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Sábado, 01 de janeiro de 2005, 00h00

Tensão entre latifundios e povoados é tema de estudo


Fazendas com suas cercas e instalações de grandes empreendimentos empresariais estão interferindo e ameaçando a sustentabilidade das comunidades do pantanal na sua forma de organização social e de produção tradicional.

A partir de um estudo de caso, realizado no distrito de São Pedro de Joselândia, localizado no município de Barão de Melgaço, pesquisadores do Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP) identificaram tensões latentes entre o povoado e as fazendas e os empreendimentos comerciais instalados na região.

Um exemplo desse conflito é a dificuldade dos moradores no manejo do gado, principal atividade econômica dos pantaneiros, e da pressão em um determinado espaço para a formação de roças e hortas, estas unidades de produção complementares.

“Este ano, na festa tradicional de São Pedro - um espaço onde as comunidades se inter-relacionam e seus filhos retornam da cidade para participar desta cerimônia - o milho, o arroz, a mandioca e até a carne usados no festejo tiveram de ser comprados devido à inviabilidade de se produzir a roça e criar o gado por inúmeras situações”, observou a coordenadora do Workshop “Populações tradicionais: Metodologia de Avaliação” professora Sueli Pereira Castro.

Segundo a coordenadora, a roça foi desestimulada por causa dos ataques de animais, cuja caça está proibida. E sem condições de manejar o gado às terras firmes na época das cheias, em função delas estarem ocupadas pelas propriedades privadas. A maioria dos nativos optou em vender os animais, mesmo a um preço muito baixo.

Para o professor titular da Universidade de Brasília (UnB), Klaas Woortmann, ministrante do grupo de trabalho (GT) “Populações tradicionais e seus saberes”, o problema é que o pantanal é visto apenas pela sua diversidade animal e vegetal, as populações tradicionais são esquecidas ou ignoradas das discussões de preservação ou conservação ambiental.

“Não se trata apenas da chegada do progresso, mas de como ele interfere na dinâmica da organização social e de produção. É por meio do modelo interno que esses grupos informam suas culturas e suas identidades. Não que, por isso, sejam refratários das inovações. Porém, não se pode deslegitimar seus saberes e seus conhecimentos”, frisou o cientista.

O pesquisador Roberto Almeida, que estudou o espaço produtivo da comunidade, verificou que ela perdeu um de seus três territórios utilizados na dinâmica produtiva, suficiente para alterar a sistemática e, em longo prazo, inviabilizar o uso da terra para fins de subsistência.

“A comunidade mantinha uma sistemática produtiva de em três territórios que se alteravam conforme o processo natural da região: a área firme (com vários ambientes), cambarazal (intermediária) e o pantanal (alagado). Os camponeses perderam o firme, passaram a pressionar o cambarazal com roça e ampliação do pasto para o gado. Essa área vai se desgastar com o tempo, pois não se renova”, explicou o cientista.

Almeida afirma que a pesquisa e as discussões são apenas contribuições que podem ajudar a buscar soluções de sobrevivência dessas comunidades, porém, a solução tem que partir dos próprios grupos sociais da região.

“A solução ideal seria recuperar o território perdido. Porém, não sendo possível essa estratégia, é necessária uma negociação entre os atores, a resposta eles que têm de encontrar e se adaptar para se manter nos seus espaços”, afirmou Roberto Almeida.

O distrito de Joselândia contava em 2000 (último senso do IBGE) haviam cerca de 2.483 habitantes existentes em 592 domicílios. É constituído pelas seguintes comunidades rurais: a sede São Pedro, Mocambo, Pimenteira, Retiro São Bento, Colônia Santa Isabel, Capoeirinha e Lagoa do Algodão.


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