua produc¸a~o. Na 32ª Bienal, sa~o apresentadas as se´ries Couldn’t Believe What She Heard [Na~o posso acreditar no que ela ouviu] (2015) e The Girl Was Not There [A menina na~o estava la´] (2016), essa u´ltima comissionada para a exposic¸a~o. Na primeira, em uma montagem aberta, Terkol cria imagens nas quais elementos relacionados ao estereo´tipo do “universo feminino” – unhas esmaltadas, cabelos, sapatos – sa~o contrastados com fragmentos de corpos cujo sexo na~o e´ possi´vel identificar. Na segunda se´rie, a artista resgata o cara´ter mi´stico e idi´lico da natureza. A colorac¸a~o se origina de materiais orga^nicos, como cebola, folhas de tabaco, abacate e beterraba, e compo~e paisagens ou cenas que mesclam elementos ornamentais, molduras vazias e figuras inventadas. O tecido utilizado subverte a aparente fragilidade das obras e sua transpare^ncia possibilita entrever as composic¸o~es, multiplicando e desconstruindo os imagina´rios do feminino e da natureza.

Jonathas de Andrade, 1982, Maceió (AL). Vive em Recife (PE). O artista trabalha com suportes variados, como instalac¸a~o, fotografia e filme, em processos de pesquisa que te^m profundo cara´ter colaborativo. Sua obra discute a fale^ncia de utopias, ideais e projetos de mundo, sobretudo no contexto latino-americano, especulando sobre sua modernidade tardia. Em seu trabalho, afetos que oscilam entre a nostalgia, o erotismo e a cri´tica histo´rica e poli´tica sa~o agenciados para abordar temas como o universo do trabalho e do trabalhador, e a identidade do sujeito contempora^neo, quase sempre representado pelo corpo masculino. O filme O peixe (2016), apresentado pela primeira vez na 32ª Bienal, acompanha pescadores pelas mare´s e pelos manguezais de Alagoas, que utilizam te´cnicas tradicionais de pesca, como rede e arpa~o, na espera pelo tempo necessa´rio para capturar a presa. Cada pescador encena uma espe´cie de ritual: eles rete^m os peixes entre seus brac¸os ate´ o momento da morte, uma espe´cie de abrac¸o entre predador e presa, entre vida e morte, entre o trabalhador e o fruto do trabalho, no qual o olhar – do pescador, do peixe, da ca^mera e do espectador – desempenha papel crucial. Situada num territo´rio hi´brido entre documenta´rio e ficc¸a~o, a obra dialoga com a tradic¸a~o etnogra´fica do audiovisual.

Mmakgabo Helen Sebidi, 1943, Marapayne, África do Sul. Vive em Joanesburgo, África do Sul. Nascida na vila de Marapyane, Mmakgabo Helen Sebidi aprendeu com a avo´ te´cnicas tradicionais de pintura em parede e cera^mica. Mudou-se para Joanesburgo adolescente e, entre as de´cadas de 1970 e 80, participou de cursos e atelie^s em espac¸os que proporcionaram o contato com outros artistas e um ambiente politizado, o que impactaria a tema´tica de seus trabalhos. Sebidi retrata experie^ncias cotidianas e sabedorias ancestrais, assim como mostra o sofrimento infringido pelo contexto do apartheid, especialmente para mulheres negras. De seus professores e colegas artistas ela absorveu te´cnicas de colagem e elementos abstratos, gerando o emblema´tico di´ptico Tears of Africa [La´grimas da A´frica] (1987-1988), presente na 32ª Bienal. A obra, produzida em carva~o, tinta e colagem, trata de conflitos continentais assim como da aspereza das relac¸o~es humanas no cotidiano da cidade grande e suas decepc¸o~es, agravadas pela degradac¸a~o das estruturas familiares e pelo regime de segregac¸a~o que vigorou oficialmente na A´frica do Sul de 1948 a 1994. Novas obras, criadas durante sua reside^ncia arti´stica em Salvador, na Bahia, e presentes na exposic¸a~o, geram uma conversa entre o Brasil e o continente em que Sebidi nasceu e ativam um dia´logo entre os dois trabalhos.

Pierre Huyghe, 1962, França. Vive em Santiago, Chile e Nova York (EUA). Os trabalhos de Pierre Huyghe desafiam as fronteiras entre ficção e realidade. Sua obra se materializa em meios como filme, situações ou exposições, operando, por vezes, como ecossistemas. Huyghe inclui em sua prática elementos que expandem a noção de objeto de arte. Em Cerro Indio Muerto [Colina Índio Morto] (2016), vê-se em primeiro plano um esqueleto humano caído próximo ao sulco deixado no solo por um riacho seco, tendo ao fundo uma colina. Seu título faz referência ao local onde a fotografia foi feita pelo artista, na região do deserto do Atacama, no Chile. Os restos mortais, ali encontrados por Huyghe, fundem-se à paisagem árida do deserto, em um cruzamento entre tempo humano e tempo natural. Assim como o nome da colina remete ao extermínio, histórico e atual, dos povos indígenas nas Américas.

Rachel Rose, 1986, Nova York. Vive em Nova York (EUA). Em seus vi´deos e instalac¸o~es, Rachel Rose constro´i narrativas por meio de processos de edic¸a~o, utilizando a livre e abundante circulac¸a~o e associac¸a~o de vi´deos e imagens. A sobreposic¸a~o de camadas, procedimento comum a` pintura, e´ aplicada aqui a arquivos digitais, criando uma imagem hi´brida com forte potencial sineste´sico. A Minute Ago [Um minuto atra´s] (2014) e´ uma reflexa~o sobre a experie^ncia da cata´strofe, que mescla um vi´deo encontrado no YouTube de uma su´bita tempestade de granizo em uma praia com relatos do arquiteto americano Philip Johnson em sua Casa de Vidro, que, por sua vez, sa~o confrontados com a reproduc¸a~o da pintura "O funeral de Phocion" (1648), do france^s Nicolas Poussin, entre outros elementos.

Vídeo nas aldeias criado em 1986, baseado em Olinda (PE). Há três décadas, o Vídeo nas Aldeias tem mobilizado debates centrais aos povos indígenas e à produção e difusão audiovisual. O projeto tem como um de seus objetivos a formação de realizadores indígenas, desestabilizando narrativas forjadas com base no olhar externo. Questões éticas e escolhas estéticas são entrelaçadas em seus projetos, que tratam de assuntos como rituais, mitos, manifestações culturais e políticas, e experiências de contato e de conflito com os brancos. Fundado pelo indigenista Vincent Carelli, Vídeo nas Aldeias capta recursos e circula seus trabalhos, realiza exibições em comunidades indígenas, festivais de cinema, televisão, internet e elabora materiais didáticos. Para a 32ª Bienal, Ana Carvalho, Tita e Vincent Carelli criaram a instalação inédita O Brasil dos índios: um arquivo aberto (2016), que configura um espaço de imersão em imagens, gestos, cantos e línguas de vinte povos distintos, entre eles os Xavante, Guarani Kaiowá, Fulni-ô, Gavião, Krahô, Maxakali, Yanomami e Kayapó. Reunidos por sua força discursiva e imagética, os trechos constituem mais um ponto de resistência coletiva às tentativas de invisibilidade e apagamento de grupos indígenas e provocam uma ampla reflexão sobre alteridade e convenções de perspectivas culturais.

Wilma Martins, 1934, Belo Horiznte, Minas Gerais, Brasíl. Vive no Rio de Janeiro. A artista relaciona-se com seu entorno por meio de desenhos, gravuras e pinturas. Na série Cotidiano (1975-1984), seu processo de trabalho consiste em vários estágios, nos quais desenhos e pinturas vêm de e voltam para seus cadernos, como revisitações – ora os desenhos são esboços de pinturas posteriores, ora são registros de uma composição que já nasceu na tela. Os espaços domésticos, aparentemente ordinários, são habitados por animais silvestres e cobertos por matas e rios que “esparramam-se” ou surgem por frestas do dia a dia, como uma pia repleta de louça e as dobras de um cobertor. Jogando com escalas e cores, a artista torna visível a coexistência de universos supostamente incompatíveis. Em sua obra, o que poderia estar à espreita no inconsciente emerge para atravessar inesperadamente a rotina e ocupá-la com uma atmosfera insólita. Morando no Rio de Janeiro desde a década de 1960, Martins contempla vistas a partir de sua casa, hábito que cultiva para criar as telas das paisagens.

Wlademir Dias-Pino, 1927, Rio de Janeiro,Brasil. Vive no Rio de Janeiro (RJ). Wlademir Dias-Pino é artista, poeta, desenhador gráfico, vitrinista. Na década de 1940, fez suas primeiras incursões na poesia, e ao longo das décadas de 1950 e 60 participou da fundação dos movimentos Poema / Processo e Intensivismo. Ao propor uma leitura do mundo a partir das imagens, sua prática desafia a relação entre imagem e linguagem. Na itinerância da 32ª Bienal em Cuiabá, o artista apresenta novas obras da série Outdoors (2015-2017), constituída por placas com abstrações geométricas. Algumas delas foram criadas a partir de estilos gráficos dos povos indígenas do Xingu, outras são baseadas na bandeira do Estado do Mato Grosso, com sua estrela amarela como símbolo do poder local . As placas estão dispostas em diversos pontos do exterior do espaço expositivo.

Serviço

32ª Bienal - Itinerâncias: Cuiabá

16 de maio a 9 de julho

Rua Antônio Maria, 251 - Praça da República, Centro Norte - Cuiabá - MT

ter-sex: 8h-20h; sáb, dom e feriados: 9h-18h

T: (65) 3613-0240

32bienalmt@cultura.mt.gov.br

Entrada Gratuita

Agendamento Escolar

seg-sex: 13h - 19h (máximo de 40 alunos por escola)

Contatos: 32bienalmt@cultura.mt.gov.br / (65) 3613 9240

Em caso de cancelamento, avisar com no mínimo 48 horas de antecedência 




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