Cuiabá | MT 26/04/2024
Maurício Romão
Bd61d3bf6120c9f8c5f854cb6cdeacd8
Quarta, 17 de fevereiro de 2016, 15h20

A CPMF como tapa-buraco

Quando a CPMF foi criada em 1997 seus defensores enalteciam o caráter provisório da contribuição, o baixo percentual da alíquota (0,20%), a nobre destinação de seus resultados (saúde), e suas vantagens operacionais: tributo simples, não declaratório, de difícil sonegação, proporcional à movimentação financeira do contribuinte e de baixo custo (usa a rede bancária).

Quando foi extinta em 2007, havia sido prorrogada quatro vezes, a alíquota quase dobrou, ficando em 0,38%, da destinação original à saúde passou pela previdência e fundo de combate à pobreza, afetou atividades que tinham vários elos na cadeia produtiva (pois é um tributo em cascata, cumulativo), estimulou a desintermediação financeira, já que incentivava a informalidade fiscal e, naturalmente, onerou o custo dos empréstimos bancários para pessoas físicas e jurídicas.

O resultado final do tributo ao setor público em termos de eficácia e retorno social não se sabe direito, exceto que enquanto vigeu injetou R$ 222 bilhões nos cofres do governo.

Atolada numa dívida pública recorde de 66.2% do PIB em 2015 (só o déficit nominal do ano foi de R$ 111,2 bilhões), fruto da irresponsável licenciosidade fiscal do seu primeiro governo, a presidente Dilma Rousseff insiste em recriar o malfadado imposto com o objetivo de arrecadar R$ 10 bilhões para ajudar a tapar o buraco do orçamento de 2016.

Por que ao invés do imposto não fazer revisão dos 70 tipos de desonerações fiscais alastrados por vários setores da economia, a maioria sem controle sobre os resultados obtidos, e que devem acarretar perda de receita em 2016 equivalente a 26 CPMF?

Por que não diminuir os gastos governamentais para mostrar capacidade de estabilizar a trajetória da dívida, desmontando a engrenagem circular (aumento do déficit nominal, aumento do risco-Brasil, aumento do dólar, aumento da inflação, aumento dos juros, aumento da dívida, aumento do déficit nominal...) que gerou pagamento de juros em 2015 de nada menos que R$ 501,8 bilhões, cerca de 8,5% do PIB?

A recriação da CPMF eleva, por definição, a carga tributária brasileira (nos arredores de 35%do PIB). Mas o problema não reside aí.

Dinamarca e Noruega têm duas das maiores cargas tributárias do mundo (45,2% e 42,8% do PIB, respectivamente), mas, em compensação, desfilam elevadíssimos índices de desenvolvimento humano (proxy para políticas públicas de qualidade). A questão, portanto, não é o peso do tributo, mas seu retorno à sociedade, a qualidade de sua destinação que, no presente caso brasileiro...

A população poderia até aceitar a volta da CPMF, desde que no bojo de agendas de retomada de crescimento no curto prazo e de reformas estruturais no médio prazo (previdenciária, tributária, trabalhista e política). Quer dizer, embutida em um projeto de desenvolvimento sustentável para o país. Mas não desse jeito, apenas para tapar buraco!

Maurício Costa Romão é Master e Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, sendo autor de livros e de publicações em periódicos nacionais e internacionais. Presidiu a Associação Nacional de Centros de Pós-graduação em Economia (ANPEC) e foi diretor da Sociedade Brasileira de Econometria. Atuou como consultor da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), membro da Comissão de Especialistas de Economia do Ministério da Educação e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), bem como membro do Comitê Assessor de Economia desse órgão. ---------------------------------------------------------- Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. mauricio-romao@uol.com.br http://mauricioromao.blog.br/sobre/

Busca



Enquete

O Governo de MT começou a implantar o BRT entre VG e Cuiabá. Na sua opinião:

Será mais prático que o VLT
Vai resolver o problema do transporte público.
É uma alternativa temporaria.
  Resultado
Facebook Twitter Google+ RSS
Logo_azado

Plantão News.com.br - 2009 Todos os Direitos Reservados.

email:redacao@plantaonews.com.br / Fone: (65) 98431-3114