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Nacional
Domingo, 13 de novembro de 2011, 20h27

Moradores da Rocinha temem volta do tráfico após Copa 2014


Apesar do aparente clima de tranquilidade, a tensão acerca da eminente pacificação pode ser observada no rosto de cada morador da Rocinha. A maioria dos moradores ouvidos pela reportagem tem medo que o tráfico de drogas volte a dominar a região após a realização dos grandes eventos esportivos que se aproximam, a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

"É claro que eu tenho medo que o tráfico volte para a Rocinha. Moro aqui há 28 anos e não tenho qualquer motivo para confiar no poder público. Só vamos ter a certeza de que essas UPPs são realmente uma solução para acabar com o tráfico depois da Copa e das Olimpíadas", afirma um morador da Vila Labouriaux, no alto do morro, que pede para não ser identificado.

A lei do silêncio que imperava na favela quando o narcotráfico tinha o controle territorial da Rocinha ainda dá sinais. A cada cinco moradores abordados pela reportagem, pelo menos três se recusavam a dar entrevista. No entanto, muitos cidadãos entendem que a pacificação proporciona justamente a conquista de uma liberdade de expressão que jamais existiu na comunidade.

"Sim, agora nós podemos falar. É importante que a favela saiba que muitos bandidos continuarão escondidos aqui depois que o circo pegar fogo. Mas chega de silêncio, temos que mostrar para vocês os problemas que nós temos aqui, e cobrar do governo não só segurança. Queremos dignidade", afirma a dona de casa Maria do Rosário, 47, que também apresenta preocupações em relação ao período pós-2016.

"Eu não sei nem se estarei viva, mas será que meus filhos e netos vão ver a UPP aqui depois da Copa e das Olimpíadas? Isso vale não só para a Rocinha, mas todas as grandes favelas, como o Alemão e a Mangueira. É mito cedo para dizer qualquer coisa", disse ela.

Já o porteiro Ademir Pereira, 39, que veio de Sergipe há oito anos e está morando na Rocinha há quatro, considera a pacificação da comunidade uma oportunidade de crescimento individual para cada um dos quase 60 mil habitantes da favela.

Segundo ele, a retomada do território pelo poder público leva para a região não só a presença permanente das forças policiais, mas uma série de investimentos, empresas, obras de infraestrutura, entre outros benefícios.

"Você viu o que aconteceu no Complexo do Alemão? Fizeram escola, creche, hospital, teleférico. O governo está vendo só agora que as favelas aqui do Rio são ótimas oportunidades de negócio, e depois que a polícia invade, muitas empresas também passam a olhar com mais atenção. Eu acho que a Rocinha só tem a ganhar com a pacificação", disse.

A ocupação
A Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro colocará em prática na madrugada deste domingo (13) o planejamento de instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na favela da Rocinha, em São Conrado, bairro da zona sul da capital fluminense. Mais de 150 agentes das polícias Civil, Militar e Federal, além de fuzileiros navais operando blindados da Marinha, vão participar da ocupação.

A operação deve começar com incursões dos homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) em busca de traficantes que permanecem escondidos na favela. Enquanto isso, policiais militares do Choque e dos batalhões da região ficarão no entorno da comunidade, ocupando os acessos. A comunidade está cercada há dois dias com o objetivo de evitar a fuga de traficantes durante a operação. O ex-chefe do crime organizado no local, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, foi preso na quinta-feira (10).

Conforme o Bope vier a avançar pelas ruas, becos e vielas da Rocinha, agentes das polícias Civil e Federal realizarão ações específicas --em busca de traficantes, armas e drogas-- coordenadas pelo setor de inteligência da Secretaria de Segurança.

Já a Marinha disponibilizará blindados do tipo Clanf (ou "Lagarto Anfíbio"), M-113 e Piranha, todos operados por fuzileiros navais, que podem ser utilizados para remover possíveis barricadas instalados pelos traficantes, ocupar acessos, auxiliar no controle do tráfego na região, entre outras funcionalidades. O Exército, por sua vez, não confirmou se participará da ocupação.

A pacificação da Rocinha, que já foi conhecida como a maior favela da América Latina (chegou a ter mais de 200 mil habitantes na década de 80), é tida como um passo fundamental do governo do Estado na área de segurança pública.

Única comunidade da zona sul que ainda não tinha recebido uma UPP, a favela situada no Morro Dois Irmãos está localizada entre dois dos bairros mais nobres da capital fluminense: São Conrado e Gávea. Tal região possui um grande potencial turístico, e está na rota de investimentos visando à Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

A estratégia da Secretaria de Segurança também desarticula uma das facções criminosas atuantes no contexto do narcotráfico fluminense, os Amigos dos Amigos (ADA), que tinha na Rocinha o seu principal reduto e na figura de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, o seu grande líder.

A UPP da Rocinha será a 19ª em toda a capital fluminense. O processo de pacificação, que começou pela comunidade do Santa Marta, em Botafogo, há três anos, e foi inspirado no modelo de segurança pública desenvolvido pelo governo de Medellín, na Colômbia, para acabar com os carteis de drogas, é um dos principais trunfos políticos do governo do Estado. 




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