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Saúde
Quarta, 04 de maio de 2011, 23h19

Médico cuiabano faz palestra na China sobre ausência de câncer de mama em índias


O Insitute Gustave Roussy (Paris) incluiu o trabalho do médico cuiabano Guilherme Bezerra no Congresso Mundial de Cancerologia na China, no dia 22 deste mês, onde ele fará palestra sobre os resultados dos seus estudos sobre a ausência do câncer de mama nas índias brasileiras. A pesquisa iniciada na década de 90 serviu como referência para o estudo mais aprofundado dos fatores de desenvolvimento de câncer de mama, que atualmente é a segunda causa de morte, por doença, entre as mulheres, segundo dados da Organização Mundial de Saúde.

Guilherme Bezerra pesquisou com maior acuidade as mulheres da etnia Xavante, na região de Sangradouro em Primavera do Leste, um grupo indígena com menor índice de miscigenação. Curiosamente todos os índios não miscigenados têm o sangue com fator O+. Os primeiros resultados mostraram que havia uma diferença de proteção celular entre as índias, o que exigiu a ampliação da pesquisa de biologia molecular. Foi necessário criar um Protocolo de Cooperação Científica com a Universidade Nova de Lisboa-UNL para a continuidade das investigações médicas. Um dos principais apoiadores desse estudo foi o cientista José Rueff, pesquisador do Departamento de Genética da UNL. O protocolo permitiu o financiamento da pesquisa com mais de $ 1 milhão de euros e também a transferência de material biológico dos indígenas, por ser considerado de propriedade do Governo Brasileiro, que constitucionalmente é o tutor dos índios.

Resultados - A investigação molecular nas índias brasileiras mostrou que o genes identificado por MnSOD, existente na mitocôndria, uma organela à margem do núcleo, que é a responsável pela produção de energia nas células,, apresenta melhor desempenho na antioxidação. “ Isto é, nas índias, esse mecanismo de limpeza é mais intenso” explica Guilherme Bezerra. A mitocôndria é abastecida com substâncias orgânicas como oxigênio e glicose, as quais processam e convertem em energia e a fornece para a célula hospedeira (veja ilustração), que ao final produzem lixos tóxicos. Além de gerar energia a mitocôndria processa a limpeza desses resíduos através desse gene. É provável que as alterações genéticas nucleares, responsáveis pela carcinogênese, aconteçam com escala muito menor nos indígenas, por causa do potente mecanismo de limpeza que elas possuem. É este fato que volta os olhos da ciência, com especial atenção, para a pesquisa realizada em Mato Grosso.

Estudos atuais sobre alterações genéticas que favorecem o desenvolvimento do câncer expõem outro fato para estudos: o câncer de mama é uma das poucas doenças que não sofrem grandes influencias de fatores externos, como, por exemplo, ação de bactéria ou provocada por hábitos inadequados, como o tabagismo e ainda assim é o mais freqüente entre as mulheres e o de próstata entre os homens, com as mesmas características, ou seja, a ausência de conhecimento de causa.

O médico Guilherme Bezerra se tornou um pesquisador conceituado. Atualmente, em parte do tempo, se dedica à chefia e ao atendimento no Departamento de Oncologia do Hospital Santa Rosa e faz a ponte área Brasil-Portugual onde desenvolve a segunda parte da pesquisa.

“Agora nós queremos questionar se esse fator isolado encontrado nas índias brasileiras é suficiente para a proteção contra o câncer de mama”, comenta o pesquisador que vai mostrar no Congresso Mundial de Cancerologia em Dailan, na China sobre esses dados coletados. Para a segunda investigação, em a parceria com a Universidade Nova de Lisboa, cerca de mil mulheres portuguesas, com modo de vida completamente diferente das indígenas, vão receber doses de antioxidantes (polivitamínicos anti-stress) no período de 10 anos. Elas vão ser observadas e passarão por exames periódicos. “A intenção é verificar se os antioxidantes irão reduzir a incidência da doença nesse grupo”.

Os achados genéticos identificados nas pesquisas do cuiabano Guilherme Bezerra prometem repercutir no mundo científico. As pesquisas são patrocinadas pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Européia.

Estatística

No Brasil os casos de câncer, segundo o mastologista Guilherme Bezerra é sub-notificado. Segundo levantamentos do Instituto Nacional do Câncer, em 2010 a estimativa é de 600 mil casos da doença, sendo que 50 mil são câncer de mama, cerca de 9% dos casos, um índice considerado alto. Pelo menos 10 mil mulheres não resistem à doença. A cada dois minutos uma mulher recebe o diagnóstico de câncer de mama no mundo e a cada 13 minutos uma morre em decorrência da doença.

Câncer:
Entenda o comportamento das células

O câncer é uma alteração celular. O primeiro passo para desencadear a doença é a imortalização das células, que ao continuarem a sua reprodução mais acelerada, promovem a tumefação, ou tumoração. Esse mecanismo promove um superpovoamento, com células imaturas e incompetentes para exercer a função às quais estão determinadas no órgão afetado, colocando-o em falência funcional. Os tratamentos como quimioterapia e radioterapia têm como alvo essas estruturas frágeis e velozes. No câncer de mama, segundo estudos, a pré-disposição ou herança genética ocorre em 5% dos casos, por isso as pesquisas são mais constantes para entender a formação e causas da doença. Um dado interessante é a incidência entre as mulheres da terceira idade. De cada oito mulheres com 80 anos, uma tem câncer de mama, mas com baixa agressividade, devido a baixa atividade celular própria da idade.

As mulheres que amamentaram também têm menor probabilidade de adquirir a doença em relação as que não amamentaram. O motivo, segundo estudos é que durante a amamentação há o amadurecimento das glândulas mamárias, tornando as células menos suscetíveis ao desenvolvimento do câncer.

Por isso, quando a mulher amamenta aumenta o número de células maduras, diminuindo as imaturas que servem de substrato preferencial para iniciar a doença. “No entanto, não podemos pensar que a amamentação impede o surgimento do câncer, porque mesmo amamentando ainda assim algumas células primordiais permanecem nas mamas” alerta o mastologista Guilherme Bezerra.

 

 

Esquema mostrando as mitocôndrias, um dos componentes de uma célula animal comum (organelas):
(1) nucléolo
(2) núcleo
(3) ribossomos (pontos pequenos)
(4) vesícula
(5) retículo endoplasmático rugoso
(6) complexo de golgi
(7) Citoesqueleto
(8) retículo endoplasmático liso
(9) mitocôndria
(10) vacúolo
(11) citoplasma
(12) lisossomo
(13) centríolos dentro do centrossoma




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