Cuiabá | MT 20/05/2024
Gabriel Novis Neves
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Sexta, 14 de outubro de 2011, 10h03

Crack.

Há dias, aproveitando uma manhã de domingo, percorri de carro os principais pontos da cidade onde “moram” os dependentes químicos do crack.

Fiquei impressionado com o número de jovens, de ambos os sexos, acendendo o cachimbinho da droga.

Tudo na mais absoluta tranquilidade, diante da ausência do poder público e a da indiferença da sociedade.

A droga também foi banalizada.

Esses jovens são praticamente crianças que, apesar de possuírem, com certeza, uma mãe, estas se sentem impotentes frente a essa destruidora doença.

Maltrapilhos, mal alimentados, envelhecidos, são mortos andando sem assustar a nossa alienada sociedade, já que o poder público, geneticamente, é.

As imagens produzidas pelos clarões dos cachimbos acendendo a pedra mortal, dificilmente esquecerei.

Sinto-me impotente diante de tanta crueldade, pois essas crianças-adolescentes estão doentes, sem assistência médica e social, em um Estado riquíssimo.

Somos os maiores produtores de alimentos do mundo e de menores abandonados, o que é, no mínimo, uma incoerência.

No papel consta que temos algumas casas de reabilitação desses doentes, mas na verdade, elas funcionam mais como um depósito de dependentes.
Falta o essencial, que é gente habilitada para atender este tipo de paciente, outrora considerado marginal.

Uma luz está surgindo no final do túnel. A nossa professora-doutora em saúde mental de dependentes químicos - Delma Souza -, conseguiu incluir a nossa UFMT entre as 44 instituições no Brasil que cuidarão da formação de equipes multidisciplinares para cuidar desses pacientes nos PSF, Policlínicas, ambulatórios e casas de atendimento aos mais graves.

Sem gente esclarecida e preparada não se faz nada.

Com competência a nossa professora, que é oriunda do curso de Serviço Social da UFMT, e agora, uma das responsáveis pela pós-graduação, trouxe para a academia a discussão esse tema tão atual.

Pela proximidade com um dos países exportadores dessa droga que mata, é elevado o número de dependentes químicos no nosso Estado.

O pior é que funcionamos como corredor de entrada do pó maldito no Brasil para exportação.

Além do crack, as camadas com menos recursos financeiros conheceram, na cracolândia paulistana, um produto mais barato e mais agressivo à saúde, que é o oxi, derivado da cocaína.

A cocaína é absorvida pela mucosa nasal. O crack, oxi e a pasta básica são consumidos pela aspiração no cachimbo. As drogas inaladas pela fumaça são as mais letais e as mais consumidas no nosso Estado.

O oxi é fabricado a partir do querosene e cal virgem, para redução dos seus preços no mercado das drogas.

A dependência química é uma doença, e não, safadeza - além de ser motivo de grande sofrimento familiar.

A nossa professora Delma da UFMT encarou o desafio de, pelo menos, minorar o sofrimento de tanta gente em nosso Estado, propondo a formação de equipes multidisciplinares para enfrentar esse terrível problema.

Acredito que o caminho seja esse: formar gente. Depois, prédios com placas dos pedreiros eleitoreiros.

Parabéns, professora Delma, pela iniciativa! E parabéns também à nossa UFMT, que nasceu sem o DNA da enganação! 

Gabriel Novis Neves é mèdico em Cuiabá e ex-reitor da UFMT
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