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Três Anos para a Copa no Brasil, realizado na última quarta-feira, 20, pelo Sinaneco, no hotel DeVille, em Itapuã, José Roberto Bernasconi faz uma análise crítica dos preparativos do Brasil para o Mundial de 2014. Engenheiro Civil formado pela Escola Politécnica da USP e Advogado pela Faculdade de Direito da UNIP, Bernasconi foi presidente do Instituto de engenharia e é atualmente presidente da regional São Paulo do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco/SP).
Ainda faltam 34 meses para a realização da Copa do Mundo. Qual a avaliação que o senhor faz dos preparativos até aqui?
O que já podemos avaliar, de antemão, é que o Brasil não aproveitou todas as oportunidades que a Copa poderia oferecer para o País. Digo isso de maneira ampla. Aqui mesmo na Bahia, no ano de 2008, fizemos um congresso falando da série de benefícios que o Mundial poderia trazer para o Brasil. De lá até o estágio que nos encontramos hoje várias chances já foram perdidas, coisas que não voltam mais. Cito algumas. Não criamos uma marca nacional forte neste tempo, a exemplo da Hyundai, que se consolidou como uma marca mundial após a Copa de 2002, na Coreia do Sul. Temos a Petrobrás, mas o alcance ainda não é abrangente. Também não fizemos grandes mudanças urbanísticas em termos de mobilidade. Era a chance de mudanças profundas na estrutura das grandes cidades do País.
Com esse tempo perdido, a Copa no Brasil corre o risco de não dar certo?
Eu acredito, com toda a sinceridade, que a Copa de 2014 vai ser um sucesso. Os estádios vão estar prontos e as vias vão funcionar. Podemos até vencer a Copa, se treinarmos melhor os pênaltis (risos). Por que digo que a Copa não corre risco, pois no dia do jogo existirão medidas de emergência. A Fifa vai fazer cordão de isolamento, o poder público vai antecipar as férias escolares e também anunciar feriado nos dias dos jogos. Isso diminui o fluxo nas vias urbanas. Ou seja, o turista conseguirá se locomover com facilidade. Mas tudo isso são medidas paliativas. A oportunidade que a Copa oferecia era de mudar o conceito urbano das cidades. O Brasil não aproveitou as oportunidades da Copa.
Que modelo o Brasil deveria ter seguido, ou que ainda pode seguir, para alavancar o desenvolvimento por meio de um grande evento esportivo?
A resposta está muito próxima de nós. A cidade de Londres, que sediará as Olimpíadas de 2012, tem feito isso de uma forma incrível. A zona leste londrina está passando por uma transformação urbanística enorme. Assim como os rios, poluídos desde a revolução industrial, que tem recebido tratamento para melhorar a condição da água. Tudo isso é aliar desenvolvimento com a iminência de receber um grande evento esportivo.
O senhor acha que o Brasil ainda pode fazer grandes intervenções com o tempo que resta?
Não adianta mais reclamar pelo tempo perdido. É preciso fazer as coisas andarem. Observe o caso de São Paulo. O estádio do Corinthians, o Itaquerão, está encravado na Zona Leste, uma área pobre da cidade. Com boas ideias e vontade política se pode transformar a área e melhorar a vida dos paulistanos que moram lá. Atualmente a Zona Leste é um bairro dormitório. Mais de 70% das pessoas que moram lá trabalham em outros lugares. Então, qual a razão para não criar polos de desenvolvimento em Itaquera? São essas coisas que tem faltado no projeto das sedes da Copa.
O que o senhor tem achado da discussão do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), que mantém o sigilo nas licitações das obras da Copa?
É um absurdo. Não existe nenhuma explicação para existir esse sigilo. Se tem o medo de haver corrupção, favorecimento ou qualquer tipo de malandragem, o correto é aumentar a transparência e não apagar as luzes e deixar tudo no escuro. Já existe na opinião pública um consenso de corrupção em obras da Copa, o RDC só aumenta essa desconfiança.
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