Cuiabá | MT 26/04/2024
Rodrigo Vargas
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Sexta, 08 de maio de 2015, 15h26

O risco de decidir

O escritor argentino Jorge Luis Borges certa vez escreveu uma fábula sobre cartógrafos que, de tão empenhados em produzir mapas mais e mais detalhados, acabavam por produzir peças com o exato tamanho das localidades que se dispunham a descrever. Documentos tão completos quanto inúteis.

Governador de Mato Grosso há cinco meses, Pedro Taques optou por um caminho inatacável: passar o Estado a limpo, auditando contas, contratos, convênios e dívidas. O remédio, porém, parece estar chegando àquela dosagem em que começa a virar veneno.
A realidade não cabe inteira em relatórios e auditorias. Por mais que o sujeito se prepare, o momento crucial entre o sim e o não, entre a esquerda e a direita, sempre virá envolto em uma nuvem de incerteza.

Nas nossas vidas, muitos dos momentos mais importantes não são definidos na calculadora. Casamento e filhos, por mais que tenham sido desejados e planejados, serão sempre passos dados na penumbra.

Não é por outro motivo que a sabedoria popular recomenda não se debruçar demasiadamente sobre os prós e contras de colocar uma aliança no dedo de alguém ou de se lançar no mundo das fraldas e mamadeiras: se pensar demais, você simplesmente não sai do lugar.

Só isto que explica que, quando confrontado com a situação de abandono vivida na Arena Pantanal, o governador tenha se apresentado em rede nacional como um mero espectador da degradação de um patrimônio público.

Era como se medidas como coleta de lixo, policiamento e jardinagem dependessem de discussões de filigranas contratuais com empreiteiros.

Mesmo que depois tenha sido anunciada a recuperação “emergencial” do entorno do Estádio, a entrevista foi sintomática de um governo que, talvez por excesso de preparativos, tenha dificuldades para saber em que direção seguir.

Para citar outro exemplo, lá se vão três meses desde que o governo divulgou seu diagnóstico definitivo sobre a obra do VLT. Alguém sabe dizer o que será feito? Qual caminho o governo defende?

Decidir sempre será um ato de ousadia. Eu entendo que, quando se trata de dinheiro público, todo o cuidado é pouco. Se o que o governador busca é apenas um pouco mais de segurança, ninguém poderá contestá-lo.

Se o que Taques persegue é a certeza absoluta, a infalibilidade, corre o risco de acabar afogado em um mar de diagnósticos e relatórios. Documentos tão detalhados e inúteis quanto os mapas dos cartógrafos de Borges.

Rodrigo Vargas é jornalista em Cuiabá e repórter do jornal Diário de Cuiabá E-mail: rodrigovargas.cba@gmail.com
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