Evento celebra conquistas dos estudantes indígenas na UFMT

Os estudantes indígenas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com o apoio do Programa de Inclusão Indígena (Proind), promovem até sexta-feira (20), no Auditório II do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), a I Semana Indígena da UFMT.

Com o tema central “(Re)Existência Indígena no espaço acadêmico”, o evento objetiva celebrar o mês, que simultaneamente destaca os indígenas e também os 299 anos de Cuiabá, lembrando a trajetória dos estudantes indígenas na Universidade, bem como suas conquistas e desafios.

Durante a cerimônia de abertura, ocorrida na manhã desta quarta-feira (18), uma das coordenadoras da Semana, Adriana Uleiro Kavopi, da etnia Kurâ-Bakairi, mestranda em Antropologia Social, falou sobre o significado desse evento ser idealizado e organizado pelos estudantes indígenas. “É a primeira vez que nós estamos falando de nós mesmos e não outros falando por nós. Geralmente somos chamados para dançar ou nos mostrar como elementos exóticos, mas não para falarmos. Esse evento é importante porque nós estamos tendo a oportunidade de nos apresentar enquanto sujeitos e não como objetos de contemplação”, pontuou a estudante.

A coordenadora do Proind, professora Carmem Lúcia da Silva, destacou a relevância desse evento para ampliar a discussão e conferir visibilidade às identidades indígenas. “Neste momento, buscamos desconstruir a ideia de um índio genérico, de que são todos iguais e fazem as mesmas coisas, de um índio caricato e exótico. Eles estão assumindo um protagonismo neste espaço acadêmico, e estão tendo a oportunidade de mostrar quem eles são e o que eles estão fazendo”, acrescentou.

Desde a criação do programa em 2007, mais de 40 pessoas, de diversas etnias indígenas de Mato Grosso, concluíram os cursos de graduação. Atualmente, cerca de 19 estudantes vinculados ao Programa estão na Graduação e seis estudantes indígenas estão vinculados a programas de pós-graduação stricto sensu na UFMT. Conforme a coordenadora, a maioria dos egressos estão atuando em suas áreas de formação, geralmente em sua comunidade de origem ou realizando trabalhos que tenham relação com questões indígenas.

Entre os pós-graduandos está o mestrando em Direito, Libério Uiagumeareu, da Etnia Boé-Bororo. Ele pesquisa as questões que dizem respeito a direito indígena e ambiental. “O Proind foi importante não só para minha formação, como também para a comunidade de origem, porque de alguma forma ela acaba sendo beneficiada com a formação de seus membros. E o evento é importante pelo pioneirismo de ser idealizado e organizado totalmente por estudantes indígenas”, ressaltou.

Maria Elizandra Torekureuda, também da Etnia Boé-Bororo, graduada em psicologia pela UFMT, é mestranda em Antropologia. Ela pesquisa sobre saúde mental do povo indígena. “O problema que encontrei, quando se trata de saúde indígena, é que o indivíduo é visto como uma coisa só: corpo e mente. É colocado no mesmo ‘pacote’. Eu pretendo mostrar como o próprio índio vê essa questão e propor políticas públicas de saúde que considere também e dimensão mental, mostrando a necessidade de o sujeito ser considerado, quando o assunto for saúde, em todas as dimensões e não como uma coisa só”, explica a pesquisadora.

A programação segue com debates, exposições, mesas redondas, palestras e apresentações culturais. Na tarde desta quarta-feira (18), uma mesa redonda discute possibilidades e desafios dos estudantes indígenas na UFMT. Na quinta-feira (19), o assunto será o “Protagonismo da Mulher Indígena”. Esse debate contará com a participação da professora Francisca Novantino de Ângelo Pareci, doutora em Antropologia Social, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Na sexta-feira (20), às 8h30, haverá uma mesa-redonda, na qual será discutida a questão territorial e os povos indígenas do Brasil, com a participação da Graduanda em Enfermagem, Débora Tan Huare (Umutina); do geógrafo pela UFMT, Edmar Rodrigues Roaribo Kajejeu (Boe-Bororo); do graduando em Ciências Sociais, Eric Timóteo Iwyraka Kamikiawa (Kurâ-Bakairi); e do graduando em Administração, Eder kamainepa (Umutina).

Confira a programação completa do evento.