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Quinta, 17 de agosto de 2017, 06h36

Fapesp inova ao incorporar a obra d'OSGEMEOS ao seu relatório


“Estamos tentando rejuvenescer a Fapesp”, brincou o professor José Goldemberg, presidente da instituição, ao comentar a inclusão de reproduções fotográficas da obra d’OSGEMEOS no Relatório de Atividades 2016 da Fapesp.

Goldemberg, que dividiu a mesa com Marco Antonio Zago, reitor da Universidade de São Paulo, e com Celso Lafer, ex-presidente da FAPESP, apresentou o relatório, que faz o balanço das atividades do ano passado, a uma plateia composta por conselheiros, diretores, funcionários, colaboradores e convidados.

O relatório anual, que já foi ilustrado por imagens de monstros sagrados da pintura brasileira, como Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Anita Malfatti, Arcangelo Ianelli, Tomie Ohtake, Renina Katz, Maria Bonomi e Paulo Pasta, abriu nesta edição suas páginas para a arte de rua. E escolheu os gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo como os representantes dessa ousada forma de intervenção no espaço público.

A arte de rua é tão antiga quanto o Império Romano, como atestam os grafitti, alguns deles obscenos, encontrados nas ruínas de Herculano e Pompeia. Mas a ideia de que a essas manifestações não convencionais pudessem ser atribuídos valores estéticos ou culturais só começou a se configurar nos altamente criativos e transgressivos anos 1960, quando as mentalidades mais conservadoras foram seriamente abaladas por novos modos de pensar, falar e agir.

Comparativamente a um Keith Haring (1958 – 1990) ou a um Jean-Michel Basquiat (1960 –1988), que vanguardearam a explosão da arte de rua dos anos 1980, os gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo representam como que uma segunda ou terceira geração, os “filhos ou netos espirituais” daqueles protagonistas de certo modo heroicos.

Gustavo e Otávio vieram ao mundo em São Paulo, em 1974. Nasceram e cresceram em um bairro de classe média baixa, o Cambuci, há muito associado a dois fenômenos característicos da megalópole paulistana: a presença maciça de imigrantes de várias origens e um ambiente que propiciou expressões artísticas que se afirmaram à margem ou até mesmo na contramão do mainstream.

Não é demais lembrar que o italiano Alfredo Volpi (1896 – 1988), que iniciou a carreira como pintor de parede e se consagrou como um dos maiores artistas do país, residiu no Cambuci. E que a Igreja Nossa Senhora da Paz, na rua do Glicério, hoje um dos principais espaços de acolhimento dos imigrantes que chegam à cidade, exibe em suas paredes uma série de afrescos do também italiano Fulvio Pennacchi (1905 – 1992), que começou como dono de açougue e deixou atrás de si uma pintura ao mesmo tempo refinada e severa, pautada pela depuração estética de um Masaccio (1401 – 1428) e de um Piero Della Francesca (1415 – 1492).

Gustavo e Otávio tiveram a oportunidade de conhecer Volpi pessoalmente, levados, ainda meninos, pela mãe, dona Margarida, à casa do já idoso pintor. E frequentaram também o curso de arte para crianças oferecido na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foi o que afirmou, à Agência FAPESP, o artista plástico e museólogo Paulo Portella Filho, que apresentou OSGEMEOS e sua obra no relatório. Mas esses descendentes de imigrantes italianos e lituanos são essencialmente artistas autodidatas, que encontraram na própria rua as referências que iriam incorporar à obra.

Hoje consagrados, com trabalhos realizados em mais de 35 países, OSGEMEOS têm participado de eventos tão impactantes quanto a exibição, ao longo do mês de agosto de 2015, de um vídeo com personagens seus em todos os painéis luminosos da Times Square, em Nova York. Ou o painel de 25 metros de altura que pintaram em Londres, compartilhando a fachada do Tate Modern Museum com cinco outros artistas de rua: Nunca (São Paulo, Brasil), Blu (Bolonha, Itália), Faile (Nova York, Estados Unidos), JR (Paris, França) e Sixeart (Barcelona, Espanha). Sua pintura mais recente, finalizada em 21 de junho de 2017, é um mural de 21 metros de altura e 12 de largura, na rua Fiskargatan, número 8, em Estocolmo, Suécia.

Quarentões, reconhecidos pela crítica, assimilados pela mídia e com uma agenda internacional lotada, Gustavo e Otávio não perderam contato com a arte viva, produzida e exibida nas ruas de São Paulo. “Os jovens grafiteiros atuais encontram neles uma referência muito importante. Tive a oportunidade de vê-los trabalhar, ombro a ombro, com vários integrantes dessa geração mais nova, concebendo e fazendo juntos, sem nenhuma distância, com total disponibilidade”, disse Portela.

Sem a beleza natural da orla do Rio de Janeiro, nem a beleza arquitetônica do centro histórico de Salvador, São Paulo descobriu na diversidade cultural o trunfo definidor de sua fisionomia. Essa descoberta, uma aquisição dos anos recentes, trouxe para a Avenida Paulista a produção poética, musical e performática das periferias. E transformou os grandes muros em suportes de uma pintura heterogênea, que irrita alguns, instiga outros, mas não deixa ninguém indiferente. 

Agência Fapesp




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